Ler Bento XVI à luz do pontificado de Bento XV

Nuno Rogeiro passou em revista pensamento do actual Papa

A encíclica «Caritas in Veritate» tem de ser entendida como “genuinamente do Papa que olha o mundo, os seus efeitos na Igreja e os efeitos da Igreja no mundo” – disse ontem Nuno Rogeiro no colóquio sobre «O pensamento de Bento XVI».

Organizado pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa (UCP), neste conjunto de reflexões falou-se sobre «A Universidade. O discurso que não chegou a ser pronunciado na Universidade de la Sapienza»; «A Europa. Os seus fundamentos hoje e amanhã»; «O Discurso de Ratisbona»; «“Deus Caritas Est” (Encíclica “Deus É Amor”)» e «“Caritas In Veritate” (Encíclica “Caridade Na Verdade”)».

No painel sobre a «Caritas in Veritate», o comentador televisivo e professor universitário referiu que esta encíclica tem de ser entendida enquanto “carta circular aos cristãos – sacerdotes ou leigos – e como anúncio a todos no seguimento de outras reflexões importantes do cardeal Ratzinger”. A última encíclica de Bento XVI influenciou a “Comunicação Social e, inclusivamente, influenciou uma reunião do G8”. 

A terceira encíclica de Bento XVI deverá ser olhada na “senda existencialista” da encíclica «Humani Generis Redemptionem» (15 de Junho de 1917) de Bento XV, onde encíclica se reflectia sobre o paradoxo de “havendo cada vez mais padres e cada vez mais pregadores, haver também cada vez mais imoralidade e cada vez menos influência da religião nos assuntos seculares”. E acrescenta: “ou a doutrina era má, ou os proclamadores ineficientes por falta de formação ou, talvez, – conclui o pontífice – por falta de convicção”.

A «Caritas in Veritate» tem de se entender na corrente e no contexto de outros textos de autoridade papal. Não se pode falar desta encíclica sem falar das outras duas que marcaram este pontificado. “Em «Deus Caritas Est» – a sua primeira encíclica e pegando na famosa critica de Nietzsche sobre a putativa demonização do amor – Bento XVI discorre sobre a necessidade de socorrer o eros, de o purificar, de o tornar digno e eterno e libertá-lo da materialização” – afirmou Nuno Rogeiro.

“A caridade é a concretização verdadeira do amor. Reconcilia essência e existência. Ela rompe o véu do absurdo moderno e pós-moderno”. E completa o professor universitário: “É aqui que «Deus Caritas Est» se aproxima da «Caritas in Veritate», ao explicar-se que a doutrina Social da Igreja – ligando fé e política – se baseia no direito natural, na consideração da natureza primeira do homem”

Na «Spes salvi» (segunda encíclica do Papa alemão) há um retorno a textos de Ratzinger antes do pontificado. “Reflexão sobre a qualidade salvífica da esperança. A esperança na redenção – ensinada por Paulo – não é, obviamente, um mero aguardar por um desenlace como se estivéssemos a ser espectadores de uma peça de teatro. É processo activo, espécie de batalha quotidiana, onde a fé é a substância das coisas que esperamos e a prova das coisas invisíveis”. A esperança – como diz Bento XVI – “é a entrada do futuro no presente”. O cristão tem de “reagir e laborar pela verdade todos os dias”.

Na primeira audiência papal, Bento XVI explicou a sua ligação espiritual a Bento XV (o papa desbravador do Direito Internacional Público, da diplomacia apaziguadora, da mediação entre nações, da construção efectiva da paz). Na altura o papa alemão, considerou Bento XV “como o corajoso profeta da paz que guiou a igreja pelos tempos turbulentos da guerra. Nas suas pegadas coloco o meu ministério ao serviço da reconciliação e da harmonia entre os povos”. E adianta: “Bento XV está assim no cerne da «Cáritas in Veritate»”.

Revisitando a encíclica «Populorum Progressio» de Paulo VI, Bento XVI interpreta a crise planetária – dentro e fora das praças financeiras -; assinala os males da injustiça social – regional, nacional e global -, analisa a ameaça aos valores da pessoa e lembra a perversão das ideologias e das utopias que desligam o desenvolvimento da sua dimensão humana.

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