Lisboa 2023: «Não há nenhum curso para ensinar-nos a caminhar na vida», disse o Papa aos jovens da JMJ (c/fotos)

Vigília no Parque Tejo reuniu cerca de 1,5 milhões de pessoas

Lisboa, 05 ago 2023 (Ecclesia) – O Papa encontrou-se hoje com cerca de milhão e meio de peregrinos, reunidos pela primeira vez no Parque Tejo, para a vigília da JMJ Lisboa 2023, sublinhando a importância de avançar “sem medo”, na vida.

“Não há nenhum curso para ensinar-nos a caminhar na vida, isso aprende-se com os pais, os avós, os amigos, andando juntos. Na vida aprende-se e isso é treino, no caminho”, declarou, ao falar de improviso, em espanhol, desde o altar-palco especialmente preparado para esta Jornada.

Francisco começou por saudar os jovens, que acorreram ao local ao longo de todo o dia.

“É uma alegria vê-los, obrigado por terem viajado, caminhado e obrigado por estar aqui”, referiu.

Numa cerimónia animada por várias momentos musicais, incluindo uma atuação da fadista Carminho, e por coreografias de dança contemporânea.

A breve reflexão do Papa abordou o tema da JMJ Lisboa 2023, “Maria levantou-se e partiu apressadamente”, uma passagem do Evangelho segundo São Lucas, que relata a visita a Santa Isabel, quando as duas primas se encontravam grávidas.

“Maria vai porque ama, e aquele que ama voa, corre, alegra-se”, precisou Francisco.

“A alegria é missionária, então, tenho de levar essa alegria aos outros”, acrescentou.

O Papa desafiou os jovens que procuram um “sentido bonito” para a vida, nesta JMJ, a “levá-lo aos outros”.

“Todos, se olharmos para trás tivemos pessoas que foram raios de luz, na vida: pais e avós, amigos padres e freiras, catequistas, animadores, professores”, apontou, falando nas “raízes” da alegria de cada um.

Francisco convidou os presentes a fazer um momento de silêncio para pensar em quem lhes deu “algo na vida”.

“Também nós podemos ser raízes de alegria para os outros”, observou, sublinhando que “não se trata de levar uma alegria passageira, uma alegria de momento”.

A alegria não está fechada na biblioteca – embora seja preciso estudar -, está noutro lado, não está guardada a sete chaves. É preciso procurá-la, descobri-la no diálogo com os outros, onde temos de dar as raízes da alegria que recebemos”.

O Papa admitiu que esse esforço “cansa, às vezes”, perguntando aos jovens que “alguma vez se cansaram”, perguntou, procurando respostas da multidão.

“Pensem no que acontece quando alguém está cansado: não tem vontade de fazer nada”, indicou, alertando que quem deixa de caminhar, “cai”

“Pensam que alguém que cai na vida, que tem um fracasso, que comete erros graves, fortes, já está terminada?”, questionou, dirigindo-se à multidão.

“O que é preciso fazer? Não ouço. Levantar-se”, prosseguiu.

Repetindo uma frase tradicional dos Alpes, que tem citado várias vezes no pontificado, o Papa disse: “Na arte de subir, o que interessa não é não cair, mas não permanecer caído”.

“Quem permanece caído, reformou-se da vida, fechou a esperança, clausurou o sonho. E fica caído”, advertiu.

“Quando vemos algum amigo nosso, caído, que temos de fazer? Levantá-lo. Com força! Levantá-lo”, afirmou ainda, pedindo a resposta dos peregrinos.

Francisco sustentou que ajudar a levantar é “o único momento em que é lícito olhar para uma pessoa de cima para baixo”.

“Quantas vezes vemos pessoas que nos olha por cima do ombro, de cima para baixo. É triste”, lamentou.

O Papa apelou a manter a constância em caminhar.

“Na vida, para obter as coisas, é preciso treinar-se no caminho. Às vezes não temos vontade de caminhar, de esforçar-nos, copiamos nos exames”, gracejou.

Francisco usou uma imagem desportiva para desafiar os participantes a cultivar a própria vocação.

“Não sei se alguém gosta de futebol. Eu gosto. Por trás de um golo há muito treino. Depois de um sucesso há muito treino”, declarou.

A intervenção concluiu-se com conselhos práticos para os jovens: “Caminhar. Se cair, levantar-me ou que me ajudem a levantar. E treinar, treinar-me no caminho”.

O Papa recomendou que se caminhe “uma meta, treinando todos os dias na vida”.

“Na vida nada é grátis, tudo se paga. Há apenas uma coisa gratuita, o amor de Jesus”, realçou.

“Com isto, grátis, que temos, o amor de Jesus, e com a vontade de caminhar, andemos na esperança, olhemos para as nossas raízes e sigamos em frente. Sem medo, sem medo, não tenham medo. Obrigado”, concluiu.

Foto: Lusa

A vigília  convidou, na sua proposta artística e espiritual, convidar ao “encontro com Deus”, com a interpretação do ‘Ensemble23’, testemunhos, drones e transmissão nos ecrãs gigantes espalhados ao longo dos 100 hectares do Campo da Graça.

Após a intervençao do Papa teve lugar um momendo de adoração eucarística, acompanhado em silêncio pela multidão, antes da atuação de Carminho, que interpretou a música “Estrela”.

Lisboa recebe desde terça-feira a primeira edição internacional da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em território português, com a presença de centenas de milhares de participantes dos cinco continentes.

Portugal é o 13.º país a acolher este encontro internacional de jovens promovido pela Igreja Católica, sob a presidência do Papa.

Depois de três dias de celebrações no Parque Eduardo VII, além de iniciativas religiosas e culturais em dezenas de espaços públicos, os peregrinos da JMJ seguiram hoje para o Parque Tejo, entre os municípios de Lisboa e Loures, onde vão permanecer até à manhã de domingo.

Após pernoitarem no local, os peregrinos participam na Missa de Envio, presidida pelo Papa; antes de regressar ao Vaticano, concluindo uma visita de cinco dias a Portugal, Francisco encontra-se com os voluntários da JMJ.

Até hoje houve 14 edições internacionais da JMJ – que decorrem de forma alternada com celebrações anuais em cada diocese católica: Roma (1986), Buenos Aires (1987), Santiago de Compostela (1989), Czestochowa (1991), Denver (1993), Manila (1995), Paris (1997), Roma (2000), Toronto (2002), Colónia (2005), Sidney (2008), Madrid (2011), Rio de Janeiro (2013), Cracóvia (2016) e Panamá (2019).

OC

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Agência ECCLESIA

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