Liderança Silenciosa

Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário), Blog & Autor

Existem lideranças que são carismáticas. Conseguem com o seu modo de ser levar várias iniciativas para a frente e quando for preciso decidir diante de um impasse, fazem-no. Mas há um outro tipo de liderança que estou a descobrir como possuindo um efeito inesperado. A silenciosa. A que gera uma liderança colectiva.

Quando era miúdo, havia uma frase que inventei, e não sei bem ainda por que razão, talvez por ser uma pessoa que falava sempre demais, mas que hoje ajuda-me a entender os líderes silenciosos. Dizia que

O sábio quando faz silêncio sabe o que está a dizer.

O pensamento subjacente é o de que a escuta pode ser tão poderosa e sábia quanto a palavra. O silêncio é o espaço onde a introspecção ocorre e amadurece. Mas hoje vê-se ocupado por todas as oportunidades de distracção.

O silêncio esconde a oportunidade de um momento de pausa que evita decisões apressadas e de que nos podemos arrepender mais tarde. Por isso, quando o líder silencioso induz os outros, pela ausência da sua palavra, a um silêncio colectivo, na prática – e sem se dar conta, imagino – leva o grupo a uma pausa introspectiva e de compreensão mais profunda das ideias partilhadas ou daquelas que devemos perder.

Há pessoas que precisam de mais tempo para reflectir e pronunciar-se. E o líder silencioso revela, sem pensar nisso, as dificuldades que temos em lidar com o tempo.

Não há tempo a perder, mas se não se perder tempo, então podemos deitar tudo a perder. Pois, naquilo que surge domina o imediato e menos o ruminado.

A velocidade com que as coisas acontecem actualmente levam-nos a desvalorizar o tempo que precisamos para ir em profundidade nas nossas decisões.

Lembro-me do modo como J. R. R. Tolkien capta isto no Conselho dos Ents no Senhor dos Anéis onde se procurava decidir se participam ou não na guerra contra Sauron. “Perderam” um dia só para se cumprimentarem. Depois há o impulso dos Hobbits que procuram mostrar aos Ents (árvores falantes e pensantes) como não se pode gastar tanto tempo a decidir porque corremos o risco de perder a oportunidade de fazer alguma coisa para salvar o mundo. Será que o líder silencioso leva a perder tempo por demorar mais tempo a pronunciar-se?

É delicado o equilíbrio entre precipitação e ponderação. Entre decidir na pressa, ou demorar tempo a mais a decidir. Mas o que a postura do líder silencioso leva é à decisão colectiva. Na sua liderança silenciosa, as coisas não partem do topo para a base, mas partem da base para o topo. Quer isso dizer que o líder silencioso tende a formar outros líderes. Algo muito diferente do que acontece no caso do líder carismático. Quando esse deixa de o ser, seja por que motivo for, revela-se insubstituível e dificulta os tempos após a sua liderança. Não é que isso seja mau, pois gera renovação também, mas não diminui ou se sobrepõe ao tipo de liderança silenciosa.

Se te consideras uma pessoa silenciosa fica sabendo que nada te impede de seres líder.

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Agência ECCLESIA

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