Lisboa: Capela de São João Baptista revela esplendor

Teresa Freitas Morna, diretora do Museu de São Roque

A Capela de São João Baptista constitui uma das mais mediáticas empresas do reinado de D. João V, o Magnânimo. Monarca interessado em apresentar, através de um plano cultural, a imagem de um estado renovado e requintado que em nada ficava atrás das principais potências europeias da época, promove um vasto programa de encomendas para grandiosos projetos arquitetónicos e obras de arte, entre os quais a Capela de São João Baptista (1).

Considerada uma obra-prima no contexto da arte europeia do século XVIII, a sua construção teve lugar entre 1742 e 1747, obedecendo a um rigoroso programa arquitetónico e estético que incluía, além da capela, projetada por Luigi Vanvitelli e Nicola Salvi, peças de culto e ornamentais do mais puro gosto romano. Contribuíram para a sua construção uma variedade de artistas de diversos ramos de atividade.

A Corte portuguesa seguiu de perto a elaboração do projeto, através de João Frederico Ludovice, ourives e arquiteto natural de Hohenhart que trabalhou em Roma, para a Companhia de Jesus, antes de vir para Portugal.

Sagrada a 15 de dezembro de 1744 pelo Papa Bento XIV, na Igreja de Santo António dos Portugueses, foi ali armada para a celebração da Missa papal em 6 de maio de 1747. Nesse mesmo ano foi desmontada e transportada para Lisboa em três naus, sendo seguidamente montada no espaço da antiga Capela do Espírito Santo da igreja jesuíta de São Roque. O assentamento da capela foi da responsabilidade de Francesco Feliziani e Paolo Riccoli, bem como do escultor Alessandro Giusti (1715-1799), trabalho que ficou concluído em 1752, dois anos após a morte de D. João V.

A sua coleção de ourivesaria é definida como o culminar da arte barroca do ouro e da prata, que atinge um aperfeiçoamento jamais alcançado (2), estando, por esse motivo, na origem da própria criação do Museu de São Roque (1905) e assumindo, uma importância fulcral neste espaço museológico.

Com o decorrer do tempo, as condições ambiente do interior da igreja de São Roque potenciaram a oxidação e escurecimento dos materiais de revestimento que ornamentam a Capela de São João Baptista. A primeira intervenção de conservação nela efetuada foi realizada na segunda metade do século XX, através de trabalhos de limpeza nas paredes e de consolidação de ornatos.

A partir de 2007, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa deu início a um processo de análise rigoroso do estado de conservação dos revestimentos que integram a capela, concedendo prioridade àqueles que se encontravam mais deteriorados, nomeadamente as composições em mosaico.

Estes trabalhos de conservação e restauro da Capela de São João Baptista decorreram entre novembro de 2010 e março de 2012 e integraram-se num cuidado programa de beneficiação dos equipamentos culturais da SCML. O tratamento dos elementos pétreos e metálicos foi realizado por uma equipa coordenada por Belmira Maduro.  Margarida Cavaco foi a responsável pelos trabalhos do estrado do altar, executados pelo Instituto dos Museu e da Conservação, através do Departamento de Conservação e Restauro e com a colaboração científica do Laboratório José Figueiredo. A intervenção nas composições em mosaico foi assegurada por Enrico Montanelli – Conservazione e Restauro de Opere d`Arte e Beni Culturali, sob a coordenação de Carlo Stefano Salerno, do Instituto Centrale per il Restauro di Roma. Nesta intervenção colaborou também o Departamento de Conservação e Restauro da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, sob a orientação científica de Solange Muralha, da Unidade da Investigação VICARTE (Vidro e Cerâmica para as Artes).

A partir de 18 de abril é, então, mostrado ao público o resultado de toda esta rigorosa intervenção, tornando-se obrigatória uma visita quer à Igreja quer ao Museu de São Roque.

Teresa Freitas Morna, diretora do Museu de São Roque

Notas:

1 – António Filipe Pimentel, “A Capela de São João Baptista – política, ideologia e estética”; Teresa Leonor Vale, “Do caráter único da coleção de ourivesaria”; Magda Tassinari, “ A coleção têxtil”, in Museu de São Roque, catálogo da exposição permanente, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Lisboa, 2008. Para este assunto cfr. Maria João Madeira Rodrigues “A Capela de S. João Baptista e as suas coleções, Edições Inapa, Lisboa, 1988  (última monografia dedicada à Capela de São João Baptista).

2-  Jenniger Montagu, Gold, Silver and Bronze. Metal Scupture of the Roman Baroque, New Haven- Londres, Yale University Press, 1996.

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