Patriarca de Lisboa presidiu à Missa do Dia de Natal na Sé, pedindo uma sociedade que «cuida da vida em todas as suas etapas»

Lisboa, 25 dez 2025 (Ecclesia) – O patriarca de Lisboa alertou hoje para uma cultura de medo e a “corrida ao armamento”, que sinaliza a perda de respeito pela vida humana.
“Sob o brilho de luzes artificiais, esconde-se um inverno da alma. Vemos nações que se devoram, uma corrida ao armamento que denuncia a perda de estima pela vida, e o medo, esse veneno subtil, a infiltrar-se no quotidiano”, afirmou, ma homilia da Missa do Dia de Natal, presidida na Sé Patriarcal,
“O medo do mendigo que nos faz subir o vidro do carro; o medo da religião do outro que nos tenta levar a negar os fundamentos da nossa própria fé; o medo do futuro que paralisa a coragem de gerar vida”, acrescentou, numa intervenção enviada à Agência ECCLESIA.
D. Rui Valério contrastou a luz do nascimento de Jesus com a realidade de um mundo que “parece viver em negação de si mesmo”.
“Jesus assumiu a nossa carne, débil, mortal, precária. Aquilo que hoje se rejeita – o frágil, o pobre, o diferente – foi precisamente o que Deus procurou”, indicou.
A intervenção sublinhou a centralidade da família e a necessidade de proteger a vida humana desde a conceção até à morte natural, destacando que “uma sociedade que não protege a família fecha-se ao futuro”.
“Viver como dom implica cuidar da vida em todas as suas etapas – do início ao fim natural – e assumir a responsabilidade pelas próximas gerações”, advertiu.
Para o patriarca de Lisboa, a resposta cristã passa por “viver como dom”, uma atitude que tem implicações políticas e éticas concretas.
“Finalmente, viver como dom implica cuidar da vida em todas as suas etapas do início ao fim natural e assumir a responsabilidade pelas próximas gerações. Não somos donos do mundo; somos guardadores do tesouro de Deus”, declarou.
O responsável católico defendeu ainda a construção de um modelo social que torne visíveis os mais vulneráveis, contrariando a lógica do descarte.
“Uma sociedade que vive do dom constrói relações, políticas e economias que não descartam; torna visíveis os pobres, os idosos, os doentes, os migrantes; aprende a ternura como linguagem pública”, sustentou.
Dói constatar que, em nome de uma falsa neutralidade ou de um laicismo empobrecido, se banem presépios e se omitem sinais do Natal em escolas e espaços públicos. Quer-se apagar o sinal da ternura para não ‘ofender’, mas o que se consegue é desertificar a esperança.”
Na conclusão da sua intervenção, D. Rui Valério deixou uma mensagem de esperança: “Não temais. Nenhuma treva é tão densa que possa extinguir esta Luz. Onde o mundo vê um fim, Deus vê um começo; onde vemos uma manjedoura pobre, o Céu vê o trono da Salvação”.
A celebração do Natal, que no Cristianismo assinala o nascimento de Jesus, iniciou-se um pouco por todo o mundo na noite anterior ao dia 25 de dezembro, seguindo uma tradição que remonta aos primórdios da Igreja de Roma.
OC
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