Padre agostiniano João Miguel Silva aponta o novo Papa como «tímido, mais reservado, mais discreto» mas muito bem preparado com uma grande «visão da Igreja e do mundo»

Lisboa, 11 mai 2025 (Ecclesia) – O padre João Miguel Silva, agostiniano, disse que o primeiro trabalho do Papa Leão XIV, enquanto ainda padre na diocese de Chiclayo, no Peru, foi para “estar com os últimos” numa “opção preferencial pelos pobres”.
“A presença missionária na América Latina, no Peru em concreto, em Chiclayo, em Iquitos, em Apurímac, é uma presença verdadeiramente com os últimos, com os mais pobres, desde o que é a sua vida diária, desde o sofrer as suas dificuldades, procurar levar uma palavra de alento e ajudá-los a sair dessa situação. É a opção preferencial pelos pobres que sublinham o Vaticano II e que o Papa Francisco sublinhou – não se trata somente de reconhecer Cristo nos pobres, mas ajudá-los a sair dessa situação, lutar por um mundo mais justo entre todos. E esse foi o trabalho primeiro do padre Prevost, com aquelas comunidades, e depois com o Bispo”, explica o religioso ao programa 70×7.


O padre João Silva reconhece um homem “tímido, mais reservado, mais discreto”, mas nem por isso “menos próximo”: “É muito próximo e assim o vimos desde o primeiro momento”, recorda.
O sacerdote português dá conta de um encontro, em 2010, na casa da Cúria agostiniana, em Roma, durante uma passagem sua no percurso de formação.
“Durante a nossa estada, ele convidou-nos para ir à Cúria, uma noite. Era o Superior-Geral da Ordem, e pudemos privar um pouco com ele. Recordo-me que nos perguntou como estava a correr a formação, dando-nos ânimo e alento para continuar, na altura três noviços que estávamos a começar o período de formação. Retenho um homem atento, próximo e, sobretudo – já ouvi várias pessoas dizerem isto só com a imagem da varanda e é certo – é um homem sereno, tranquilo, muito trabalhador, muito próximo, muito organizado e muito discreto”, indica.
O primeiro Papa norte-americano, e também da Ordem de Santo Agostinho (OSA), foi eleito na quinta-feira, após dois dias de Conclave, sucedendo a Francisco, que faleceu a 21 de abril.
A Missa para a “solene inauguração” do pontificado do Papa vai decorrer a 18 de maio, pelas 10h00 (menos uma em Lisboa), na Praça de São Pedro.
O religioso português dá conta de um homem que foi superior geral durante 12 anos, e que por isso, viajou pelos cinco continentes, ganhando uma visão “da Igreja e do mundo”.
“É um homem com muita experiência, não só de governo, mas também de sensibilidade, do mundo. A OSA está em todos os continentes, portanto tem uma experiência e uma visão de Igreja e, ao mesmo tempo, uma preparação também académica, intelectual muito forte”, explica.
Sendo um “canonista”, (formação em Direito Canónico), também com “formação na Matemática e em Teologia”, o padre João Silva sublinha a preparação académica do Papa Leão XIV.
O jornalista Octávio Carmo indica a escolha do novo Papa como uma “solução de consenso” perante “algumas tensões que se foram sentindo após a morte do Papa Francisco sobre o que deveria ser o perfil do novo pontífice”.
“Leão XIV acaba por criar essas pontes. Tem uma origem geográfica que é interessante do ponto de vista mediático, tem experiência missionária, tem experiência de governo e que foi chamado, não tem uma experiência muito grande como cardeal, foi chamado em 2023, apesar de tudo, para trabalhar na Cúria e para colaborar com o Papa Francisco no momento em que o Papa Francisco tinha em andamento o seu grande processo, que era o processo sinodal, e no qual o cardeal Prevost participou. Portanto, acredito que essa capacidade de gerar continuidade e de conhecer muito bem todos os vários continentes e a realidade da Igreja católica, será muito significativo”, indica o vaticanista.
Octávio Carmo chama a atenção para os grupos de trabalho que foram criados para continuar a reflexão sobre temas específicos abordados no processo sinodal, e a participação do cardeal Robert Francis Prevost neles.
A escolha do nome, numa alusão a Leão XIII, autor da sistematização da Doutrina Social da Igreja, é vista pelo vaticanista como uma referência a um “momento também fundamental” que o mundo atravessa.
“Este é um momento também fundamental, porque há um antes e um depois da relação da Igreja com este mundo da tecnologia, o impacto que a inteligência social vai ter no mundo do trabalho, na distribuição da riqueza”, identifica.
O padre João Silva dá ainda conta da presença da OSA em Portugal há 50 anos, após o regresso das ordens religiosas e que têm um foco na pastoral juvenil através da Juventude Agostiniana que conta com cerca de 200 associados que se “regem pelos pilares da formação, da interioridade, da comunidade e do serviço”.
HM/LS