Lisboa: Exposição na Hemeroteca Municipal assinala 50 anos da fundação da revista «O Tempo e o Modo»

Publicação de inspiração católica abriu-se a não católicos e agnósticos «para abalar muitos anos de apatia e descrença»

Lisboa, 31 jan 2013 (Ecclesia) – A Hemeroteca Municipal de Lisboa apresenta até 16 de março uma mostra bibliográfica dedicada aos 50 anos da fundação da revista ‘O Tempo e Modo’, resultante de um projeto assumido por cinco personalidades católicas.

“Inquietos, inconformados, dispostos a intervir, a transformar, a contestar” António Alçada Batista, João Bénard da Costa, Pedro Tamen, Nuno de Bragança, Alberto Vaz da Silva e Mário Murteira “sabiam que a mudança de mentalidades começaria pela abertura da revista a outros colaboradores católicos e também não católicos e a agnósticos, ampliando vozes e expressões”, refere a página da Hemeroteca.

A revista viria a acolher as colaborações Mário Soares, Salgado Zenha, Francisco Lino Neto, Adérito Sedas Nunes, Jorge Sampaio, Manuel de Lucena, Manuel dos Santos Loureiro, Mário Sottomayor Cardia, Vasco Pulido Valente e João Cravinho, entre outras.

No editorial do primeiro número, publicado em janeiro de 1963, é sublinhado que se deve ver “com ousadia se as relações dos homens uns com os outros se processam efetivamente em coordenadas de verdade e de justiça, ou, se, uma e outra, se encontram gravemente comprometidas através de formas diversas de opressão, latente ou organizada, do corpo ou do espírito”.

Portugal vivia então sob o regime ditatorial de Salazar e estava envolvido na guerra contra movimentos independentistas que dois anos tinham começado a manifestar-se nas colónias africanas, enquadramento que se manteve até 25 de abril de 1974, quando a ‘Revolução dos Cravos’ marcou o início da transição para a democracia e a descolonização.

A equipa do ‘Tempo e o Modo’ assumia a isenção “de qualquer confessionalismo ou partidarismo político concreto” e propunha-se “estudar com atenção crítica todas as formas de regressão e entrave” ao “progressivo desenvolvimento, quer no que se refere à organização e governo da cidade, quer ao contexto sociológico, libertador ou opressivo, das expressões religiosas, culturais e económicas”.

“Gostaríamos que um pensamento orientado para preocupações este tipo fosse suficientemente forte para abalar muitos anos de apatia e descrença; suficientemente honesto para poder merecer alguma confiança; suficientemente humano e verdadeiro para poder unir aqueles a quem o homem e a verdade preocupam; suficientemente convincente para poder despertar alguma esperança”, lê-se no editorial.

‘Notas sobre a Perturbação de certas Sociedades Contemporâneas’, de António Alçada Batista, ‘Em Torno da Universidade’, de Jorge Sampaio e Jorge Santos, ‘Oliveira Martins e a Questão do Regime’, de Mário Soares, ‘O Paradoxo Político’, de Paul Ricoeur, e ‘Poesia e Arte Poética em Herberto Helder’, de Ruy Belo, constituíam alguns dos artigos da edição inaugural.

O primeiro número incluía ainda um texto sobre Concílio Vaticano II (1962-1965), o “Noticiário Crítico” e a secção “Artes e Letras”.

As dificuldades financeiras levaram a que em 1968 fosse pedida aos leitores a participação na sociedade anónima que poderia salvar a revista, após 56 edições com textos de 300 colaboradores que sobreviveram aos cortes da Censura,

Em 1969 António Alçada Batista deixou a revista e um ano depois João Bénard da Costa concluiu que não havia condições para prosseguir a publicação, assinala o site da Hemeroteca.

RJM

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