Leão XIV: Prioridades do novo Papa passam pelas pessoas e levar «por diante» dinâmicas abertas, diz teólogo português

Padre Miguel de Salis Amaral participou em fórum teológico-pastoral com o então cardeal Prevost, durante assembleia sinodal de 2024

Foto: Agência ECCLESIA/PR

Paulo Rocha, enviado da Agência ECCLESIA

Cidade do Vaticano, 09 mai 2025 (Ecclesia) – O padre Miguel de Salis Amaral, teólogo português que participou como perito na XVI Assembleia Geral do Sínodo, em outubro de 2024, considera que o novo Papa vai dar continuidade às dinâmicas abertas neste processo.

“Ganhamos experiência e temos de continuar a crescer. Penso que este pontificado vai beneficiar da experiência que já se fez e, ao mesmo tempo, vai dar espaço para continuar a percorrer alguns caminhos e corrigir, no que seja necessário corrigir”, referiu hoje o sacerdote, em declarações à Agência ECCLESIA e Agência Lusa.

O docente da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, esteve na mesma mesa com o cardeal Prevost, num dos fóruns teológico-pastorais do último Sínodo, em outubro de 2024.

“Foi a vez que estive mais tempo com ele”, recorda, sublinhando que o atual Papa “não teve nenhum problema em falar em último lugar”.

O padre Miguel de Salis Amaral entende que o Papa Francisco “abriu muitos dossiers” e que agora “a questão é como levá-los por diante”.

“Nunca se tinha feito um Sínodo sobre a sinodalidade, nunca se tinha feito um Sínodo com tanta gente, tantos leigos, tantos padres, tantos religiosos e religiosas”, reconhece.

A XVI Assembleia Geral do Sínodo, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, encerrou-se até 27 de outubro de 2024, no Vaticano; a primeira sessão decorreu em outubro de 2023, após uma consulta global lançada pelo Papa Francisco, em 2021, que mobilizou milhões de pessoas.

Questionado sobre a continuidade destas dinâmicas no pontificado de Leão XIV, o entrevistado afirma que o novo Papa “não está tão atento a essas questões de estruturas”, porque a sua prioridade “são as pessoas”.

“Espero que, ao longo destes anos pontificado, haja uma abertura cada vez maior ao Espírito Santo”, acrescentou, desejando que a Igreja Católica “saiba acompanhar esse trabalho que Deus está a fazer no coração de cada homem e de cada mulher”.

O docente universitário acredita que Leão XIV vai ser um “defensor da paz”, elogiando a sua experiência como missionário e líder mundial da Ordem de Santo Agostinho, que lhe permitiu conhecer a realidade de vários países.

“Isso garante um lançamento à evangelização, à atenção às pessoas, um conhecimento de várias circunstâncias. E isso favorece muito o ouvir, o escutar”, sustentou.

No Peru, onde o agora Papa foi bispo, o religioso pôde encontrar “outra mentalidade, outra cultura”, até no contacto com a tradição Inca, e soube “realizar a missão”.

“Isso dá provas, já demonstradas, de uma pessoa que também saberá estar em Roma e saberá estar a ouvir os vários lugares que vão falar a fé”, acrescentou o padre Miguel de Salis Amaral.

Falando de Leão XIV como um “pastor”, que se apresentou ao mundo a falar de paz, o teólogo evocou a figura do primeiro Papa Leão, São Leão Magno (séc. V), “que saiu de Roma para ir ao encontro de Átila, que tinha invadido a Europa”.

“Vai tentar que os Átilas que há por aí, pelo mundo, sejam parados, mas parados não com a força das armas, como ele dizia: uma paz desarmada e desarmante”, insistiu.

O professor da Universidade Pontifícia da Santa Cruz compara a situação atual da humanidade ao que aconteceu antes da I Guerra Mundial (1914-1919), com conflitos generalizados, sublinhando que o Papa “fala da paz que vem de Cristo”.

“Essa paz é no coração do homem, mas é no coração das famílias, é no coração das pessoas, das sociedades. Penso que essa é uma mensagem de que o mundo está a precisar neste momento”, declarou.

O padre Miguel de Salis Amaral assinalou o “deslocamento do centro do mundo” para outras zonas geográficas, também com um esvaziamento da influência dos EUA.

“Penso que o Papa vai dar algumas sugestões, mas, obviamente, ele não manda no mundo. Pode ser uma voz para ajudar, porque temos situações de guerra e a ONU está a revelar-se, infelizmente, um instrumento obsoleto”, observou.

Quanto à escolha do nome, o entrevistado recorda que Leão XIII, falecido em 1903, falava nas “novas realidades” [Rerum Novarum], na sua encíclica social de 1891.

“Agora também há novas realidades e penso que, se calhar, esse nome do Leão também está chamado a dizer qualquer coisa nesta nova situação que o mundo está a viver: estamos a ver que tem instrumentos que são antiquados e que precisam de ser reformados”, concluiu.

O professor de eclesiologia e ecumenismo coordenou uma obra sobre “os desafios da reforma missionária” proposta pelo Papa Francisco, com docentes de várias instituições académicas de Roma.

PR/OC

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