Líbano: Cenário difícil espera Bento XVI

O «país dos cedros» é hoje uma nação que se destaca por uma grande instabilidade religiosa, política e social

Lisboa, 13 set 2012 (Ecclesia) – Bento XVI começa sexta-feira uma visita de três dias ao Líbano, um dos países mais pequenos do mundo árabe mas que se destaca por uma grande instabilidade religiosa, política e social.

De acordo com um relatório da Fundação Ajuda a Igreja que Sofre (AIS), enviado à Agência ECCLESIA, a Constituição da nação situada na Ásia Ocidental “reconhece oficialmente 18 comunidades religiosas, 12 cristãs, 4 muçulmanas, uma drusa e outra judaica”.

Com o objetivo de equilibrar a relação entre os diferentes credos e etnias, o Estado libanês é gerido há 70 anos por um sistema político único baseado no confessionalismo, que determina a partilha do poder por todas as representações religiosas.

“O atual presidente do Líbano, Michel Suleiman, é cristão maronita, o primeiro-ministro, Najib Azmi Mikati, é muçulmano sunita, e o presidente do Parlamento, Nabih Mustafa Berri, é muçulmano xiita”, esclarece a AIS.

Quanto à composição do Governo libanês, “onze ministros são cristãos: cinco maronitas, quatro greco-ortodoxos, um arménio e um católico, Nicholas Sehnaoui, responsável pela área das Telecomunicações”.

Há depois outros dez representantes políticos muçulmanos: quatro xiitas, quatro sunitas e ainda dois drusos.

A busca pelo equilíbrio reflete-se também no número de assentos concedidos aos deputados no Parlamento, onde “muçulmanos e cristãos têm 64 lugares cada um, num total de 128”.

No entanto, apesar do empenho das autoridades na construção de uma “situação de igualdade entre os diversos grupos de população”, a estabilidade do projeto tem vindo a ser “ameaçada” por diversas mudanças, a começar pela “crescente emigração de jovens cristãos”.

Há cerca de 30 anos, a percentagem de cristãos libaneses atingia os “75 por cento” da população, “hoje em dia não ultrapassam os 40 por cento”.

A diminuição do número de cristãos contrasta com o aumento significativo da comunidade muçulmana, favorecido – entre outros fatores – pela entrada de milhares de emigrantes curdos provenientes da Turquia e de um grupo significativo de beduínos árabes de crença sunita.

A proximidade do “país dos cedros” com outros países de maioria muçulmana contribui para a alimentação de um quadro religioso e político em permanente ebulição, mas as tensões não acontecem apenas entre os seguidores de Maomé e Jesus Cristo.

No final de agosto, na cidade de Trípoli, situada no norte do Líbano, um grupo de muçulmanos sunitas envolveu-se em confrontos com muçulmanos xiitas, dos quais resultaram dezenas de mortes e centenas de feridos.

O episódio não teve nada a ver com a situação interna do país mas sim com a guerra civil que está a decorrer na Síria e que opõe o exército do presidente Bashar al-Assad às forças rebeldes contrárias ao regime.

Os sunitas libaneses eram partidários da oposição ao governo sírio, enquanto os xiitas defendiam a preservação da atual conjuntura política na nação vizinha.

 A nível social, o Líbano convive desde 2011 com o “fantasma da recessão económica”, sendo que o défice nacional já ascende a “130 por cento do Produto Interno Bruto”, ou seja, “a mais de 58 mil milhões de dólares”.

O desemprego está a ganhar terreno e “praticamente 300 mil pessoas no país deixaram de ter quaisquer condições para garantirem o acesso à alimentação e a outras necessidades básicas”, avança a AIS.

Bento XVI visita o Líbano entre 14 e 16 de setembro e já se mostrou empenhado em contribuir para levar “a esta região do mundo a paz tão desejada, no respeito pelas legítimas diferenças”.

JCP

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