Leiria: Igreja de São Pedro acolhe exposição «O Clamor da Ruína» que quer despertar as «atenções políticas» para o património devoluto do antigo seminário

Câmara e diocese pretendem criar Museu de Arte Sacra nas instalações de espaço em ruínas, que é propriedade do Estado

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Leiria, 07 de junho 2025 (Ecclesia) – A exposição “O Clamor da Ruína” foi hoje inaugurada na Igreja de São Pedro, em Leiria, e pretende chamar a a atenção para o antigo seminário de Leiria, que é património do Estado e neste momento se encontra devoluto.

“A Câmara e a diocese têm como objetivo construir ali o Museu de Arte Sacra da diocese, exemplo que há noutras capitais de distrito e, naturalmente, precisamos que aquele edifício nos seja cedido a título gratuito”, afirmou o presidente da Câmara de Leiria, em declarações esta tarde à Agência ECCLESIA.

Segundo o autarca Gonçalo Lopes, a exposição é um dos sinais que a Câmara e a diocese querem mostrar na exposição para “despertar atenções políticas sobre a importância que tem de se dar ao património que está devoluto, que está em ruína”.

O presidente da Câmara de Leiria apela ao Estado que ceda as instalações, da qual o Ministério da Defesa é detentor, e auxilie no financiamento da obra, “não na totalidade”, “mas que pelo menos no âmbito de fundos comunitários seja encarada com uma das prioridades do atual quadro comunitário”.

O bispo de Leiria-Fátima manifesta que “é uma pena” ver “aquilo que outrora estava cheio de vida” estar agora “simplesmente abandonado”.

É importante que nos ponhamos de acordo para encontrar respostas novas e colocar tudo isto ao serviço de uma cidade onde seja bonito viver e onde seja útil repensar um passado que nos orgulha, que nos identifica, mas que também nos motive para novos rumos”, realçou D. José Ornelas.

Marco Daniel é o curador da exposição e explica que o seu título “O Clamor da Ruína: Que Futuro para o Antigo Seminário de Leiria?” não foi escolhido ao acaso, referindo-se ao antigo seminário de Leiria, edifício construído no século XVII.

“É uma das poucas peças arquitetónicas dessa época, que quando passamos por ela, clama, aquelas pedras obviamente silenciosas, ao longo do tempo sempre a desmoronarem-se, a serem invadidas por vegetação, como esta exposição bem demonstra, clama por atenção”, referiu.

O curador descreve que este “é um dos lugares mais fascinantes” da cidade de Leiria, porque “obviamente está relacionado com a história da própria diocese”.

Marco Daniel explica que este era “o lugar da intelectualidade de então, precisamente para fazer face à reforma que a Igreja, ao mais alto nível, ao nível de Roma, queria para formar as suas elites”.

“Na verdade este edifício formam-se não apenas as elites do catolicismo, mas era também um edifício aberto a outras elites que se quisessem formar lá, mesmo que não fosse para a carreira eclesiástica, o que é também interessante e um ponto de identidade aqui desta cidade”, contextualiza.

O curador salienta que aquele seria “um bom espaço para mostrar à cidade e àqueles que vêm de outras cidades o vasto e rico património religioso, sacro, material e imaterial que a diocese e o próprio município dispõem”.

Miguel Cardoso, artista plástico, foi o responsável por desenvolver a residência artística, relatando que foi desafiado pelo município de Leiria e pela diocese a retratar as instalações, “não como um espaço arquitetónico, mas como um espaço em ruína e de uma perspetiva poética”.

O artista defende que as instalações, representadas na exposição, podem ser reaproveitadas para voltar àquilo que já foi “um seminário, um espaço de formação sagrada”.

A exposição «O Clamor da Ruína: Que Futuro para o Antigo Seminário de Leiria?» vai estar patente até dia 30 de novembro, na Igreja de São Pedro, Leiria.

HM/LJ

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