Leão XIV: O Papa que jogou ténis no domingo anterior ao Conclave e diariamente rezava e comia com os confrades agostinhos

D. Luís Marin identifica no novo Papa um «homem de Francisco», com «espiritualidade sinodal» e mariana, um missionário da «linha da frente», «construtor de pontes» que «não gosta de trincheiras mas de diálogo»

Foto Agência ECCLESIA/PR, D. Luís Marin, OSA

Paulo Rocha, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 10 mai 2025 (Ecclesia) – D. Luis Marín, subsecretário do Sínodo dos Bispos, disse hoje que o cardeal Robert Francis Prevost esteve na residência dos agostinhos no último domingo, antes do conclave, a jogar ténis e era presença diária na residência dos religiosos.

“No domingo anterior estava a praticar ténis. O desporto ajudava-o fisicamente, espiritualmente e mentalmente. Todos os dias, às sete e meia, o cardeal Prevost vinha connosco à capela; vinha um pouco mais cedo para rezar, sozinho, para meditar, e partilhava a oração das laudes, connosco e concelebrava a Eucaristia. E partilhava a refeição. Todos os dias, à uma hora, um pouco mais tarde, vinha comer connosco. Sentava-se em diferentes lugares, partilhava o diálogo, a mesa, a palavra, e depois ia trabalhar. Se tivéssemos uma festa, um aniversário, uma festa da comunidade, ele podia vir connosco e estar um pouco connosco”, conta aos jornalistas portugueses, o confrade D. Luis Marín que reside na Cúria dos Agostinhos desde 2008.

“É um agostiniano, é um irmão, e para nós é uma alegria que tenha sido eleito Papa”, sublinha.

Foto Agência ECCLESIA/PR, D. Luís Marin, OSA

D. Luis Marín estava em casa, que tem vista para a Praça de São Pedro e para a varanda da Basílica, quando ouviu o nome do cardeal Robert Francis Prevost.

“Estávamos a ouvir o resultado do conclave, e saiu o cardeal proto-diácono e, quando ele disse Robert Francis, todos nós explodimos de alegria, quase não precisámos de ouvir o seu apelido. Depois seguimos também o belo discurso que ele fez ao mundo, ao povo de Deus, depois de ter sido eleito, daqui, de casa”, recorda o atual subsecretário do Sínodo dos Bispos.

Monge agostinho, D. Luís Marin reside em Roma, na Cúria Geral de sua Ordem, onde foi arquivista geral, também assistente geral dos agostinianos e presidente do Institutum Spiritualitatis Augustinianae.

Dias antes do conclave, a eleição não era um assunto abordado: “Não queríamos colocar-lhe esse peso e podia ser algo violento para ele. De uma forma muito simpática, dizia sempre: «Estou nas mãos de Deus, o Espírito Santo é que sabe»”, recorda.

Sobre o novo Papa, o bispo espanhol indica ser um homem de “pontes”, que rejeita “trincheiras” e o confronto.

“É um homem de diálogo, é preciso dialogar, há que ouvir. Ele vai ser uma voz de autoridade. Não há dúvida sobre isso. No mundo. E vai falar para toda a gente. É um homem de unidade. Acredito que ele construirá pontes. Será uma voz de autoridade, será escutado. Esperemos que neste concerto do mundo ele vai ser um ponto de referência. É também um missionário da evangelização. Ser evangelizador está no seu ADN”, conta.

O confrade agostinho olha para as primeiras palavras de Leão XIV, quando se dirigiu aos milhares de pessoas na Praça de São Pedro, e reconhece a preparação no discurso sabendo o que queria dizer ao referir-se à “paz, a centralidade de Cristo, a justiça, a comunhão, a inclusão”, em suma, sinais orientadores “do pontificado”.

D. Luís Marin reconhece também uma continuidade com o Papa Francisco

“Ele é um homem do Papa Francisco. Falavam todas as semanas, todos os sábados de manhã. O Papa Francisco nomeia-o bispo e leva-o para Roma para uma missão muito importante. Fez dele um cardeal. É um homem de Francisco mas sem ser fotocópias. O estilo é diferente, não podemos ser fotocópias”, sublinha.

O bispo espanhol explica que Leão XIV será “próximo de todos”, vai ter capacidade de “atrair toda a gente”, “ouvir todas as vozes mesmo com sensibilidades diferentes”.

Foto Agência ECCLESIA/PR, D. Luís Marin, OSA

A escolha do nome, recorda a herança de Leão XIII, ligado à Doutrina Social da Igreja.

“Este novo mundo que está a surgir, a inteligência artificial, a questão das redes sociais a que a Igreja não pode ficar alheia, tem de dar uma resposta. Temos de saber ler os sinais deste tempo. Esta visão alargada, o horizonte de futuro que Leão XIII tinha, Leão XIV tem sem dúvida, e esta é a síntese do que será o pontificado do Papa Leão”, traduz.

D. Luís Marin fala ainda da “espiritualidade sinodal” que marca os agostinhos, da “escuta e comunhão” que estão “incrustadas” no carisma da Ordem.

Tendo participado no Sínodo da Amazónia, e nas assembleias do Sínodo dos Bispos dedicadas à sinodalidade, o confrade reconhece intervenções “bonitas e ponderadas” do então cardeal Robert Prevost.

“Foi um pai sinodal e teve intervenções muito bonitas, muito ponderadas. Sempre de acordo com a linha sinodal da Igreja. E também participa, tem participado em várias comissões, em vários grupos de estudo. O compromisso sinodal do Papa Leão XIV é muito claro”, indica.

O subsecretário do Sínodo dos Bispos fala ainda de um “missionário da linha da frente”, uma pessoa com as “questões sociais no coração”, conhecedor profundo da América Latina, “com um grande sentido de defesa dos direitos humanos, das minorias”, sendo a “voz daqueles que não têm voz”, e com uma “uma grande espiritualidade mariana”.

PR/LS

Partilhar:
Scroll to Top