D. Manuel Pelino, Diocese de Santarém

A morte do Papa Francisco mostrou a grande admiração que imensa gente nutria por ele- gente cristã e não cristã, crente e não crente. Os numerosos testemunhos vindos a público realçam a sua proximidade em relação a todos, sobretudo aos das periferias; a profunda compaixão que manifestava pelos pobres e doentes; a fraternidade, simplicidade e empatia que irradiava; a alegria e bom humor que nos contagiavam. Desde o início tornou-se notado o novo estilo de vida que adotou, a linguagem com imagens e expressões fortes que se colavam na memória, a procura corajosa de caminhos novos na fidelidade às fontes originais do cristianismo e ao Concílio Vaticano II. A sua partida foi sentida como uma grande perda para a humanidade: era uma voz escutada que se calou e faz falta no apelo à paz, na defesa da dignidade, da liberdade e da fraternidade humana. A verdade, porém, é que não foi em vão a semente que lançou na Igreja e no mundo. Ele partiu, mas o seu legado permanece e dará fruto. De facto, o Papa Francisco tocou-nos o coração e motivou-nos para pormos em prática o seu estilo.
Há frases lapidárias, expressões fortes e incisivas, que não esquecem. Logo no início do ministério, na festa de São José, definiu, numa frase, o programa de vida e de missão que encerra uma profunda sabedoria: “cuidar da fé, cuidar do homem, cuidar da criação”. Este tríptico é a síntese do exemplo de São José, o resumo da missão do Papa Francisco e uma referência luminosa para todo o cristão. Na verdade, a fé é uma luz que ilumina o caminho da verdade, é a fonte da esperança e do amor, é um tesouro que herdamos e devemos transmitir. Mas precisa de ser cuidada, alimentada. Se não, esbate-se e apaga-se. Por outro lado, a fé cristã conduz a cuidar do homem, a ser fermento de humanismo, a estar ao serviço da dignidade, da liberdade e da fraternidade entre todos. A fé leva-nos também a contemplar e a cuidar do universo. Deus confiou-o à nossa guarda. Não podemos ser exploradores e agressores da criação, mas construtores da “Casa Comum”, da ecologia integral. Sobre estas questões, o Papa Francisco deixou-nos documentos admiráveis, como: “A Alegria do Evangelho; “Fratelli Tutti”; “Laudato Si”.
Lembro ainda outras expressões programáticas deste venerado Papa, sem as comentar, por falta de espaço: “Igreja em saída” para as periferias para cuidar dos feridos da vida; “Igreja hospital de campanha”; pastores (padres) “com cheiro a ovelha; “a economia mata”; “igreja inclusiva, aberta a todos, todos, todos”. Estas expressões adquirem vida nas atitudes e estilo de vida de Francisco: proximidade; destino das visitas pastorais começando por Lampedusa; misericórdia e compaixão (sentir com os outros, colocar-se na pele deles). Continuemos e atualizemos este legado: “Lembrai-vos dos vossos chefes que vos anunciaram a Palavra de Deus. Considerai o êxito da sua carreira e imitai a sua fé” (Heb 3, 7).