Organismo católico fala num «tempo incerto» e pede «propostas que coloquem como desígnio prioritário o combate à pobreza»

Lisboa, 02 mai 2025 (Ecclesia) – A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) pediu hoje que as eleições legislativas portuguesas de 18 de maio sejam “um momento de renovado compromisso coletivo na efetiva construção e promoção do bem comum”.
O organismo escreve, numa nota enviada à Agência ECCLESIA, que se vive “um tempo incerto, de persistente injustiça e desigualdade, de subversão progressiva dos valores e da ética, de ameaça crescente à paz, pela pobreza que permanece, pela indiferença que se instala, pelo recurso imparável ao uso da força e das armas”.
“Mas o tempo em que vivemos é também um tempo de oportunidades, pleno de conhecimentos e recursos, de ferramentas efetivas, para combater a incerteza, a indiferença e a injustiça, para promover a inclusão, o desenvolvimento, para construir a paz. Com verdade, compromisso, vontade”, assinala.
Na mensagem com o título “Na proximidade de um inesperado, mas não menos decisivo, ato eleitoral”, a CNJP apela a que as propostas presentes “ultrapassem o imediato, os conflitos conjunturais e assumam verdadeiros, honestos e viáveis compromissos, que superem o curto prazo e tenham a ambição de um futuro de desenvolvimento sustentável”.
Desta forma, o organismo pede que estas assumam o desafio de “cuidar da fragilidade do povo e do mundo”, a “urgência em ouvir o grito dos pobres da terra, o imperativo da dignidade humana, como determinantes da ação que é sementeira da esperança, que gera confiança neste desiderato que é a construção do bem comum”.
“Propostas que coloquem como desígnio prioritário o combate à pobreza, a promoção da efetiva inclusão de todos, a concretização convergente de políticas indutoras do desenvolvimento sob a égide de um julgamento ético que avalie o que é bom, que questione o que faz falta”, desenvolveu.
A CNJP prossegue pedindo que os projetos façam eco do apelo do Papa Francisco na sua última mensagem, dirigida aos que têm responsabilidade políticas, para não ceder “à lógica do medo que fecha, mas usem os recursos disponíveis para ajudar os necessitados, combater a fome e promover iniciativas que favoreçam o desenvolvimento”.
“Propostas sob escrutínio, que é pedido a cada uma e a cada um, responsável por uma ativa participação cidadã, sem a qual não há projeto de sociedade que sobreviva e se consolide”, pode ler-se.
O organismo entende que “só com a efetiva participação de cada uma e cada um, é possível construir uma consciência coletiva que condicione as políticas públicas, que controle o poder político, que seja um instrumento de esperança no desenho do projeto de futuro”.
“Só com a efetiva participação de cada uma e cada um se podem recuperar os valores que fazem parte da herança coletiva, fatores estruturantes das opções a tomar, em nome do bem comum”, salientou.
A CNJP sublinha que “os atos eleitorais são momentos importantes de exercício da responsabilidade cidadã e da construção coletiva”, “exprimem uma opção”, “recusam a indiferença e não deixam para outros escolhas decisivas”: “Cada um faz a diferença e é, assim, agente da esperança”.
“Na sua última mensagem, o Papa Francisco interpela-nos ‘a não imobilizar o nosso coração nas ilusões deste mundo, nem fechá-lo na tristeza; temos de correr, cheios de alegria.’ A Comissão Nacional Justiça e Paz, neste ano do Jubileu da Esperança, apela à participação de todas e de todos na construção do bem comum”, conclui.
Também os bispos portugueses se manifestaram a propósito das eleições legislativas, no comunicado final da Assembleia da Conferência Episcopal Portuguesa divulgado esta quinta-feira, apelando “aos partidos políticos para que colaborem numa campanha eleitoral honesta e esclarecedora, acima de qualquer interesse pessoal ou partidário”.
“É urgente um diálogo entre as principais forças políticas para que destas eleições nasça uma estabilidade governativa capaz de restabelecer a esperança dos cidadãos e atender à primazia do bem comum, à justiça social e ao cuidado para com os mais vulneráveis”, escreveram.
O episcopado português pediu “aos cidadãos para que, no próximo dia 18 de maio, exerçam o seu direito de voto refletido e informado”, realçando que “votar é um direito e um ato de participação ativa na construção da sociedade que ninguém deve negligenciar”.
LJ/OC