D. Manuel Clemente, que completa este domingo 75 anos, rejeita ligação com crise de abusos e adianta que processos estão concluídos, apontando à reintegração dos sacerdotes afastados temporariamente
Lisboa, 15 jul 2023 (Ecclesia) – D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa desde 2013, completa este domingo 75 anos de idade, tendo apresentado a sua renúncia ao Papa após o falecimento de D. Daniel Batalha, por considerar que há “urgência” em encontrar o seu sucessor.
“A Diocese de Lisboa está num estado em que precisa, digamos assim, de ser recomposta na sua equipa episcopal”, disse, em entrevista à Agência ECCLESIA.
Sublinhando que a decisão “está absolutamente nas mãos do Santo Padre”, D. Manuel Clemente precisa que teve oportunidade de conversar com o Papa, após a morte do bispo auxiliar de Lisboa D. Daniel Batalha Henriques, em novembro de 2022.
A Diocese de Lisboa tem ainda como auxiliares D. Joaquim Mendes, que também já completou 75 anos de idade, e D. Américo Aguiar, que Francisco vai criar cardeal a 30 de setembro.
“É absolutamente necessário olhar para Lisboa e esse olhar passa, com certeza, por quem tem de reorganizar o serviço episcopal. E não sou eu”, sustenta o patriarca.
D. Manuel Clemente recorda que, no Patriarcado, o ano pastoral começa, geralmente, a 1 de setembro, esperando que até lá haja nomeação do seu sucessor, por ser “uma boa altura para recomeçar, também sem demorar muito”.
“É preciso alguém que reorganize a vida da diocese, em termos episcopais. E que também proponha ao Papa os seus colaboradores”, justifica.
É preciso que haja uma orientação, não se pode ficar um ano à espera daquilo que tem de começar imediatamente”.
Mostrando-se disponível para “o que o Papa entender”, também na sua missão como cardeal, o patriarca observa, no entanto, que face ao atual cenário, Lisboa é “um caso com alguma urgência, porque corre o risco de ficar suspensa e não pode ficar, tem de continuar, certamente com outros protagonistas”.
A entrevista, a respeito do 75.º aniversário do patriarca de Lisboa – idade em que o Direito Canónico determina a apresentação da renúncia do cargo, ao Papa – vai ser transmitida este domingo, pelas 18h10, no Programa ‘70×7’ (RTP2).
D. Manuel Clemente considera que a nomeação cardinalícia de D. Américo Aguiar, presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, “tem muito a ver com o conhecimento direto” que o Papa possui.
“É natural que o tenha escolhido, para colaborador mais próximo, seja em Roma, seja onde for”, acrescenta.
O cardeal-patriarca rejeita que o seu pedido de renúncia esteja ligado à crise provocada pela revelação de casos de abusos sexuais e diz esperar que, após o trabalho da Comissão Independente criada pela Conferência Episcopal Portuguesa, “este exemplo da Igreja sirva para que, em todas as realidades da sociedade, onde há crianças, adolescentes e jovens, se faça da mesma maneira”.
Sublinhando que o projetado memorial de homenagem às vítimas de abusos “não ficará para as calendas gregas”, D. Manuel Clemente recorda que, durante a JMJ, o Papa se vai encontrar com algumas destas pessoas, “muito discretamente”.
“Isso por causa das próprias pessoas, que já foram vitimadas e agora não querem ser publicitadas, naturalmente”, justifica.
Sobre os processos que decorreram no Patriarcado de Lisboa, que tinham levado ao afastamento temporário de quatro sacerdotes, o cardeal indica que só falta a decisão final de Roma.
“Em três há indicação para que as pessoas assumam plenamente as funções que tinham; no outro caso, talvez que assuma parcialmente as funções que tinha”, adianta.
PR/OC