Instituição celebra 45 anos de existência evocando legado da sua fundadora
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Lisboa, 11 jan 2020 (Ecclesia) – O Centro de Reflexão Cristã (CRC) promoveu hoje uma homenagem à a sua fundadora Manuela Silva, falecida em outubro de 2019, dando início à celebração dos 45 anos da sua constituição.
“O que ela nos ensina é que não podemos ficar por palavras: as palavras, os pensamentos têm de ser performativos, têm de transformar a realidade”, disse à Agência ECCLESIA José Leitão, presidente do CRC.
O responsável sustenta que a homenageada deve ser “uma inspiração” para a ação da instituição, nas várias causas a que dedicou a sua vida, “sempre motivada pela sua condição de militante cristã” e de “grande pensadora económica”.
“Há uma linha comum a todo o pensamento: é uma militante cristã que leva a sério essa condição”, indica José Leitão.
No quadro da CRC, recorda, a antiga presidente criou um setor específico para “os estudos sobre a inclusão social e o combate à pobreza”, com atenção ao trabalho pela igualdade entre homens e mulheres.
Quando luta pela igualdade, fá-lo também porque há uma igualdade entre todos nós, que somos à imagem e semelhança de Deus. Há uma identidade de condição”.
José Leitão destaca ainda o trabalho que marcou o final da vida de Manuela Silva, inspirado na encíclica ‘Laudato Si’, do Papa Francisco, na Rede “Cuidar da Casa Comum”
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Na sessão de homenagem marcou presença Carlos Farinha Rodrigues, economista, professor no ISEG e especialista em matéria de desigualdades e pobreza, que recordou uma professora “brilhante”, sua orientadora de mestrado e de tese de doutoramento, “pioneira em muitas áreas, em Portugal”.
“Acima de tudo, aprendi com ela um profundo amor à humanidade e à causa pública, à causa dos outros”, afirma.
Carlos Farinha Rodrigues destaca o legado de “uma vida dedica à sociedade”, uma sociedade mais justa, “onde a pobreza e as desigualdades não façam sentido”.
“Era essencialmente uma cristã empenhada, que seguia claramente os fundamentos da Doutrina Social da Igreja”, procurando, como o Papa Francisco, “uma Economia ao serviço dos homens e mulheres da sociedade”, acrescenta.
O CRC convidou ainda Isabel Allegro de Magalhães, professora catedrática de Literatura Comparada, que conviveu com a homenageada desde 1959, falando de uma vida marcada pela “simplicidade e a alegria nessa frugalidade”.
“O que acho absolutamente marcante na personalidade de Manuela Silva, além da sua competência, da sua preocupação com a pobreza na nossa sociedade e no mundo, é a sua coerência, o facto de as suas escolhas de vida terem sido absolutamente de acordo com aquilo que ela pensava que devia ser o estilo de vida de toda a gente”, disse à Agência ECCLESIA.
A entrevistada sublinha ainda a ação de Manuela Silva na promoção da “igualdade a todos os níveis, igualdade de oportunidades, igualdade de responsabilidades e de funções, na Igreja”.
A homenagem de hoje marcou o início das comemorações do 45.º aniversário do CRC, um espaço de diálogo “criado em 1975 por um conjunto de cristãos empenhados numa evangelização libertadora e na libertação do povo português”, que procura “prosseguir hoje de forma renovada a sua ação”.
A economista Manuela Silva, antiga presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), da Igreja Católica em Portugal, faleceu em outubro de 2019, aos 87 anos de idade.
LFS/OC