Cardeal D. Manuel Clemente diz que pontificado confirma a centralidade que a América ganhou no catolicismo

Paulo Rocha, enviado da Agência Ecclesia ao Vaticano
Roma, 09 mai (Ecclesia) – O cardeal D. Manuel Clemente afirmou hoje que a diversidade de proveniências familiares, de presença em várias geografias e de experiência pastoral em diferentes setores do novo Papa «ficam muito bem na centralidade da vida da Igreja».
“São misturas curiosas e ficam muito bem na centralidade da vida da Igreja, porque transportam tudo isso, não só no sangue, mas também em sentimentos básicos, naquilo que depois acaba por defini-los”, referiu o patriarca emérito de Lisboa em declarações aos jornalistas no Pontifício Colégio Português, em Roma
D. Manuel Clemente lembrou semelhanças no percurso biográfico do Papa Francisco e do Papa Leão XIV, nomeadamente a descendência familiar de geografias distantes, a emigração, a pertença a congregações religiosas, sendo um natural da América do Sul e outro da América do Norte, ponto de partida para uma história de vida que pode gerar “convergência”.
“O facto de um ter partido do norte e o outro ter partido do sul, traz aqui uma convergência que eu acho que é muito interessante”, afirmou, acrescentando que os pontificados não italianos eram da Europa, da Polónia e da Alemanha, e os dois recentes são da América, o que traz uma “nova centralidade” do continente na vida da Igreja Católica.
D. Manuel Clemente lembrou as reuniões preparatórias do Conclave, onde os cardeais fizeram intervenções sobre a vida da Igreja Católica na atualidade e um perfil “mais ou menos delineado” do Papa a ser escolhido pelo Colégio dos Cardeais.
“Isso explica porque é que, em dois dias, nós conseguimos chegar a uma eleição com mais de dois terços dos presentes que, em princípio, não seria fácil se nós não tivéssemos feito toda essa conversa anterior”, afirmou, referindo que “correu tudo de uma maneira muito calma, muito amistosa e as votações sucederam-se”.
O cardeal Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos, foi eleito esta quinta-feira como Papa, após dois dias de Conclave, assumindo o nome de Leão XIV.
O primeiro pontífice norte-americano, de 69 anos de idade, foi missionário e bispo no Peru, tendo ainda sido superior geral da Ordem de Santo Agostinho.
O cardeal D. Manuel Clemente, especialista em História da Igreja, referiu-se à escolha do nome “Leão XIV” por parte do cardeal Prevost, sublinhando que “o primeiro e o último, antes dele, são muito significativos”.
“O primeiro é São Leão Magno, que foi um Papa decisivo para a definição e até a afirmação do que é o Bispo de Roma no contexto da Igreja”.
Sobre o Papa Leão XIII, “é o homem que começa uma série de encíclicas, que nós chamamos de Doutrina Social da Igreja”, onde se abordam questões novas no, sobre “coisas novas”, nos finais do século XIX, nomeadamente a questão operária.
“Ele tem, em si próprio, um conjunto de circunstâncias muito propícias a este papel”, afirmou o historiador, destacando duas características do atual Papa: a serenidade a proveniência diversificada.
“Uma delas é a sua característica pessoal de grande serenidade. Certamente fomos todos sensíveis à maneira como ele apareceu ontem, na varanda de São Pedro, e numa circunstância destas… É um homem sereno, não há ali precipitação”, sustentou.
D. Manuel Clemente destacou também como característica a “a sua proveniência um pouco a todo lado”.
“Nas veias dele corre sangue da Europa, corre sangue da América, e esta sua característica, esta proveniência migrante, em todo o sentido da palavra, não apenas geográfico, mas também cultural, é muito importante para hoje, e concretamente no país de que ela é natural, nos Estados Unidos da América, com as circunstâncias que são conhecidas em relação aos migrantes”, afirmou.
O patriarca emérito de Lisboa disse que o novo Papa garante a continuidade do percurso sinodal, porque é “um homem e escuta”, acrescentando que tem um conjunto de características que “auguram, de fato, um pontificado muito feliz”.
PR