Lisboa 2023: «Ainda temos um mês para fazer caminho» – Afonso Virtuoso

Diretor do ‘Caminho 23’, uma das direções do Comité Organizador Local da JMJ Lisboa 2023, é convidado da Renascença e da Ecclesia, para falar sobre o acolhimento a peregrinos de todo o mundo, na capital portuguesa

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Entrevista conduzida por Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

Quando olhamos para a estrutura do Comité Organizador Local, temos direções de logística, de finanças, de voluntariado, e depois há aqui uma entidade misteriosa chamada caminho 23. Que direção é esta? Qual é o trabalho?

É uma novidade nesta Jornada Mundial da Juventude, por algumas razões. Elencaria duas ou três.

Uma primeira que tem que ver com aquilo a que nós chamamos uma figura que também é nova nesta Jornada Mundial da Juventude, que é a figura do gestor do peregrino.

A ideia é podermos identificar aquilo que são as principais realidades institucionais da Igreja e fora da Igreja com as quais nos podemos relacionar e às quais podemos fazer o convite para participarem da Jornada Mundial da Juventude, e criar esta relação permanente, e personalizada e próxima com cada uma destas realidades. Para sentirem mesmo a Jornada como deles.

Numa fase inicial, uma relação mais institucional com Congregações, Movimentos, Conferências Episcopais, Universidades, mas depois também com muitas realidades institucionais também fora da Igreja. Numa realidade mais próxima da Jornada, este gestor de peregrino tem um papel de maior proximidade e o trabalho e a função do gestor de peregrino é precisamente acompanhar aqueles que são os principais grupos de peregrinos estão inscritos na Jornada. E, portanto, essa essa é a primeira grande figura desta direção, e a sua primeira grande função: Ser gestor de peregrino

que é, no fundo garantir esta relação próxima personalizada, uma cara da jornada para todos os grupos, para todos os grupos de peregrinos. Alguém que se eu tenho um problema contato, sei quem é que é o meu ponto de contato e que me pode ajudar a resolver os problemas. Isso é o primeiro ponto. Depois destacaria outro objetivo deste Caminho 23 que nos relembra que a Jornada não é só uma semana, um evento, mas é também uma preparação e que são importantes os frutos que ficam. Portanto, pretende relembrar-nos para essa necessidade e para essa missão de que a Jornada não seja só uma semana, mas seja verdadeiramente um caminho que exige uma preparação e que cria estruturas e processos que envolvem pessoas e que com isso também já fazem caminho e trabalho, e deixam frutos para futuro.

Por último destacaria a nossa vontade – do Caminho 23 – de chegar a todos. Pelo trabalho, ou por lógicas mais pastorais ou não tanto – por exemplo estivemos presentes em festivais de verão, estivemos presentes na feira do livro, em encontros culturais – ou seja, onde as pessoas e os jovens estão tentamos deixar o convite. Tentamos que a Jornada e o convite para a Jornada cheguem a todos.

 

Um acompanhamento quase personalizado?…

Esse é o objetivo. Se fizermos isso cumprimos a nossa missão.

 

E como se vão organizar os grupos maiores, como os de Espanha, Itália ou França? Há eventos por continente?

A organização depende muito de realidade para realidade. As grandes Conferências Episcopais que vão ter representação em Portugal, sobretudo a espanhola, francesa, italiana, organizam-se por grandes macro grupos. Alguns deles veem centralizados pela Conferência Episcopal, outros por si próprios, mas no fundo sempre nesta lógica de comunhão, pois veem junto. E nesse sentido, na organização dessas lógicas centralizadas de peregrinos, no fundo, tem aqui organizados e pensados por exemplo, no caso dos franceses, italianos, espanhóis, grandes encontros nacionais, em que chamam todos os peregrinos dessa nacionalidade, a grandes encontros e nesses encontros temos momentos ou celebrações eucarística, ou uma própria celebração religiosa ou muitas vezes, por exemplo, em particular no caso dos espanhóis e dos italianos, uma próprio celebração cultural festival música. Portanto, a ideia é criar livremente um momento de encontro que não seja só um momento de celebração religiosa, que também o é e que é na jornada o fundamental, mas depois também tem ali toda parte do Festival da Juventude também naquele encontro nacional.

 

Lembro, sobretudo para quem esteve lá, o que aconteceu com a delegação portuguesa que foi um megaencontro com 10 mil pessoas…

Sim. Aqui estamos a falar de encontros com 50 mil. São dois encontros de 50 mil e outros de 40.

 

E o espaço para isso?

À partida serão no passeio marítimo de Algés, e temos tido uma grande colaboração da Câmara de Oeiras e agradecemos muito. Estamos muito agradecidos a todos aqueles que nos têm ajudado a a fazer estas coisas concretas acontecer.

 

Há cerca de um ano, assumia como objetivos que até agosto não houvesse um único português que não tivesse ouvido falar da JMJ e que houvesse peregrinos de todas as nacionalidades na Jornada. Estamos perto de chegar a essas metas?

Sobre a primeira eu acho se ainda ninguém ouviu falar da Jornada é porque está muito desatento.

Quando queremos fazer coisas grandes, temos sempre desafios, e, portanto, eu acho que atualmente estamos, estamos imbuídos num espírito e clara corrente positiva de conhecer. Acho que já todos tomamos consciência da escala do que é que é falar da organização de uma Jornada Mundial da Juventude, mas sobretudo acho que atualmente as pessoas começam a ter consciência do que é que é Jornada. De que não é só o encontro com o Papa. Esse será o evento central, mas a Jornada é muito mais do que isso. A Jornada acontece nos locais mais diversos nas dioceses de acolhimento. Na realidade aquilo a que nos chamamos as pré-jornadas e os dias na diocese que acontece no Portugal inteiro, provam-nos que a Jornada é mesmo um mundo. E eu acho que é mundo que cada vez mais temos vindo a descobrir. E, portanto, este grande objetivo de chegar a toda a gente, em Portugal penso que está a ser cumprido e queremos continuar a garantir até ao último segundo que não há mesmo ninguém que não se sinta convidado. E àqueles que não poderem vir, que a Jornada vá ter com eles. E queria falar aqui de uma coisa muito concreta que é o gesto missionário. Todos os voluntários da Jornada, na semana anterior ao seu início irão a lares, a centros, às prisões, centros educativos, ou seja, pessoas que não podem vir à Jornada e então a Jornada vai ter com eles, cumprindo este grande desejo missionário que o Papa Francisco tem.

Sobre o segundo desafio, podemos dizer que continuamos à procura de o fechar e faltam-nos as Maldivas. Falta-nos a Maldivas e se nos conseguirem ajudar e se tivermos conhecimento ou contacto de alguém que queira vir das Maldivas à Jornada…

 

E lembremos que o regime político nas Maldivas é muito particular….

Claro e essa tem sido uma das nossas grandes dificuldades. Temos muitas vezes dificuldades financeiras, mas também dificuldades diplomáticas. Mas eu acho que temos feito um trabalho que respeitando todas essas dificuldades tem sido um trabalho de procurar mesmo garantir que conseguimos ter todas as nacionalidades presentes, no sentido de podermos ter aqui peregrinos que experimentam a Jornada e que depois podem levar de volta o que aqui experimentaram e que isso seja também revelador e transformador. Eu não poria o acento tónico no que falta, mas antes na ideia de que já conseguimos muito e já fizemos um caminho incrível. Eu acho que neste momento já temos praticamente todas as nacionalidades inscritas, e fica a faltar este bocadinho, falta esta última etapa. Se nos conseguirem ajudar ótimo. E depois se o Espírito quiser havemos de conseguir. Temos rezado e trabalhado por isso.

 

Em 2019, o cardeal-patriarca destacava a proximidade de Portugal com vários países lusófonos, em África, onde a JMJ nunca teve qualquer edição internacional. Vai haver uma preocupação particular para os peregrinos africanos e com as suas comunidades, em Lisboa?

Sem dúvida nenhuma. E a realidade é que nós fizemos algumas visitas diplomáticas da Jornada para convidar pessoalmente alguns países. Todos os países dos Palop (Países de Língua Oficial Portuguesa) foram visitados e estivemos em todos os países praticamente uma semana a convidar, a ver as diferentes realidades. E mesmo aquelas não poderão vir à jornada; a jornada tentou ir até elas. Portanto, nessa perspetiva fizemos o convite…

 

Os Símbolos peregrinaram em Angola, por exemplo….

Exatamente. Estivemos e estamos a fazer um grande trabalho de proximidade não só pastoral, mas também diplomático, para garantir que todos aqueles que queiram vir possam obviamente vir. Obviamente há dificuldades, há obstáculos que importa ultrapassar e estamos a trabalhar nesse sentido. Queria dar também uma nota. Uma das maiores dificuldades que teríamos aqui neste grande projeto de trazer todas as nacionalidades era o projeto de, nomeadamente conseguir todos os países da Oceânia. E tem sido algo muito interessante. Nós já temos todos os países da Oceânia inscritos. E na altura podemos ter a oportunidade de ir lá à Oceânia lá pessoalmente, convidar numa reunião que estavam representantes de todos os países. E uma coisa que nos disseram depois, quando efetivamente fomos fazendo este trabalho de proximidade de tentar garantir a presença de todos os países, e uma das coisas que nos disseram foi: obrigado pelo trabalho que estão a fazer porque de facto esta coisa de conseguirmos mobilizar todos e fazermos com que as Conferências Episcopais da Oceânia se mobilizassem e ajudarem-se uma às outras era um trabalho pastoral muito difícil, e que nunca tinha acontecido. E disseram-nos que a Jornada de Lisboa foi esta oportunidade de fazer isso acontecer. Eu acho que não é só para a Igreja de Portugal e para o país que a Jornada é boa. A Jornada já tem frutos concretos e que se veem pelo mundo inteiro.

E já agora conto-vos uma história que é muito interessante e é também destas histórias que a Jornada é feita e sobretudo que é com estas histórias que as pessoas se convencem de que a Jornada é mesmo uma coisa boa. Eu quando fui à Oceânia convidar todos os países a virem, a dada altura falava com um bispo que curiosamente se chamava João Bosco e falava-lhe do nosso interesse em que viessem à Jornada, e falava-lhe do projeto Igrejas Irmãs que põe realidades eclesiais, paroquias movimentos, Congregações de Portugal a ajudar peregrinos de nacionalidades que nunca veem à Jornada. Uma ajuda que não é só financeira, mas também pastoral e diplomática. E a dada altura o bispo diz-me: agradecemos imensamente o convite, mas quero contar-te a história de um peregrino, de um jovem da minha diocese que está há um ano e meio em três trabalhos diferentes para poder pagar a passagem para ir à Jornada, e não tem a certeza se depois no final disto tudo o visto vai ser aceite. Nós queixamo-nos tanto e uma pessoa com isto ganha perspetiva e percebe que isto é que é fé. Um individuo está a trabalhar durante ano e meio, a esfolar-se para tentar criar condições para vir à Jornada e fazer esta experiência única e depois não sabe sequer se o visto vai ser aceite. Estas saídas da bolha e aqui a saída de Portugal ajuda-nos a ganhar perspetiva e é uma coisa ótima.

 

Esteve em Roma para preparar o encontro do próximo mês de agosto, na delegação do Comité Organizador Local. Há otimismo em relação à capacidade de resposta de Lisboa? Sentiu esperança?

Sem dúvida, acho que a palavra de ordem é mesmo essa, esperança, sobretudo identificar as razões da nossa esperança. A primeira razão da nossa esperança é que a Jornada Mundial da Juventude – e pode dizer-se o que se quiser – está a ser uma coisa que nos traz muita esperança, temos aqui o Espírito Santo, que é o nosso principal motor. Para nós não há dúvida nenhuma sobre isso. Portanto, isso deixamo-nos muito tranquilos. O Dicastério [Leigos, Família e Vida], a Secretaria de Estado, todos esses intervenientes, o que nos passaram foi essa mensagem de confiança: jornada após jornada, isto vai melhorando. Nós vamos aprendendo com os erros passados, criando ideias. a palavra foi de confiança e foi sobretudo esperança: “não se preocupem, que as dificuldades estão a surgir, mas estamos a conseguir ultrapassá-las. Esperança, porque vem aí uma coisa muito boa”. Por outro lado, este sentido de ter a consciência de que as coisas que estamos a passar, outros já passaram, há este conhecimento acumulado. O que eu senti, verdadeiramente, do lado do Vaticano e do Dicastério, foi esta confiança institucional, mas também esta esta esperança de que vai correr tudo bem e que as coisas estão organizadas.

 

Essa confiança e essa esperança existem ao nível, por exemplo, do acolhimento de peregrinos serem suplantadas de dificuldades que subsistem, nomeadamente no número de famílias de acolhimento?

Acho que, de facto, as famílias de acolhimento são a melhor oportunidade de evangelização que temos na Jornada, é uma coisa ótima da perspetiva do peregrino e da perspetiva das famílias. Mas às vezes colocamos a questão de “só temos”… Não, já temos uma quantidade enorme de famílias de acolhimento. Que outro evento permitiu esta quantidade de famílias de acolhimento?

 

Mas tem havido apelos a que haja mais…

Claro, esse é que é o ponto: nós queremos chegar a todos, um a um. Portanto, enquanto não chegarmos a todos, vamos continuar a apelar. Quem é que numa proposta deste género chegou a tanta gente e conseguiu dar esta oportunidade a tantas famílias de acolhimento, sobretudo, a tantos peregrinos a experiência de estar em famílias de acolhimento? Eu acho que temos de virar, falamos sempre pela negativa, temos de falar pela positiva: já fizemos tanto. Por que continuamos a fazer? Porque queremos chegar a todos e, portanto, quem põe essa bitola, arrisca-se a que depois digam: “não chegaram a todos”. Está bem, mas já chegamos a imensos. Isso é um problema de ser cristão, é que nós apontamos com a seta lá para cima.

 

O que representa a JMJ para a Igreja, em Portugal? É mesmo a maior oportunidade em mais de 100 anos, desde Fátima?

É, eu disse isso… na internet fica tudo registado. Eu acho que sim, depois de Fátima, a Jornada continua a ser a melhor oportunidade e já é, nós temos visto isso. Uma das funções da minha equipe é, precisamente, a lógica da “rede igreja”: a nível nacional, fazer essa relação com as dioceses. O trabalho e os processos têm criado aqui dinâmicas entre as dioceses, tem sido uma coisa muito boa e que, se calhar, nunca tínhamos visto antes. Claro, tem suas dificuldades, mas é inédito, apontamos lá acima. Tem suas dificuldades, mas a quantidade de trabalho conjunto e em comunhão que tem sido feito é muito bom, é mais um dos frutos visíveis, já, da Jornada e pelo qual temos de estar muito gratos.

 

O ‘Caminho 23’ promoveu várias iniciativas para mostrar que a JMJ é uma proposta para todos. Destaco a preocupação de ajudar a reduzir a pegada carbónica do evento, ligando-se às propostas do Papa na Laudato Si’. É uma área em que é fácil criar sinergias e falar às periferias, como pede Francisco?

Sem dúvida. A Jornada também tem sido esta oportunidade de falar da questão da sustentabilidade e da ecologia de uma forma integrada e integral, que é o grande objetivo do Papa. A questão da sustentabilidade e da ecologia ter sido um pilar tão forte do pontificado do Papa Francisco não é só pela questão genérica, e às vezes um bocadinho mal interpretada, de uma preocupação, como um fim, com o ambiente. Não, é uma visão integrada em que o homem existe no meio de uma casa comum, e o homem, para respeitar-se a si e respeitar os outros, tem também de aprender a respeitar e a cuidar da sua casa comum. A Jornada também tem conseguido criar oportunidades e iniciativas em que, promovendo o cuidado da casa comum, não deixamos de ter essa promoção e esse cuidado centrados naquilo que é essencial, que é sempre a dignificação do homem, sempre o homem no centro, a pessoa no centro.

Isso nas iniciativas de sustentabilidade, mas também as iniciativas de inclusão da deficiência, da inclusão das pessoas com deficiência. Tem sido um trabalho inédito e muito bem feito, nesta Jornada Mundial da Juventude. Mais uma vez, na equipa do ‘Caminho 23’ e relacionado com o Gabinete de Diálogo e Proximidade, a questão do trabalho dos peregrinos com deficiência tem sido um trabalho super central, tem tido o nosso maior foco e é um trabalho de cada dia: saber quais são as necessidades de cada grupo, para garantir que os jovens não só vêm à Jornada, mas vivem a Jornada e aproveitam tudo aquilo que a Jornada tem para lhes dar.

 

E podem protagonizar… lembro agora, por exemplo, a questão do desporto inclusivo. 

Exatamente. Nós queremos que os jovens com deficiência não sejam só meros assistentes, mas que sejam participantes, sejam verdadeiros promotores, embaixadores da Jornada, não só por uma questão de representatividade, mas por que verdadeiramente merecem. São pessoas como qualquer outra e temos de lhes dar as oportunidades de poderem viver verdadeiramente a Jornada.

 

Outros projetos do Caminho 23 estiveram ligados à Pastoral Penitenciária e à Pastoral Universitária. Nomeadamente o contacto com o meio prisional, aponta para o perdão e a mudança de vida: deve ter sido muito enriquecedor?

Tem sido espetacular. Agora fala-se das amnistias, mas queria focar noutra coisa: nós escrevemos escrever cartas a pessoas que estão que estão presas e agora estamos a começar a receber as respostas, e temos lidas essas respostas e estamos a responder de volta, a algumas. É espetacular. Obviamente não vou estar aqui, dizer coisas concretas, até porque aquelas cartas são privadas, mas escrevemos a dezenas, centenas de pessoas que estão na prisão. As respostas que temos recebido têm sido coisas espetaculares, de uma humanidade… Eu acho que isto também é Jornada: demos oportunidade a essas pessoas, a Jornada foi oportunidade de Jesus tocar a vida delas, da Jornada ser uma oportunidade para voltarem a descobrir as razões da esperança.

Elas não vão poder vir à Jornada, mas a Jornada já chegou a elas, já foi oportunidade, já deu frutos na vida destas pessoas. Nas mais diversas áreas, não fizemos tudo, não vamos conseguir fazer tudo, mas queremos fazer muito e, para isso, precisamos da envolvência de todos e que todos aqueles que queiram participar na Jornada, como voluntários, como peregrinos, das formas que puderem ajudar, se juntem, ainda vão a tempo. Ainda temos um mês para fazer caminho.

 

Um dos grandes motivos de entusiasmo da JMJ é o encontro do Papa com jovens de todo o mundo. No caso do Afonso, viveu um momento particular, em 2019, quando participou no Fórum Internacional da Juventude, promovido pelo Vaticano, e esteve junto de Francisco. Foi um momento inspirador?

Foi um momento inspirador. A Jornada Mundial da Juventude de Cracóvia [2016] foi a minha primeira grande oportunidade de descobrir a Igreja universal. Lembro-me perfeitamente de chegar ao Campus Misericórdia, um milhão e meio de jovens… nós vínhamos com um grupo de 300, íamos aos berros e, ao chegarmos, ficou um silêncio gigante. De repente, deparamo-nos com um milhão e meio de jovens. Aí deparei-me com a Igreja Universal, tive ali a primeira imagem da Igreja universal.

Mas no encontro pós-sinodal [2019], vivi, discuti esta Igreja universal.

Temos de perceber que, em tudo na nossa vida, mas também na questão da fé, nós vivemos muito virados para o nosso umbigo, como se as questões fundamentais da fé fossem aquelas que nós vivemos no nosso continente. De repente, uma pessoa senta-se ali, ouve a Oceânia, ouve a América, ouve a África e percebe que os nossos problemas não são os problemas deles, mas que as razões da nossa esperança são exatamente as mesmas. Foco muito nesta questão: a Jornada é sobretudo este ponto de unidade, de comunhão, que traz esperança.

 

E espera que seja também a Mensagem do Papa, aqui em Lisboa?

Tem sido, essa é a mensagem da Igreja Católica deste sempre é, portanto, o Papa como guardião da fé, certamente não fará outra coisa.

 

Estamos concentrados na preparação da Jornada e bem, mas não devemos começar também a preparar o pós-Jornada?

Devemos, estou de acordo, acho que sim. Santo Inácio dizia uma coisa que é engraçada: correr atrás do Espírito, não à frente. Portanto, deixar o Espírito, abrir portas, abrir caminhos, apontar luzes, não ter pressa, não dizer ao Espírito o que é que Ele tem de dizer, darmos espaço ao Espírito para que nos diga o que é que Ele acha que deve ser o pós-Jornada.

Acho que sim, acho que devem começar a iniciar-se processos. O padre Duarte da Cunha escrevia num artigo que eu achei muito pertinente, há 2 semanas, esta coisa fundamental: abrir-nos à surpresa, abrir-nos à surpresa que o Espírito Santo nos vai sussurrar durante a Jornada e deixarmos e aderirmos de coração a essa surpresa e, mais uma vez, continuarmos a fazer caminho.

 

 

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Agência ECCLESIA

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