Rede Europeia Anti-Pobreza promoveu encontro com responsáveis políticos
Lisboa, 23 fev 2024 (Ecclesia) – O presidente da EAPN Portugal/Rede Europeia Anti-Pobreza lamentou à Agência ECCLESIA a falta de atenção às situações de exclusão social, nos debates políticos para as próximas legislativas.
“Nestes debates a que temos assistido, tem-se verificado que uma parte deles nem tem abordado o tema da pobreza. Quer dizer que a vida difícil de 2 milhões de portugueses não preocupa os partidos mais responsabilizados pela vida nacional”, alertou o padre Agostinho Jardim Moreira.
A EAPN Portugal está a promover um ciclo de debates sobre o tema “O Combate à Pobreza como um desígnio nacional”, que incluiu a realização de um encontro com os partidos políticos que concorrem nas próximas eleições legislativas, esta quinta-feira, em Lisboa.
O padre Jardim Moreira pede que os responsáveis políticos se preocupem mais com a “vida das pessoas”.
“Uma democracia que não olha ao bem efetivo de cada pessoa é uma democracia que está doente, que não está a cumprir os seus objetivos, a sua missão”, advertiu.
O sacerdote da Diocese do Porto assumiu preocupações com a redução da pessoa a sujeito de “consumo” e com a concentração da riqueza em “meia dúzia de mãos”.
“A resposta à pobreza em Portugal deve ser um desígnio nacional, onde todos somos chamados a participar, numa mudança de mentalidade, numa mudança de participação, numa mudança de princípios”, insiste.
O presidente da EAPN Portugal pede “coragem” aos políticos e também à Igreja Católica, que considera muito “fixada no sacramentalismo e pouco voltada para a felicidade das pessoas”.
“Não entendo como é que um padre pode pregar, do altar para baixo, o amor ao próximo e ele mesmo não promover o amor àqueles que são menos amados”, observa.
A respeito das legislativas do próximo dia 10 de março, a EAPN Portugal lançou um apelo aos partidos, defendendo que a luta contra a pobreza e o reforço dos direitos sociais devem ser “prioridades políticas”.
“A pobreza tem múltiplas causas e ao longo dos anos Portugal não tem conseguido atacar essas causas”, refere a ONG.
O documento refere que, em Portugal, existem mais de 1,7 milhões de pessoas que vivem com menos de 591 euros por mês.
Joaquina Madeira, vice-presidente da EAPN Portugal, disse à Agência ECCLESIA que as abordagens ao problema devem ser “intersectoriais, coordenadas, com a cooperação dos vários setores e da sociedade, e uma visão estratégica, com objetivos definidos, médio prazo, consistente”.
“Há pessoas que vivem abaixo do que é considerado digno, numa sociedade dita democrata e humanista, portanto quisemos fazer aqui uma reflexão sobre o problema, apontar pistas”, declara.
A responsável cita o Papa Francisco, para defender que “as pessoas pobres não se contam, abraçam-se”.
“Temos necessidade de conhecer de uma forma capilar a realidade da pobreza em Portugal. A intervenção das autarquias e organizações não governamentais nos territórios são extremamente importantes, porque eles próximas, conhecem, podem trazer o lado humano do que é lutar contra a pobreza”, sustenta.
Joaquina Madeira aponta ao “valor ético” da justiça social e da partilha dos bens, para que as pessoas possam “ter uma vida digna e suficiente para o seu desenvolvimento”.
A EAPN – European Anti Poverty Network (Rede Europeia Anti Pobreza) é a maior rede europeia de redes nacionais, regionais e locais de ONG, bem como de organizações europeias ativas na luta contra a pobreza.
Fundada em 1990, em Bruxelas, a EAPN está atualmente representada em 31 países, nomeadamente em Portugal.
HM/OC