Padre Tiago Machado, Diocese de Lamego
De entre os vários símbolos com os quais a tradição judaico-cristã se refere a Jesus Cristo, como o do cordeiro, do rebento da árvore de Jessé, ou até da pedra angular, encontramos no livro do Génesis a figura do leão: «Tu, meu filho Judá, és como um jovem leão» (Gen 49, 9). Este símbolo, embora aplicado aqui a um dos filhos de Israel, permanecerá com esta tribo ao longo da história e é exaltado com particular relevo em referência a Jesus, filho de José, descendente da tribo de Judá.
O mesmo símbolo é repescado no livro do Apocalipse de São João quando, não se encontrando qualquer pessoa no Céu, na terra e debaixo da terra que pudesse abrir o livro lacrado com sete selos, surge «o Leão da tribo de Judá e descendente do rei David» o qual «alcançou a vitória e vai quebrar os sete selos e abrir o livro» (Ap 5, 5).
Na história da Igreja, este nome foi adoptado pela primeira vez por um Papa no ano 440. São Leão magno, doutor da Igreja, marcou profundamente a teologia cristã, a sociedade da época e o governo da Igreja durante os 21 anos em que foi bispo de Roma. Desde então já lhe sucederam mais treze Papas com o mesmo nome, cinco dos quais já foram canonizados.
Também os santos não deixaram passar despercebido este símbolo. É atribuído a Santo António de Lisboa uma famosa oração que o mesmo propôs a uma pobre senhora atormentada por fortes tentações. Mais tarde, no ano de 1585, o Papa Sisto V ordenou que essa oração fosse inscrita no obelisco principal da praça de São Pedro, no Vaticano: «Eis a cruz do Senhor! Fugi forças inimigas! Venceu o Leão de Judá, a raiz de David! Aleluia!».
A última vez que se destaca este símbolo é no pontificado de Leão XIII, ao terminar o século XIX. Profundamente preocupado com a revolução industrial e as consequências sociais dela derivadas, este pontífice escreve uma das mais famosas encíclicas da área da doutrina social da Igreja, a Rerum Novarum (1891). Partindo daí, vários dos seus sucessores deram seguimento a esta dimensão da doutrina cristã.
Assim, parece ser um denominador comum da devoção leonina uma atenção redobrada na defesa da Igreja contra o maligno assim como uma atenção especial à dimensão social do Corpo Místico de Cristo.
Aparecendo um Papa Leão em média a cada 140 anos, somos brindados no século XXI com a nomeação de Dom Robert Francis cardeal Prevost para bispo de Roma, sucessor de Pedro e Sumo Pontífice da Igreja Universal, o qual assume este nome carregado então de muito simbolismo teológico.
Descendente de imigrantes, Leão XIV possui raízes genealógicas em França, Itália, Espanha, e na ilha Hispaniola (dividida entre a República Dominicana e o Haiti). Nascido em Chicago, Robert Francis deixa a casa paterna aos 14 anos de idade para ingressar no seminário menor. Formou-se em Matemática e Teologia, e doutorou-se em Direito Canónico. Professou os votos de pobreza, castidade e obediência na Ordem de Santo Agostinho e exerceu em grande parte o seu trabalho apostólico na missão agostiniana no Perú. Após numerosos e variados encargos pastorais, foi nomeado bispo de Chiclayo e, passados quase dez anos, foi chamado pelo Papa Francisco a trabalhar na cúria romana e a receber o barrete cardinalício. Nos desígnios insondáveis de Deus, foi eleito Papa no dia 8 de Maio.
Logo nas primeiras horas após assumir a nomeação de sucessor de Pedro, Leão XIV fundou o seu pontificado numa paz cristocêntrica e confiou-o à proteção maternal de Maria para que assim possamos «caminhar todos juntos em direção à pátria que Deus nos preparou» (bênção Urbi et Orbi, 8/05/2025).
Venceu o Leão de Judá!
Tiago Machado, Diocese de Lamego