Lisboa, 09 out 2018 (Ecclesia) – Cerca de três dezenas de personalidades do mundo cultural e político português reuniram-se esta segunda-feira na Capela do Rato para uma manifestação de apoio ao Papa, com leitura de textos e execução de trechos musicais.
Algumas pessoas, no lugar de perceberem que o Papa “é uma fonte de esperança tentam inquinar as águas”, disse à Agência ECCLESIA o escritor e crítico literário Pedro Mexia.
Segundo o entrevistado, a eleição do Papa Francisco gerou “uma esperança enorme entre católicos e não católicos” e, mesmo numa “sociedade laicizada e numa Igreja em crise”, a voz do pontífice “ainda é ouvida” porque o seu estilo “trouxe um capital de esperança muito grande”.
Falando num Papa “cercado por forças que não querem que essa esperança se concretize”, Pedro Mexia refere que “o último ataque foi concertado” e “foi uma manobra de grande escala e com um grau de irresponsabilidade muito grande”, numa alusão às acusações de encobrimento de abusos sexuais.
Alice Vieira, que esteve também presente nesta sessão, sublinhou à Agência ECCLESIA que o Papa Francisco conseguiu “aglutinar toda a gente” e está “muito perto das pessoas”.
Para a escritora, o Papa “precisa da ajuda das pessoas”, vendo na sessão da Capela do Rato uma “homenagem merecida” para alguém que significa “muito para crentes e não crentes”.
“Ele aproveita todos os momentos para dizer aquilo que deve ser dito” e pede aos cristãos para que “não afastem ninguém da Igreja e saibam acolher”, frisou Alice Vieira.
A iniciativa ‘Com o Papa Francisco – Dizer o seu pensamento a várias vozes’ foi organizada pela escritora Leonor Xavier, que considerou o pontífice como “a grande figura do século XXI”.
Já o jornalista Francisco Sarsfield Cabral considerou que o atual Papa tem mostrado “uma linguagem diferente”.
A viagem a Lampedusa, o alerta constante para a questão dos refugiados e a publicação de vários documentos mostram um “percurso muito coerente, que tem sido, infelizmente, muito atacado dentro da própria Igreja”, observou.
Sarsfield Cabral entende que estes ataques ao Papa se inserem num “movimento de extrema-direita que está a afetar a política mundial”.
“É natural que o ministério do Papa que procura integrar a diversidade do povo de Deus agrade mais a uns do que a outros, o problema é quando a crítica põe em causa o próprio exercício do ministério do Papa”, salientou, por sua vez, o responsável da Capela do Rato, padre António Martins.
O movimento de “oposição ao Papa é minoritário, mas é uma questão que o perturba”, disse à Agência ECCLESIA o padre Peter Stilwell, reitor da Universidade Católica de São José, em Macau.
“Há quem diga que para a Igreja do Ocidente é talvez o maior desafio após a reforma de Lutero”, todavia “há que pensar na maneira de gerir a Igreja, de forma a não se fazerem reformas meramente cosméticas”, acrescentou.
Durante perto de uma hora e meia, personalidades como Alice Vieira, Ana Zanatti, Leonor Beleza, Guilherme Oliveira Martins, Pedro Mexia, Rui Vieira Nery ou Vitorino tomaram a palavra na Capela do Rato para lerem textos do Papa Francisco, incluindo passagens de homilias e discursos e excertos de documentos pontifícios.
O músico e ex-padre Francisco Fanhais encerrou a tarde com uma interpretação de “Utopia”, de José Afonso, e da “Cantata da Paz”, com versos de Sophia de Mello Breyner.
LFS