Legislativas 2025: Vice-presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz fala em campanha política «muito ruidosa» e em tempo de «perda de sentido de pertença comum»

Rosário Carneiro entende que «há muito comentário» que não ajuda a uma «clara e objetiva transmissão de informação», comentando o ato eleitoral de 18 de maio

Foto: Lusa

Lisboa, 15 mai 2025 (Ecclesia) – A vice-presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), Maria do Rosário Carneiro, considera que a campanha política para as eleições legislativas portuguesas, marcadas para 18 de maio, tem sido “muito ruidosa”.

“Em cada campanha há um acréscimo tecnológico, comunicacional, que vai alterando significativamente as coisas e, contrariamente àquilo que seria expectável e desejável, que seria uma melhoria da informação e da transmissão das mensagens e, consequentemente, um maior esclarecimento, temos mais ruído”, afirmou a responsável, em entrevista ao Programa ECCLESIA, transmitido hoje, na RTP2.

A um dia do encerramento da campanha eleitoral, Rosário Carneiro considera que “há muitas ações, há muito acompanhamento, há muita repetição de notícias, há muito comentário e tudo isto não ajuda a uma clara e objetiva transmissão de informação”.

“Fica por saber se está mesmo a ultrapassar o conjuntural e fica mesmo por saber se as propostas que estão a ser apresentadas, em algumas circunstâncias, serão mesmo viáveis, serão possíveis”, insiste.

De acordo com a responsável, “tudo isto não fica muito claro, porque no próprio domínio comunicacional, do comentário, da informação, da análise, fica tudo muito confuso e pouco esclarecedor”.

A vice-presidente da CNJP acredita que os portugueses sentem a “vida retratada” nos temas discutidos em campanha eleitoral, no entanto estes não são abordados “de uma forma tão esclarecedora quanto seria necessário”.

“Isso também é um fruto deste tempo que vivemos que é muito curto. Os ciclos políticos estão a tornar-se cada vez mais curtos. O que faz uma pressão do imediatismo de apresentar ideias muito rápidas de serem concretizadas”, sublinha.

A entrevistada salienta que “não é isso que se pede à governação, nem à política, nem ao desenvolvimento de um país”, defendendo que “é necessário pensar mais longe do que este imediatismo de ciclos políticos tão curtos”.

Segundo Rosário Carneiro, seria “mesmo muito importante” que houvesse “um tempo de silêncio e de acalmia” para que todos se pudessem ouvir “para além de todo o ruído de questões que são conjunturais”.

“É nesse aspeto que as pessoas podem não se sentir tão retratadas”, indica a responsável, acrescentando que “a voracidade com que as questões são tratadas não é tão apaziguadora”.

Vivemos num tempo em que há cansaço e há indiferença e há uma perda de sentido de pertença comum”, lamenta.

A vice-presidente do organismo católico lembra a frase “a política é a forma mais perfeita da caridade”, do Papa Pio XI, depois repetida pelos pontífices Bento XVI e Francisco, realçando que é nesse sentido que a CNJP apela à participação nas eleições, ao “recuperar do sentido de servir”.

A Comissão Nacional Justiça e Paz lançou uma nota, a respeito das eleições legislativas, na qual apelou aos partidos políticos que as “propostas presentes, ultrapassem o imediato, os conflitos conjunturais e assumam verdadeiros, honestos e viáveis compromissos, que superem o curto prazo e tenham a ambição de um futuro de desenvolvimento sustentável”.

Rosário Carneiro olha para este como um “tempo de oportunidade”, ressaltando que “um voto é um ato político que se esgota naquele momento, mas que tem repercussões imensas”.

“E é o resultado de uma reflexão imensa de ambas as partes. Não há muito mais responsáveis do que outros. Uns têm a capacidade da decisão, mas os eleitores também têm, de uma outra forma”, referiu.

A responsável descreve que o apelo da CNJP é feito no sentido da “recuperação deste sentido de pertença” e só aí, e na ação convergente de todos, se deve pensar “na construção do bem comum”, para que a “erradicação da pobreza seja mesmo a prioridade”, porque “ela é determinante da paz”.

“A pobreza é injustiça. A pobreza fomenta a agressividade e a discórdia. Portanto, ela tem que ser a prioridade. […] E isso não é tão claro em nenhum dos discursos políticos”, evidencia.

LS/LJ/OC

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