Presidente da República visita hoje festa que quer continuar a «ajudar a reconstruir sentidos de vida» dos convidados
Lisboa, 21 dez 2018 (Ecclesia) – O diretor-geral da Comunidade Vida e Paz afirma que a festa de Natal com pessoas em situação de sem-abrigo, que decorre entre o hoje o dia 23 na Cantina da Cidade Universitária, em Lisboa, é acima de tudo um “encontro” e traduz “o espírito de Natal”.
“Temos na nossa missão ir ao encontro das pessoas. É isso que fazemos ao longo do ano e no Natal queremos assinalá-lo de uma forma muito concreta, distribuímos convites às pessoas em situação de sem-abrigo que a partir desse momento passam a ser nossos convidados”, disse Henrique Joaquim em declarações à Agência ECCLESIA.
A Comunidade Vida e Paz vai buscar os seus convidados aos sítios onde se encontrem e recebem-nos “da forma mais digna para gerar esse encontro” e que a partir dai “se gere uma vida mais digna”.
“Interessa conseguir convidar e trazer, que a pessoa aceite o convite, as pessoas que necessitam, proporcionar um momento para tratar das necessidades mais básicas e ao mesmo tempo gerar confiança que permita acreditar que é possível encetar processo novo”, assinala o diretor-geral.
Conviver e celebrar a refeição, no bacalhau tradicional de Natal, são propostas da 30.ª Festa de Natal da Comunidade Vida e Paz que “é muitíssimo mais do que uma refeição”.
Ao longo dos três dias, entre hoje e domingo, 23 de dezembro, os convidados têm, por exemplo, uma área de cidadania onde podem fazer o Cartão de Cidadão na hora, outra para a higiene pessoal, com um barbeiro, vestuário, e um fotógrafo para “a pessoa ver que tem uma imagem tão digna” como a de qualquer outra pessoa e “voltar a acreditar nessa sua imagem, voltar a ter autoestima, amor-próprio.
(Re)inscrição para emprego, requerimento de pensão de sobrevivência, uma área para a saúde com rastreios, vacinação, consultas médicas são outras ofertas na Cantina da Cidade Universitária de Lisboa.
Henrique Joaquim conta que as pessoas recebem o convite “às vezes com surpresa”, porque não há “muito habituado”, outras “já com alegria” e há quem não esconda a desconfiança, porque as pessoas estão “habituadas a múltiplos convites que depois não dão em coisa nenhuma ou em muita pouca coisa”.
“Vêm pessoas com muita expectativa e ai nasce a possibilidade do encontro que o fator chave é a confiança”, realça.
O diretor-geral da Comunidade Vida e Paz adianta que resolver a situação das pessoas que estão na rua “está num caminho que é lento” mas que considera consistente, destacando que “há uma estratégia nacional”.
“É dos poucos problemas sociais em que conseguimos aprovar uma estratégia nacional, o Presidente da República já deu como exemplo para que se crie estratégia de luta contra pobreza. Ainda é possível fazer muito mais, há respostas concretas que faltam no terreno mas temos de evidenciar o caminho que foi feito”, acrescenta.
E o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que é presença assídua na Festa de Natal da Comunidade Vida e Paz este ano não falta e vai hoje, pelas 17h45, à Cantina da Cidade Universitária.
Segundo Henrique Joaquim é preciso “moderar as expectativas” porque a condição de sem-abrigo é a “forma de pobreza mais extrema” que não depende só da vontade, da técnica, mas também “muito da liberdade e do nível de consciência que a pessoa tem”.
“Neste momento, um dos problemas maiores são as situações mais crónicas que acumulam. Não apenas a falta de habitação, que é imediata, mas também as dependências e muitas vezes as doenças do foro mental que nos limitam muito na hora de ajudar a pessoa a discernir ou ter o discernimento mais consciente mas que temos que respeitar”, desenvolveu.
Com voluntários, profissionais e inúmeras entidades que se quiseram associar a 30.ª edição da Festa de Natal começa esta tarde, a partir das 14h00 até às 22h00, este sábado entre as 10h00 e as 22h00, e no último dia, 23 de dezembro, das 10h00 às 20h00.
Em 2017 a festa contou com a presença de 1492 convidados que tiveram o apoio de mais de 1300 voluntários: 757 pessoas na área da saúde, 307 recorreram ao espaço da cidadania, foram servidas mais de 4 mil refeições e, o mais importante, “91 pessoas solicitaram ajuda à equipa técnica da Comunidade Vida e Paz”.
PR/CB