Lisboa: Auto de São Vicente mostra «impacto» do padroeiro na cultura e na capital portuguesa

Representação faz parte das iniciativas que encerram os 850 anos da chegada das relíquias de São Vicente a Lisboa

Lisboa, 14 jan 2024 (Ecclesia) – São Vicente, padroeiro principal da cidade de Lisboa e da diocese, esteve em destaque, nos dias 12 e 13 de janeiro, na Igreja do Mosteiro de São Vicente, com uma peça de teatro, no âmbito do encerramento das comemorações dos 850 anos da chegada das relíquias do diácono à capital.

A leitura do Auto de São Vicente foi apresentada pelo Teatro Maizum e tem como objetivo mostrar o «impacto que a personagem teve», nomeadamente na cultura da cidade de Lisboa, do século XVI.

“Eu espero que, com estas comemorações, com este ano de atividades, as pessoas saibam mais da história deste santo e da importância que ele teve para Lisboa e para a implementação de Lisboa como capital do país”, afirmou a arquiteta Hélia Silva, do departamento do Património Cultural da Câmara Municipal de Lisboa (CML), em entrevista à Agência ECCLESIA.

A responsável espera que São Vicente “seja um bocadinho menos desconhecido”, um vez que “não é fácil enfrentar Santo António”, dado o impacto que tem na cidade, que fez com que o mártir fosse “ficando um bocadinho de lado”.

O Auto de São Vicente de Afonso de Álvares remonta ao século XVI e retrata a cidade de Lisboa naqueles dias, que é representada em personagem, abordando as tragédias naturais que enfrentava: um terramoto (em 1531), uma peste, além da seca, das más colheitas, da fome e da falta de justiça.

“A própria cidade tem consciência de que é uma cidade muito especial, é uma cidade rica, é uma cidade poderosa, mas que está numa situação difícil e que as suas gentes passam por situações difíceis. Portanto, há este lado da cidade opulenta, mas também há a cidade que se queixa, há uma espécie de queixume”, explica Silvina Pereira, da direção artística.

Na peça de teatro, a figura alegórica de Lisboa convida um cidadão rico para assistir à disputa e depois ao martírio de São Vicente às mãos do romano Daciano, um acontecimento passado no século IV d.C.

Júlio Martín dá a vida ao papel de cidadão e manifesta que a personagem “personifica toda a cidadania, não apenas da época, mas de todos os tempos e agora também”.

O ator aplaude a ideia da CML em recuperar o Auto de São Vicente, considerando “extraordinário” que 500 anos depois se volte ao mesmo espaço para apresentar a história que cruza “o profano com o sagrado”.

A peça de teatro é uma das iniciativas das celebrações dos 850 anos da chegada das relíquias de São Vicente, que se iniciaram em janeiro do ano passado, tendo sido estendidas ao longo de um ano, com o objetivo de dar a conhecer a importância religiosa e histórica do diácono e mártir.

“Acho que foi um ano muito interessante, em que tivemos muitas atividades, que conseguimos trazer várias leituras da importância do São Vicente para Lisboa, seja da parte artística, da parte cultural”, assinalou Hélia Silva.

Hélia Silva
Foto: Agência ECCLESIA/LFS

A arquiteta aborda a importância do padroeiro para a Câmara Municipal de Lisboa “que é o seu símbolo”: “É o símbolo que nós encontramos todos os dias nos candeeiros, nas tampas de esgoto, por toda a cidade, para a Igreja, neste edifício maravilhoso em que estamos, do Mosteiro de São Vicente de Fora, para a Sé, onde estão as relíquias do santo”.

Segundo Prudêncio, um poeta cristão da Antiguidade, os restos mortais de Vicente foram mandados lançar aos pântanos, fora dos muros da cidade, para que fossem devorados por animais, mas os seus restos foram protegidos por corvos, que impediram a profanação do corpo.

“Eu acho que as pessoas já não se recordam, mas as tabernas tinham corvos, que eram os vicentes. Na Sé, no claustro da Sé, havia corvos […] O corvo é uma ave em via de extinção e faz parte deste imaginário da cidade”, revela.

Questionada sobre a presença de São Vicente na cidade de Lisboa, Hélia Silva não tem dúvidas de que é notável que esta é uma figura patente na capital.

“[São Vicente] está bem vivo pela Câmara Municipal de Lisboa, pelo seu símbolo na bandeira, no seu logo, está bem vivo por este edifício que nós estamos, está bem vivo pela Sé, por todo o conhecimento que este ano trouxe desta personagem e desta figura que eu acho extremamente importante para a cidade”, frisou.

As relíquias de São Vicente são ainda custodiadas na Sé de Lisboa e a sua festa é assinalada anualmente a 22 de janeiro.

Neste dia estão agendadas pelo Museu de Lisboa iniciativas que incluem um percurso dedicado à Cidade de São Vicente, com partida do Terreiro do Paço e chegada ao antigo Mosteiro de São Vicente de Fora e uma atividade para famílias, intitulada «São Vicente e os Corvos» que terá lugar à tarde no Palácio Pimenta.

LFS/LJ/PR

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Agência ECCLESIA

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