Francisco recorda encontro privado com vítimas, uma «experiência dolorosa»
Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA, no voo papal
Cidade do Vaticano, 06 ago 2023 (Ecclesia) – O Papa disse hoje que a Igreja Católica em Portugal tem gerido com “seriedade” a crise dos abusos sexuais de menores, recordando o seu encontro com vítimas, na última quarta-feira.
“Sobre a sua pergunta, como vai o processo na Igreja portuguesa, vai bem e com serenidade. Procura-se a seriedade nos casos dos abusados. Os números, às vezes, acabam por ser empolados, pelos comentários, e isso custa-nos sempre, mas a realidade é que está a ser bem conduzido e isso dá-me uma certa tranquilidade”, referiu, no voo de regresso a Roma, em conferência de imprensa.
“Como vocês sabem, de forma muito reservada, recebi um grupo de pessoas que foram abusadas [quinta-feira, na Nunciatura Apostólica], e, como faço sempre nestes casos, dialogamos sobre esta peste, esta tremenda peste, não?”, referiu ainda.
No primeiro dia da sua viagem a Portugal, o Papa recebeu, na Nunciatura Apostólica, um grupo de 13 vítimas de abusos sexuais.
“Falar com pessoas abusadas é uma experiência muito dolorosa, que também me faz bem, não porque me dê gozo escutar, mas porque me ajuda a assumir a responsabilidade desse drama”, declarou esta tarde, em resposta aos jornalistas.
“Diria, a respeito da tua pergunta, que o processo está a ir bem, estou ao corrente de como avançam as coisas, as notícias por aí empolaram-nas, mas as coisas estão a ir bem, quanto isto”, acrescentou.
O Papa reafirmou o princípio da “tolerância zero”.
“Os pastores que, de alguma forma, não assumiram essa responsabilidade, têm de assumir essa irresponsabilidade. Depois ver-se-á de que modo, em cada um deles, mas é muito duro o mundo dos abusos”, concluiu.
Uma Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, designada pela CEP, apresentou a 13 de fevereiro um relatório, no qual validou 512 testemunhos, apontando a um número de 4815 vítimas, entre 1950 e 2022.
Após o final da atividade da CI, a CEP criou o ‘Grupo Vita’, para acompanhar situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal.
Nas respostas aos jornalistas, o Papa retomou a ideia de que, na Igreja, se seguia “mais ou menos, a conduta que se segue atualmente nas famílias e nos bairros”, de encobrir casos de abusos, “até ao escândalo de Boston”, em 2022.
“Aí, a Igreja tomou consciência de que não se podia ir por caminhos aleatórios, mas era preciso pegar no touro pelos cornos. Há dois anos e meio [fevereiro de 2019, ndr] tivemos a reunião dos presidentes das Conferências Episcopais e aí também saíram estatísticas oficiais sobre os abusos. É grave, a situação é muito grave”, lamentou.
Francisco pediu a ajuda dos jornalistas para denunciar o abuso sexual de menores no mundo digital e considerou que um abuso é como “devorar” a vítima, considerando-o pior, por “feri-la e deixá-la viva”.
O Papa recordou que “há outros tipos de abusos que clamam ao céu, como o trabalho infantil, a excisão feminina.
“Há uma cultura do abuso que a humanidade tem de rever e converter-se”, indicou
OC