Limbo continua a ser «opinião teológica» possível

Destino das crianças que morrem sem Baptismo no centro do documento hoje publicado na Itália O Limbo poderá continuar a ser uma “opinião teológica” possível para se abordar a questão do destino das crianças que morrem sem o Baptismo. A afirmação está presente no número 41 do documento da Comissão Teológica Internacional “A Esperança de salvação para as crianças que morrem sem serem baptizadas”, hoje divulgado na Itália. O documento sobre o tema tinha sido pedido à Comissão Teológica Internacional (CTI) pelo Papa João Paulo II e a sua publicação foi aprovada por Bento XVI. A Comissão reúne alguns dos teólogos mais prestigiados de todo o mundo, sob a presidência do Cardeal William Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Ao longo dos séculos muitas foram as respostas apresentadas pelos teólogos católicos em relação a esta matéria, a mais famosa das quais a do Limbo, defendida desde Santo Agostinho(354-430), Bispo e Doutor da Igreja. Segundo esta teoria, em virtude do pecado original, as crianças que morrem sem o Baptismo estariam privadas da plena felicidade dos eleitos pela visão de Deus, face a face, mas gozando de uma felicidade natural. A ideia do Limbo, concebida para salvaguardar a necessidade do Baptismo para a salvação, nunca chegou a ser considerada pela Igreja como verdade de fé, e o novo Catecismo da Igreja Católica (1261) nem sequer se lhe refere. A Igreja confia o destino destas crianças à misericórdia de Deus e até lhes reserva para o funeral um ritual próprio (cf. Celebração das Exéquias, cap. VIII). No documento da CTI, cuja versão integral é hoje publicada na revista quinzenal “Civiltà Cattolica”, dos Jesuítas, considera-se que a ideia de Limbo corresponde a uma visão “demasiado rigorosa”. No entanto, como já explicou o Pe. Luis Ladaria, secretário-geral da CTI, “a Comissão Teológica Internacional não tem autoridade magisterial”, pelo que esta tomada de posição não exclui “novas investigações”. Para este responsável, as razões fundamentais que levam a esclarecer que estas crianças vão para o Paraíso passam, em primeiro lugar, pela “misericórdia infinita de Deus, que deseja a salvação de todos os homens, e pela mediação única e universal de Cristo”. Por outro lado, Jesus tinha uma predilecção pelas crianças, pelo que “todas estas razões levam a ter esperança”. Ao reflectir sobre a misericórdia de Deus, os especialistas da Comissão Teológica Internacional apresentam a “esperança de que as crianças falecidas sem Baptismo se salvem e gozem da visão beatífica”, pois a exclusão das crianças inocentes do Paraíso não parece reflectir o especial amor de Cristo pelos mais pequeninos. O documento esclarece que “as crianças não colocam obstáculo pessoal algum ao caminho da graça redentora”. Uma das teólogas da CTI, a Irmã Sara Butler, sublinhou em entrevista à revista “Inside the Vatican” que o novo documento da Comissão conclui que o Limbo continua a ser uma possível “opinião teológica”, pelo que quem desejar defendê-lo é livre de o fazer. “Este documento, contudo, procura dar uma razão teológica para esperar que as crianças não baptizadas se possam salvar”, precisa a religiosa norte-americana, em declarações citadas pela Agência Zenit. O documento da Comissão Teológica, disse, “indica que, dada a nossa compreensão da Misericórdia de Deus e do plano de salvação que inclui Cristo e o dom do Espírito Santo na Igreja, nós nos atrevemos a esperar que estas crianças serão salvas por algum dom extra-sacramental de Cristo”. A Irmã Butler lembrou, a este respeito, que “o meio ordinário de salvação é o Baptismo, e as crianças deverão ser baptizadas”. O Código de Direito Canónico assinala que os pais “têm obrigação de procurar que as crianças sejam baptizadas dentro das primeiras semanas” e sublinha que, em perigo de morte”, a criança deve ser “baptizada sem demora” (Cân. 867). Bento XVI referiu-se a esta questão na Solenidade do Baptismo do Senhor, em 2006, apontando que “o Baptismo das crianças exprime e realiza o mistério do novo nascimento para a vida em Cristo: os pais crentes levam os seus filhos à pia baptismal, que representa o ‘seio’ da Igreja, por cujas águas abençoadas são gerados os filhos de Deus”.

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Agência ECCLESIA

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