Fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre denuncia «genocídio» dos cristãos no Médio Oriente
Lisboa, 24 out 2019 (Ecclesia) – Os Governos deveriam “colocar o problema da liberdade religiosa como um problema tão importante como outras liberdades”, afirmou Paulo Prtas, ex-líder do CDS, na apresentação do relatório ‘Perseguidos e esquecidos?’, lançado pel Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
“É um relatório que mostra como estamos longe de viver num planeta onde um dos direitos humanos fundamentais, que é o direito a viver a sua fé, quem queria tê-la e queira vivê-la pode fazê-lo em dignidade e liberdade”, disse esta quarta-feira o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal.
Falando aos jornalistas, após a apresentação do relatório sobre ‘os cristãos oprimidos por causa da sua fé’, Paulo Portas realçou que o documento “não esconde aquilo que melhorou”, nem o que piorou e há muitos cristãos que “são perseguidos em muitos países relevantes do mundo”.
“Este relatório é uma enorme ajuda a que essa perseguição dos cristãos não fique em silêncio e não fique esquecida no conforto daqueles que não sentem essa perseguição”, desenvolveu.
Temos o dever de lembrar às sociedades ocidentais que há muitos cristãos neste mundo que são perseguidos, que não podem viver em liberdade, que uma parte da sua dignidade está capturada e precisam de ser lembrados e precisam de ser falados e é preciso que se atue mais em defesa deles”.
O relatório ‘Perseguidos e esquecidos?’’, da fundação pontifícia, analisa 12 países dos continentes africano e asiático, de julho de 2017 a julho de 2019, e alerta que o Cristianismo “é a religião mais perseguida do mundo”.
“O impacto deste genocídio – continuação dos fluxos migratórios, crises de segurança, pobreza extrema e recuperação lenta – significa que pode ser demasiado tarde para que algumas comunidades cristãs do Médio Oriente recuperem. Nalgumas vilas e cidades, a contagem decrescente para o desaparecimento do Cristianismo parece imparável”
(Relatório ‘Perseguidos e esquecidos?’) |
O documento baseia-se em viagens dos colaboradores da AIS a países “relevantes” pela perseguição contra os cristãos – Índia, Sri Lanka, Mianmar (Birmânia), Egito, Nigéria, Paquistão, República Centro-Africana, China, Filipinas, Iraque ou Síria – e outras partes do mundo que não são reveladas por “questões de segurança”.
A diretora do secretariado nacional da AIS assinalou que uma das conclusões do relatório é que a comunidade internacional “nunca esteve tão preocupada” mas, “a verdade”, é que se continua “a assistir a este êxodo das comunidades cristãs de alguns países, nomeadamente, do Médio Oriente”.
“É preciso que a comunidade perceba que estamos num ponto crítico, para muitas destas comunidades pode ser o fim da presença de milénios nestas zonas”, disse Catarina Martins de Bettencourt à Agência ECCLESIA.
Neste contexto, salientou que são precisas “ações concretas de ajuda”, por exemplo, em “questões de segurança”, da comunidade cristã não ser prejudicada porque é cristã “e não têm acesso ao mercado de trabalho”, e “o próprio Estado” nestes países “também têm de fazer a sua parte de segurança desta comunidade e de libertar estas áreas”.
Na apresentação do relatório, publicado de dois em dois anos, esteve presente o padre nigeriano Gideon Obasogie, o qual recordou 2014 comoum ano “terrível para toda a Nigéria” pela ação terrorista do grupo islâmico Boko Haram que “agora foi empurrado para a floresta e as fronteiras do Chade”, onde “ainda há muitos ataques”.
“Na jornada de reconstrução as pessoas precisam de assistência, de ajuda, de ser acompanhados, ainda sentem medo, tensão e estão traumatizadas. As comunidades que têm segurança dos militares puderem regressar para começar a vida de novo”, desenvolveu o sacerdote, alertando que qualquer pessoa que vive na Nigéria “está de uma forma ou outra ameaçada, até aqui em Portugal, por ouvir estas terríveis histórias”.
O padre Gideon Obasogie, da Diocese de Maiduguri – com uma área territorial maior do que Portugal – destacou o trabalho que a Igreja Católica está a fazer pela reconciliação, a ajuda religiosa e psicológica, bem como a “ajuda e a bondade” da AIS, que permite reconstruir espaços religiosos e apoiar a população.
No final da sessão, a diretora do secretariado português da Ajuda à Igreja que Sofre adiantou que vão lembrar os cristãos perseguidos com a iluminação de vários monumentos de vermelho, no próximo dia 27 de novembro.
CB/OC