Inocêncio Costa Mendonça
A minha experiência como emigrante inicia-se em 1970, levando em companhia a minha esposa. Depois de uma curta passagem por Kaiserlautern, as saudades da família leva-nos até Heinsberg. Esta cidade, próxima da Holanda, é mais pequena, com uma vida mais calma, mais convidativa… Os muitos portugueses que aqui viviam, cerca de 1400, trabalhavam, quase todos, numa só empresa mas estavam dispersos por muitas localidades.
A minha experiência como emigrante inicia-se em 1970, levando em companhia a minha esposa. Depois de uma curta passagem por Kaiserlautern, as saudades da família leva-nos até Heinsberg. Esta cidade, próxima da Holanda, é mais pequena, com uma vida mais calma, mais convidativa… Os muitos portugueses que aqui viviam, cerca de 1400, trabalhavam, quase todos, numa só empresa mas estavam dispersos por muitas localidades.
Não havia grandes estruturas de apoio. A fábrica tinha um intérprete para os portugueses e, no campo religioso eram visitados, quinzenalmente, pelo missionário de Krefeld. Entretanto chega um assistente social da Cáritas; começa a funcionar a escola portuguesa; funda-se um centro recreativo, com um rancho folclórico e um grupo de futebol.
Para falar um pouco da importância que a Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCPM) teve na minha vida de emigrante devo falar mais da obra que aqui se iniciou com a chegada, em março de 1976, do padre comboniano, Olindo Pinto Marques, de Viseu, que veio também servir Aachen, Julich e Eschweiller.
Desde a primeira hora que acompanhei os trabalhos deste missionário, que se tornou um dos meus grandes amigos. Foi notável o que aqui se fez, num curto espaço de seis anos. Mais de cento e cinquenta crianças frequentavam a catequese; 150/200 pessoas iam à Missa dominical, número considerado bom, atendendo à dispersão, ao trabalho de turnos e até à débil formação religiosa da maioria dos portugueses.
Os diálogos sobre o trabalho, a conta bancária lá em Portugal, e pouco mais… deu lugar à vida em comunidade, mais partilhada, mais sentida, mais respeitada, permitindo ajudar-nos uns aos outros na vivência da fé, na esperança e na caridade. O final da Missa de cada domingo, passou a ser o dia do encontro, de falar da terra, das férias, da família, do apoio comunitário social, cultural e recreativo. Fizemos muitos e bons amigos, leigos comprometidos que deram sempre o seu melhor à Igreja e aos irmãos.
Como impõem as regras da comunidade comboniana, passados seis anos o P.e Olindo ou regressava a Portugal ou teria de incardinar-se na “casa” alemã. Silenciosamente como entrou, assim saiu, regressando a Portugal mas, para surpresa e apreensão minha, deixou-me esta recomendação: “És cristão e, como tal, pesa sobre ti a responsabilidade de continuar o trabalho que aqui fizemos, até que um novo missionário venha para o meu lugar”.
Depois da aprovação do bispo da Diocese de Aachem, nenhum daqueles que formavam a equipa operacional deixou de ser ainda mais dedicado e nunca faltou gente para o trabalho, pois todos sabíamos que “é dando que se recebe”. O padre Manuel Soares teve muita paciência para responder, sem se comprometer, aos nossos constantes apelos, mas a verdade é que nunca mais veio um missionário português. Passaram por aqui vários holandeses, que estiveram em Africa ou no Brasil e, nos interregnos, recorríamos às Celebrações da Palavra. Hoje os portugueses são muito menos e estão a ficar totalmente integrados.
Quando regressei a Portugal, em 1994, sentia-me satisfeito com o que dei de mim à Comunidade Portuguesa de Heisnsberg e à OCPM. Pude viver a minha Fé em paz e muita alegria. Ajudei irmãos a encontrar o Caminho a Verdade e a Vida e, como pude e sabia, a espalhar amor e alegria, fazendo os outros felizes para que eu fosse também feliz. Mas será que fiz tudo…, e bem?
A missão ainda não estava completa. O bispo de Viseu quis reestruturar o Secretariado Diocesano das Migrações e encarregou disso um sacerdote que esteve como missionário em França, o padre Júlio Homem, depois substituído pelo padre António Matos. Já lá vão 17 anos que eu e minha esposa, com muita alegria e o nosso melhor empenho, continuamos a colaborar com a OCPM.
Inocêncio Costa Mendonça