Lisboa: Cardeal-patriarca elogia decisão histórica de Bento XVI

D. José Policarpo diz que renúncia do Papa está no espírito gerado pelo Concílio Vaticano II

Lisboa, 12 fev 2013 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa afirmou hoje que a decisão de Bento XVI de renunciar ao pontificado, anunciada esta segunda-feira, “faz história” e acaba com o “tabu de que o Papa era intocável”.

“É uma decisão de grande lucidez, de grande generosidade”, disse D. José Policarpo, a respeito da resignação de Bento XVI, a primeira na história da Igreja em quase 600 anos.

Segundo o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, os futuros Papas “estarão muito mais livres após este gesto histórico de Bento XVI”, que representa um “momento muito significativo” para a vida da Igreja.

O patriarca de Lisboa elogiou a “lucidez, coragem e humildade” do Papa cessante ao tomar esta decisão e diz que a mesma se insere no espírito de renovação promovido pela última reunião mundial de bispos católicos, que decorreu há 50 anos.

“Até ao Concílio Vaticano II (1962-1965) vivíamos num contexto civil e eclesiástico em que os grandes cargos eram vitalícios: príncipes e reis, superiores gerais das ordens religiosas, os bispos diocesanos”, recordou.

D. José Policarpo diz que, após o Concílio, fica claro que “a pessoa deve estar capaz” de exercer “estes grandes serviços da Igreja”, confessando-se ele próprio “à espera da nomeação do sucessor” na Diocese de Lisboa.

“A disponibilidade para o serviço pode passar também pela renúncia ao cargo que se tem”, acrescentou.

O cardeal português lembrou que Pio XII (Papa entre 1939 e 1958) esteve mais de um mês em coma e evocou o sofrimento físico dos últimos anos de vida de João Paulo II, falecido em 2005.

“Havia uma mentalidade que considerava o Papa uma exceção” à regra da renúncia, indicou o patriarca, para quem “o fim de João Paulo II fez repensar um pouco esta questão”.

Admitindo a delicadeza de ter “um ex-Papa vivo”, uma situação inédita na história recente da Igreja, D. José Policarpo disse confiar em Bento XVI e na sua discrição, antes se sublinhar que “o seu sucessor, se precisar, pode consultá-lo”.

“Acho bem que ele fique no Vaticano”, acrescentou.

O cardeal-patriarca admitiu “surpresa” perante a decisão do Papa, mas considera que assim ele pôde levar “até ao fim a sua decisão”.

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa declarou que, para além da debilidade física visível de Bento XVI, desconhecia “quais foram os aspetos da vida da Igreja e da sociedade que o fizeram sentir, dolorosamente, que já não era capaz”.

Num balanço do atual pontificado, D. José Policarpo recordou o “grande sofrimento da Igreja pelos escândalos do clero e da pedofilia”, aos quais o Papa “reagiu com grande firmeza, grande coragem”.

“Senti no princípio, não sei se foi de propósito, que ele mudou o estilo do papado, nitidamente: João Paulo II era um comunicador, um homem que gostava das multidões, Bento XVI era um homem muito mais discreto”, recordou ainda.

A renúncia do Papa ao pontificado vai levar os cardeais da Igreja Católica a assumir o seu governo, a partir do próximo dia 28, preparando a eleição do sucessor de Bento XVI.

OC

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Agência ECCLESIA

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