Presidente da Comissão Justiça e Paz de Viana do Castelo alerta para aumento da pobreza e ausência de iniciativas de fundo, que contrariem a abstenção
Viana do Castelo, 03 mar 2024 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz de Viana do Castelo alertou para os efeitos negativos de um distanciamento dos eleitores, face aos políticos, lamentando a ausência de respostas a problemas como a pobreza.
“As pessoas estão desencantadas com os políticos. Estão claramente desencantadas com os políticos e com os sistemas que cada vez têm feito aumentar as bolsas de pobreza”, refere José Luís da Ponte, convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, emitida e publicada aos domingos.
Segundo o responsável, a Igreja Católica tem também a missão de “aconselhar os cidadãos a participa ativamente no processo de escolha dos seus dirigentes”, lamentando os níveis de abstenção.
“Os nossos bispos têm de batalhar neste ponto e têm, provavelmente, de pôr o dedo na ferida e dizer aos políticos: olhem para a questão da pobreza, porque essa é fundamental”, acrescenta.
O distrito Viana do Castelo inclui o Conselho de Melgaço, que vem registando os mais elevados níveis de abstenção, um problema que José Luís da Fonte considera importante, em todo o território nacional.
“Como é que quase metade do país abdica de escolher os seus representantes?”, questiona.
O entrevistado admite “temer” que se crie um clima político propício a soluções mais radicais, com um “afastamento das pessoas dos mecanismos democráticos”.
“Os populismos, as demagogias, proliferam precisamente neste tipo de ambientes”, alerta.
Para o presidente da Comissão Justiça e Paz de Viana do Castelo, os aspetos jurídicos “interferem” na criação deste ambiente, mas é preciso atender a outros fatores.
“Interfere a falta de confiança, interfere a falta de professores, a falta de médicos. Tudo isso interfere quando nós não entendemos porque é que isso acontece”, lamenta.
Os nossos políticos, por culpa própria ou não, perderam alguma credibilidade ou perderam-na toda. E as pessoas menos informadas, não só, mas as menos informadas, acabam por desistir, dizendo que não vale a pena”.
O entrevistado considera que eleitores e eleitos desconhecem os princípios da Doutrina Social da Igreja, a começar pela ideia de fraternidade, como filhos de um único Deus.
“Se todo homem é meu irmão, como é que eu posso ostracizar judeus ou muçulmanos, ciganos, pretos, brancos ou amarelos?”, exemplifica.
José Luís da Ponte pede que estes temas se trabalham desde a catequese, para que se chegue a “uma sociedade mais fraterna e, portanto, menos afastada das decisões políticas”.
Questionado sobre as questões da imigração, em Portugal, o responsável diz que “continua a faltar uma verdadeira política de integração”, com “focos de escravatura em várias partes do país”.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)