Leão XIV: O Papa tem um «perfil de pontes» e é «o americano menos americano»

A análise de Octávio Carmo e Sónia Monteiro à «pessoa que reúne várias dimensões importantes para a Igreja» e que «atraiu muito o Colégio Cardinalício»

Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 23 mai 2025 (Ecclesia) – A teóloga Sónia Monteiro e o vaticanista Octávio Carmo destacam que Leão XIV é um Papa “de pontes”, na Igreja e na sociedade, de continuidade do Papa Francisco, marcado por um percurso missionário e de governação.

“Uma pessoa que reúne várias dimensões importantes para a Igreja, importantes para o tempo que vivemos. Uma pessoa que conhece o mundo, que viveu em diferentes partes do mundo, as Américas, muito diferentes entre elas, também conhecedor da Cúria Romana, um missionário, várias línguas, por isso, o americano menos americano, um diplomata”, assinalou Sónia Monteiro, em entrevista à Agência ECCLESIA, e acrescenta que pelo que “foi falando, foi escrevendo” parece também “centrado em Cristo, no Evangelho”.

O novo Papa, o cardeal Robert Francis Prevost, é o primeiro pontífice natural dos Estados Unidos da América (EUA), tem 69 anos, foi missionário e bispo no Peru (América Latina), e superior geral da Ordem de Santo Agostinho (OSA/Agostinianos); era o prefeito do Dicastério para os Bispos (Santa Sé) quando foi eleito o 267.º pontífice da Igreja Católica, no dia 8 de maio, após dois dias de Conclave, assumindo o nome de Leão XIV.

“O Papa Leão XIV tem um perfil de pontes, acho que terá sido isso que atraiu muito o Colégio Cardinalício para esta escolha de alguém que, podendo manter um rumo que está definido, o rumo que a Igreja seguiu nos últimos anos, desde Bento XVI e com o Papa Francisco, mas aproximar-se de alguns setores que tenham talvez olhado com receio para esse avanço, para esse percurso, e que agora se podem sentir, acho eu, mais confortáveis com a liderança de Leão XIV, pela sua forma de estar, por um perfil mais institucional”, desenvolveu Octávio Carmo, chefe de redação da Agência ECCLESIA.

A teóloga Sónia Monteiro “para além das pontes”, que todos são chamados a fazer, “não só o Papa”, a dialogar, a construir comunidades em torno da paz, lembra que Leão XIV centrou também a homilia da Missa inaugural do pontificado no “aspeto importante do testemunho”, no dia 18 de maio, um testemunho centrado “no cerne do Evangelho, que é o amor de Deus e o amor ao próximo”.

A entrevistada, jurista de profissão, a partir da congregação religiosa à qual pertence cardeal Robert Prevost, os Agostinianos, lembra que “Santo Agostinho é um dos teólogos que desenvolveu a questão da guerra justa”, não sabe “qual é a interpretação do Papa Leão XIV”, mas considera que “vai continuar um pouco esta linha do Papa Francisco, que a guerra não é uma inevitabilidade”.

“Será uma das coisas mais visíveis do atual pontificado, esta vontade prática de colocar a diplomacia da Santa Sé ao serviço da paz. Não só com mensagens, que são importantes, a voz do Papa, agora o Papa Leão XIV, é importante. Quando o Papa Francisco esteve internado sentimos a falta dessa voz de alguém que, de São Pedro, ou de onde fosse, chama a atenção do mundo para o sofrimento de pessoas inocentes”, desenvolveu Octávio Carmo, jornalista acreditado pela Santa Sé (vaticanista), recordando “a oportunidade” prática que existiu com o “corrupio de líderes mundiais a passar pelo Vaticano”, nas últimas semanas.

O Papa Leão XIV disse desejar uma Igreja “unida” para responder aos desafios colocados pelas desigualdades e os conflitos que marcam a humanidade, nessa homilia do último domingo, onde refletiu sobre a missão do Papa, assumindo intenção de “ir ao encontro das interrogações, das inquietações e dos desafios de hoje”.

Octávio Carmo destacou que, “pela primeira vez na era moderna da Igreja Católica”, há “um Papa missionário”, e esse desejo de uma Igreja unida “está colocado ao serviço de um objetivo, a missão”, estar ao serviço das comunidades católicas em todo o mundo, “mas também da sociedade, para que as pessoas vivam melhor e haja um sentido naquilo que elas vivem”.

“Este Papa Missionário faz-me lembrar muito a expressão do Papa Francisco, que foi repetida de diferentes formas, desta ‘Igreja em saída’. E parece-me que é este sentido da missão também de uma Igreja em saída. De uma Igreja que vai ao encontro das inquietações do mundo. Que cuida, sim, mas que não está fechada sobre si própria. Ele próprio afirma que não somos superiores ao mundo”, desenvolveu a teóloga Sónia Monteiro.

O Programa ‘70×7’ deste domingo, dia 25 de maio, vai apresentar diferentes perspetivas sobre o pontificado do Papa Leão XIV, a partir das 17h30, na RTP2.

PR/CB

“Fui escolhido sem qualquer mérito e, com temor e tremor, venho até vós como um irmão que deseja fazer-se servo da vossa fé e da vossa alegria, percorrendo convosco o caminho do amor de Deus, que nos quer a todos unidos numa única família” – Papa Leão XIV (homilia na Missa de início do pontificado)

“Esta expressão, temor e tremor, faz-nos lembrar, claramente, as cartas de São Paulo aos Coríntios, aos Filipenses. De alguma forma, quando li a homilia, senti que não era verdadeiramente uma homilia, mas mais uma carta de um pastor à sua comunidade, mas também a todas as pessoas, aos líderes, aos líderes políticos, às pessoas de boa vontade, aos que o ouviam, à sociedade em geral”, partilhou Sónia Monteiro.

A teóloga desenvolveu investigação sobre o perdão, e acrescenta que a expressão ‘temor e tremor’, “que tem a ver com um lugar de reverência, de louvor diante de Deus e do Filho encarnado”, é uma expressão que “remete para a responsabilidade da fé”, e uma “expressão muito rica” que dá “imensos sinais” de como é que este líder, “o Papa Leão XIV, se apresenta à sua comunidade”.

“De alguma forma, se formos à carta, em particular à carta de São Paulo aos Filipenses, ao capítulo 2, encontramos também o hino da humildade de Cristo, que de condição divina desce ao nosso encontro e assume a nossa humanidade. Eu acho que esta também pode ser uma grelha de leitura desta homilia. Um líder que se apresenta, acima de tudo, com uma profunda humildade” concluiu a jurista.

«Quem dizes que eu sou?» As palavras de Jesus que levaram Sónia Monteiro a doutorar-se em Teologia – Emissão 15-05-2025

 

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