Líbano: Fundação AIS alerta para situação dos cristãos que temem conflito entre Israel e o grupo extremista Hezbollah

«Existe uma grande preocupação de que o conflito se estenda ao Líbano, que continua a ser o país do Médio Oriente com a maior concentração de cristãos», diz presidente-executiva do organismo

Foto: ACN

Lisboa, 04 jan 2024 (Ecclesia) – A comunidade cristã no Líbano teme que a guerra entre Israel e o Hamas se alastre ao país depois de, a 2 de janeiro, ter sido morto, em Beirute, capital libanesa, um dos mais importantes líderes do grupo islamita Hamas.

De acordo com nota Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), enviada hoje à Agência ECCLESIA, desde que o conflito se iniciou a 7 de outubro de 2023, na Faixa de Gaza, que se “têm vindo a registar incidentes na região fronteiriça com o Líbano, onde atua a milícia do Hezbollah financiada pelo Irão”.

Com a morte de Saleh al-Arouri, que perdeu a vida juntamente com alguns dos seus guarda-costas, num ataque com recurso a drones e que atingiu o escritório do Hamas numa zona de subúrbios de Beirute, “a situação de tensão agravou-se profundamente”.

“Existe uma grande preocupação de que o conflito se estenda ao Líbano, que continua a ser o país do Médio Oriente com a maior concentração de Cristãos. Isso seria dramático, porque sabemos que os Cristãos de toda a região se sentem tentados a partir”, lamentou a presidente-executiva internacional da Fundação AIS, Regina Lynch.

A fundação pontifícia informa que as tropas de Israel situadas junto à fronteira com o Líbano estão em alerta muito elevado e que, com ameaças de ataques de retaliação, os cristãos temem “o alastramento do conflito e que o Líbano volte a mergulhar no caos e na destruição”.

“Muitas famílias começaram já a abandonar a região” e, segundo dados apurados pela AIS no Líbano, “cerca de 90% da população de várias aldeias têm procurado segurança noutras regiões do país.

Apesar de os cristãos não estarem envolvidos no conflito, já houve consequências diretas dos bombardeamentos entre as duas partes, ou seja, entre Israel e os elementos da milícia Hezbollah”.

Em Yaroun, no sul do Líbano, a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre denuncia que “a igreja católica Melquita foi danificada, mas felizmente ninguém ficou ferido”; A aldeia de Alma el Chaeb foi até agora “a mais afetada com 15 casas destruídas por mísseis”, tendo morrido alguns membros de uma família cujas crianças frequentavam a escola católica local.

A AIS lembra a guerra de 2006 entre Israel e o Hezbollah, que causou violência e devastação no Líbano.

Estima-se que cerca de 900 mil libaneses ficaram desalojados e que, atualmente, embora esteja em vigor o cessar-fogo negociado em 2006 pela ONU, adensa-se o receio de que a guerra se instale de novo na região.

O responsável pelos projetos da Fundação AIS no Líbano, Xavier Stephen Bisits, esteve recentemente naquela região fronteiriça e revela que “os bombardeamentos continuam a ser diários”, reconhecendo que se sente já o impacto do ambiente de guerra.

“As ruas estão muito calmas: já não se veem homens a beber café sentados em bancos e crianças a jogar futebol. As pessoas têm demasiado medo de ir para os seus campos, pelo que há um impacto económico nestas famílias, muitas das quais já são pobres devido ao colapso financeiro do Líbano”, descreve.

De acordo com a AIS, a ajuda de emergência da fundação é dirigida para apoiar famílias em maior dificuldade, ao mesmo que tempo que continua a “manter as instituições a funcionar, o que nesta altura, é fundamental”, acrescentando que “as pessoas estão gratas por isso”.

O clero e as religiosas que dão assistência à comunidade cristã no Líbano, na região da fronteira, permanecem no local, ao mesmo tempo que muitos civis já se mudaram para casa de familiares em Beirute.

“Segundo fontes locais, não há um único padre que tenha abandonado o seu rebanho. Recentemente, os bispos das Igrejas Maronita e Melquita deslocaram-se mesmo aos locais mais próximos da fronteira com Israel, para celebrar a Eucaristia e avaliar a situação com os seus próprios olhos”, avança a AIS.

Xavier Bisits conta que o bispo maronita de Tyr celebrou recentemente uma missa na aldeia de Rmeich, sob ameaça de bombas.

“É um testemunho da fé sólida e da resiliência dos habitantes desta região”, afirmou.

Por sua vez, as Irmãs dos Sagrados Corações de Jesus e Maria abriram as portas do convento em Debel para acolher as pessoas que estão maior necessidade, especialmente idosos e doentes.

De acordo com um balanço das autoridades locais divulgado ontem, a guerra entre Israel e Hamas fez até agora na Faixa de Gaza mais de 22 mil mortos e mais de 57 mil feridos, na maioria civis, e cerca de 1,9 milhões de deslocados (cerca de 85% da população), segundo a ONU.

LJ/OC

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Agência ECCLESIA

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