«Limpeza religiosa» no Iraque

Série de atentados bombistas contra igrejas e comunidades cristãs visa reforçar clima de medo A organização católica internacional Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) revela que a série de atentados bombistas que desde o passado Domingo atingiu uma série de igrejas e comunidades cristãs no Iraque é vista pela Igreja Católica no país como uma campanha para «varrer» o Cristianismo das principais localidades iraquianas. Segundo comunicado enviado à Agência ECCLESIA, as preocupações com uma «limpeza religiosa» aumentaram ontem, depois de em Kirkuk, norte do Iraque, várias bombas terem explodido defronte de duas igrejas e um mosteiro, ferindo quatro pessoas e causando danos materiais ligeiros nos edifícios. Já no Domingo, um conjunto de explosões coordenadas atingiu, em menos de uma hora, vários edifícios cristãos em Mossul e Bagdade, localidades sistematicamente atacadas desde Agosto de 2004. Em declarações à AIS , fontes da Igreja Católica no Iraque (os nomes são mantidos no anonimato por razões de segurança) mostram-se «muito preocupadas» com estes ataques, apesar de não terem provocado nenhuma vítima mortal. As bombas do passado Domingo, por exemplo, foram colocadas longe dos edifícios e rebentadas apenas depois de todas as pessoas terem saído das celebrações litúrgicas. A intimidação, contudo, chega numa altura em que as comunidades ortodoxas celebram o Natal e os católicos a Epifania, aproveitando para realizar muitos baptismos. O objectivo dos ataques seria, segundo os católicos no país, assustar ainda mais os cristãos, levando-se a fugir da região e desencorajando todos os que, eventualmente, estivessem a pensar no regressos a casa. A maioria da comunidade cristão fugiu para o Norte curdo, nos últimos anos, onde goza de maior protecção. Sunitas e xiitas procuram, nas áreas que controlam, expulsar os cristãos. Mais de metade dos 1,2 milhões de cristãos presentes no país em 2003 fugiram do Iraque, número que aumenta de forma ainda mais significativa na capital, Bagdade. Um dos Bispos contactados fala na profunda desilusão da população após dois meses de calma relativa. «Todos percebem agora que, afinal, as coisas não eram assim tão claras. O choque foi muito grande», afirma. O prelado pede aos cristãos do Ocidente que se lembrem da Igreja no Iraque. A AIS ajuda os cristãos iraquianos, especialmente os que se encontram refugiados no Norte do país, na Síria, Turquia e Jordânia. Marie-Ange Siebrecht, responsável pelos projectos da AIS no Iraque, sublinha que «os cristãos são parte da comunidade iraquiana, vivendo lado a lado com as pessoas de outras religiões. Seria um desastre se houvesse uma segregação». A AIS é uma organização dependente da Santa Sé, tendo por objectivo apoiar projectos de cunho pastoral em mais de 130 países onde a Igreja Católica está em dificuldades. Em Portugal, a Ajuda à Igreja que Sofre começou a sua acção pastoral em Outubro de 1995, com a inauguração de um Secretariado Nacional, em Lisboa. No próximo Domingo, o programa 70×7 (RTP2, 09h30) apresentará uma reportagem sobre os Cristãos no Iraque, com testemunhos de quem foi obrigado a fugir do país por causa do conflito armado.

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