Leão XIV: «A proximidade permite a compreensão dos quotidianos» – Alfredo Teixeira

O diálogo da Igreja com a sociedade torna-se “difícil”, se esta se apresentar “às pessoas como um lugar onde já está tudo construído e os lugares definidos”

Foto: João Cláudio Fernandes

Lisboa, 12 mai 2025 (Ecclesia) – O professor universitário, Alfredo Teixeira, considera que só a “proximidade permite a compreensão dos quotidianos” e com a eleição do novo Papa, o pontificado de Leão XIV tem que responder a “novos desafios”.

“Só a proximidade permite a compreensão dos quotidianos, da esfera de intimidade das pessoas, dos problemas mais decisivos para a construção das pessoas na sua subjetividade, na sua relação com os outros e, no fundo, na construção das nossas próprias sociedades”, disse o professor da Universidade Católica Portuguesa (UCP) à Agência ECCLESIA.

Com a eleição de Leão XIV, a 08 de maio de 2025, ele vai ter de continuar a responder a “este duplo desafio”.

“Construir uma lógica eclesial que, obviamente, como é próprio de uma instituição que vive da sua tradição, procure reconhecer aquilo que é a continuidade fundamental de uma mensagem que se quer continuar a transmitir, mas, ao mesmo tempo, encontrar a forma dela ser significante para as pessoas que vivem, para as sociedades que hoje se estão a construir”, realçou, antes da eleição do cardeal Robert Prevost como Papa Leão XIV, Alfredo Teixeira.

O professor da UCP sublinha que as instituições nas sociedades “viveram problemas na construção do seu crédito” porque “as sociedades desenvolveram dinâmicas de afirmação do indivíduo e os indivíduos começaram a construir aquilo que pensam, a forma como projetam as suas vidas, de forma mais emancipada em relação às instituições”.

Apesar da Igreja Católica ser uma instituição com dois mil anos, o diálogo com a sociedade torna-se “difícil”, se esta apresentar-se “às pessoas como um lugar onde já está tudo construído e onde estão todos os lugares já definidos”.

“Se quiseres entrar, entra, mas o teu lugar já está construído”, esta é “uma postura, do ponto de vista do diálogo com as sociedades, que torna difícil esse diálogo e torna difícil a capacidade das instituições de responderem àquilo que as pessoas procuram”, salientou Alfredo Teixeira.

As instituições vivem da sua própria memória, mas elas têm que “fazer dessa memória uma memória viva e não uma língua morta”, acrescenta o professor universitário.

A Igreja católica, como instituição de memória, tem o “desafio permanente de fazer da memória não um peso morto, mas um lugar onde é possível recriar uma resposta aos problemas que as pessoas vivem hoje”, avançou.

Em relação ao conclave e de um grupo restrito de pessoas que se reúne à porta fechada e que comunica para o exterior através de fumo, Alfredo Teixeira afirma que “o mundo vê isto com certo exotismo”, todavia há uma “dimensão interessante” que “até poderia ser multiplicada noutros contextos eclesiais”.

“Esta experiência de encontro, de diálogo, de persuasão que são aspetos essenciais nas sociedades democráticas, onde as pessoas, para construírem o seu futuro, têm que dialogar, têm que perder alguma coisa para que todos ganhem, a política é isso mesmo e de alguma forma, o conclave também tem isso”, disse Alfredo Teixeira.

A capacidade que determinadas figuras têm de transportar os valores para a esfera pública é um aspeto “muito significativo das sociedades, um desafio muito grande para um Papa”, finalizou Alfredo Teixeira numa entrevista ao Programa ECCLESIA emitido esta segunda-feira na RTP2

LS/LFS

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