António Capela considera que Francisco «estava a pensar nos jovens», no CCB
Lisboa, 24 out 2023 (Ecclesia) – António Capela, professor na AESE Business School, revisitou hoje o discurso do Papa Francisco às autoridades políticas e sociedade civil em Portugal, proferido a 2 de agosto, em Lisboa, que “ficou mais atual” com o “novo conflito” israelo-palestiniano.
“Quando o discurso foi feito no verão já tínhamos, há um ano e meio mais ou menos, o conflito da Ucrânia e da Rússia e, agora, ao surgir este novo conflito terrível e trágico na Palestina com Israel, que é assustador, faz com que este discurso seja mais relevante”, disse o jovem economista, em entrevista à Agência ECCLESIA.
António Capela destaca que o Papa centrou-se “muito no tema da paz” no discurso inaugural da sua segunda visita a Portugal, no Centro Cultural de Belém (CCB), onde desafiou as pessoas “a mudarem, a perceberem que a bondade não é uma fraqueza mas é verdadeiramente uma força”.
“O mais importante é se há perdão, e haver perdão é ter esta bondade que supera o desejo de vingança: a paz exterior começa na paz interior. É um desafio lançado aos dois lados da guerra, a toda a gente”, realçou.
Para o professor na AESE Business School, com pós-graduação em Ciência Política, este discurso onde o Papa referiu-se ao papel de Portugal e da Europa “na construção da paz”, depois do que aconteceu nas últimas semanas com o conflito Israelo-Palestiniano, “mostra como este discurso é cada vez mais atual”, e “como é importante voltar a este discurso”.
António Capela assinala que Francisco fez um elogio à Europa “sobre o progresso”, nas últimas décadas conseguiu-se “um enorme progresso tecnológico”, a condição de vida das pessoas, de uma maneira geral, “avançou muitíssimo” mas esse progresso “não chegou para estes problemas que são comuns, que atravessam a todos, e para estes problemas que são muito antigos, como é a guerra”.
“A verdade é que continua a haver conflitos inaceitáveis, verdadeiras tragédias humanas de mortes de inocentes, muitas vezes num dia morrem centenas de inocentes. E aqui o progresso não chegou, por isso, neste discurso o Papa convida-nos a olhar com espírito que é crítico mas sobretudo renovador a noção do que é que é o progresso”, desenvolveu.
Segundo o economista, se este progresso tecnológico não é acompanhado de “um progresso humano, ético, então é mais perigoso, e não interessa”, e salienta que o Papa lançou neste discurso, “um desafio que atravessa todas as nações e as Nações Unidas também”, é entender o progresso “como algo que está ao serviço das pessoas e não contra as pessoas”.
Francisco aludiu também à assinatura do Tratado de Lisboa, em 2007, para falar do “sonho europeu dum multilateralismo mais amplo do que o mero contexto ocidental”.
O professor na AESE Business School observa que o Papa ao fazer este elogio do Tratado de Lisboa, “da aproximação entre nações, de uma Europa que dialoga”, está a responder e a propor uma alternativa, a dizer que não se caminha “para ter nações mais próximas e dialogantes”, e a sua “a grande originalidade” é propor “a justiça e a verdade” como premissa do diálogo sobre a paz.
“O diálogo sobre a paz não se faz simplesmente juntando pessoas com ideias diferentes, com o cruzamento de coisas diferentes, é preciso interação, é preciso diálogo”, realçou, no Programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP2, onde destacou, neste Dia das Nações Unidas (24 de outubro) que “espaços como a ONU são espaços de diálogo”.
António Capela, o Papa “estava a pensar nos jovens” ao fazer esse discurso no contexto de uma Jornada Mundial da Juventude, e, neste sentido, recordou o convite de Francisco aos jovens para saírem “desta sociedade do comodismo, do conforto”, e perceberem que “é muito mais grandioso uma vida de entrega aos outros, uma vida em saída”.
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