Líbano: Papa pede aos jovens que sejam «seiva de esperança», sem violência ou desejo de vingança

«Verdadeira resistência ao mal não é o mal, mas o amor» – Leão XIV

Foto: Lusa/EPA

Bkerké, Líbano, 01 dez 2025 (Ecclesia) – O Papa Leão XIV encontrou-se hoje com a juventude libanesa na sede do Patriarcado Maronita, em Bkerké, pedindo às novas gerações que não cedam ao desânimo da guerra e sejam “seiva de esperança” rejeitando a vingança e a violência.

“A verdadeira resistência ao mal não é o mal, mas o amor, capaz de curar as próprias feridas, enquanto se curam as dos outros”, declarou o Papa perante milhares de jovens, lembrando que a força desta árvore reside nas raízes.

Na intervenção que proferiu perante a multidão que o acompanhou durante mais de uma hora, o pontífice exortou os jovens a beberem dessas “boas raízes”, rejeitando a tentação de usar a sociedade para “os seus próprios interesses”.

“O bem que hoje vemos na sociedade libanesa é o resultado do trabalho humilde, discreto e honesto de muitos agentes do bem”, observou.

Leão XIV elogiou a capacidade dos mais jovens para estabelecer pontes com pessoas de origens “culturais e religiosas diferentes”.

A verdadeira renovação, que um coração jovem deseja, começa com gestos quotidianos: o acolhimento do próximo e do distante; a mão estendida ao amigo e ao refugiado; o difícil, mas necessário perdão ao inimigo”.

O encontro ficou marcado por testemunhos de jovens que enfrentam a crise económica, após a explosão do porto de Beirute em 2020 e a guerra na região.

“A vossa pátria, o Líbano, há de florescer novamente bela e vigorosa como o cedro, símbolo da unidade e da fecundidade do povo”, afirmou Leão XIV.

O Papa reagiu às histórias apresentadas pelos jovens e voluntários Anthony, Maria, Elie e Joelle, classificando-as como “estrelas brilhantes numa noite escura”.

“As histórias deles falam de coragem no sofrimento, de esperança na desilusão, de paz interior na guerra”, observou Leão XIV, destacando o exemplo de Elie, que recusou emigrar para ajudar a reerguer o país, e de Joelle, uma cristã que acolheu na sua casa uma família muçulmana deslocada pela guerra.

Após uma apresentação cénica, o Papa respondeu a duas perguntas dos jovens sobre a fragilidade das relações no mundo digital, criticando o egoísmo e o amor superficial.

“Um amor com prazo de validade é um amor de má qualidade”, alertou, explicando que a amizade verdadeira acontece “quando diz ‘tu’ antes do ‘eu’”.

Leão XIV pediu aos jovens que construam relações sólidas baseadas na confiança mútua e no respeito, rejeitando a cultura onde as pessoas “se consomem como se fossem objetos”.

Para enfrentar a instabilidade e o medo do futuro, o Papa propôs a imagem da “âncora”, frequentemente usada pelo Papa Francisco, convidando os jovens a manterem a vida “ancorada no céu”.

Recordando São Charbel, santo libanês cujos olhos são sempre retratados fechados, Leão XIV desafiou a juventude a ser contemplativa num mundo de distrações.

“Num mundo de distrações e vaidades, reservai todos os dias um tempo para fechar os olhos e olhar apenas para Deus”, pediu, sugerindo que através desse silêncio se ganha força para a ação social e política.

O Papa foi recebido pelo patriarca de Antioquia dos Maronitas e saudou a multidão, passando num carrinho de golfe entre os jovens presentes.

Na sua palavra de boas-vindas, o cardeal Béchara Boutros Raï afirmou que o Líbano recebia o pontífice “não com o esplendor dos palácios, mas com a ternura das suas feridas”.

“O Líbano oferece-vos o que tem de mais puro: as suas lágrimas transformadas em pérolas de esperança, as suas montanhas transformadas em altares de súplica”, disse o patriarca maronita, apresentando uma juventude que “procura um futuro aqui, na sua terra”.

No final do encontro, o Papa entregou aos jovens a oração de São Francisco de Assis (‘Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz’), pedindo-lhes que a usem como bússola para levar o amor onde há ódio e a união onde há discórdia.

“Jovens libaneses, crescei vigorosos como os cedros e fazei florescer o mundo de esperança!”, concluiu Leão XIV, antes de seguir para um encontro privado com líderes muçulmanos e drusos na Nunciatura Apostólica.

OC

A visita ao Líbano encerra-se esta terça-feira, com uma oração silenciosa no local da explosão do porto de Beirute, que a 4 de agosto de 2020 causou a morte de mais de 200 pessoas; cerca de 6500 ficaram feridas e 300 mil pessoas perderam as suas casas.

A celebração conclusiva da viagem ao Líbano é a Missa na zona do “Beirut Waterfront”, junto ao Mediterrâneo.

Três Papas visitaram o Líbano, na era contemporânea: Paulo VI, em 1964; João Paulo II, em 1997; e Bento XVI, em 2012.

A primeira viagem internacional do atual pontificado iniciou-se na Turquia, a 27 de novembro.

 

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