Francisco deixa mensagem de estímulo a responsáveis portugueses, encerrando primeiro dia de viagem
Lisboa, 02 ago 2023 (Ecclesia) – O Papa disse hoje em Lisboa que a Igreja deve ter “lugar para todos”, falando no Mosteiro dos Jerónimos, perante responsáveis católicos portugueses.
“Na barca da Igreja, deve haver lugar para todos: todos os batizados são chamados a subir para ela e lançar as redes, empenhando-se pessoalmente no anúncio do Evangelho”, referiu Francisco, na homilia da oração de Vésperas a que presidiu esta tarde, perante bispos, membros do clero e Institutos de Vida Consagrada, seminaristas e agentes pastorais.
O pontífice pediu que “todos, todos” sejam envolvidos na vida da Igreja, sem criar “alfândegas”.
“Não transformem a Igreja numa alfândega: ‘aqui entram os justos, os que estão bem, os que estão bem casados, e os outros todos fora’. Não, a Igreja não é isso: justos e pecadores, bons e maus, todos, todos, todos”, insistiu.
Citando Fernando Pessoa pela segunda vez consecutiva, nas duas intervenções – «Para se chegar ao infinito, e julgo que se pode lá chegar, é preciso termos um porto, um só, firme, e partir dali para Indefinido» (Livro do Desassossego» – o pontífice convidou todos a “sonhar a Igreja Portuguesa como um ‘porto seguro’, para quem enfrenta as travessias, os naufrágios e as tempestades da vida”.
A segunda intervenção da viagem a Portugal, mais centrado na vida interna da Igreja, usou a imagem do mar e da pesca – ocupação dos primeiros discípulos de Jesus – para sublinhar a necessidade de “sair da margem das desilusões e do imobilismo”, perante as dificuldades.
A homilia alertou para o que o Papa designou de “funcionários do sagrado”.
“É muito triste quando uma pessoa que se consagrou a Deus se transforma num funcionário”, observou
Com milhares de peregrinos da Jornada Mundial da Juventude a recebê-lo, em Belém, Francisco apontou como exemplo “um jovem lisboeta”, São João de Brito (1647-1693), um dos patronos da JMJ, e a sua missão na Índia, para uma Igreja que consegue “dialogar com todos, tornar compreensível o Evangelho”, mesmo que para isso tenha de “correr o risco dalguma tempestade”.
Como os jovens que aqui vêm, de todo o mundo, para desafiar as ondas gigantes da Nazaré, façamo-nos ao largo também nós sem medo”.
O Papa defendeu uma Igreja “sinodal”, com trabalho em comum, apontando à próxima Assembleia Geral do Sínodo, que decorre em outubro, no Vaticano.
“Podemos olhar para esta situação como uma ocasião para, com fraterno entusiasmo e sã criatividade pastoral, envolver os leigos”, pediu aos padres e consagrados presentes.
Francisco afirmou que os membros da Igreja devem olhar para fora dela, procurando cultivar “um clima de fraternidade construtiva”.
Num discurso em que aludiu à crise provocada pelos “escândalos” na Igreja, o Papa alertou para a perda de “entusiasmo” e de “confiança no futuro”, também na sociedade, marcada pela “precariedade económica, a pobreza de amizade social, a falta de esperança”.
A homilia destacou os desafios de “levar o acolhimento do Evangelho a uma sociedade multicultural”, com atenção às situações de precariedade e pobreza, “que crescem sobretudo entre os jovens”.
O Papa foi recebido no Mosteiro dos Jerónimos pelo cardeal-patriarca, D. Manuel Clemente, e o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas.
“Obrigado, Santo Padre, pela sua presença nesta Jornada Mundial da Juventude, a festa da Igreja sempre renovada e jovem, que este ano tem lugar em Lisboa. Esta tarde, rezamos consigo, para que esta convergência de jovens, marcada pelo encontro com Cristo, os leve a entender e sonhar o sonho de Deus e a encontrar caminhos de participação alegre, generosa e transformadora, na Igreja e em toda a humanidade”, disse o presidente da CEP, na sua saudação inicial.
Francisco segue para a Nunciatura, a embaixada da Santa Sé, onde vai pernoitar até domingo, nesta viagem a Lisboa, com passagem por Fátima na manhã de sábado.
OC