É preciso «saber perder tempo e entrar em horas mais lentas», destaca responsável pelo «Akampaki»
Deão, Viana do Castelo, 05 ago 2011 (Ecclesia) – As atividades organizadas pela Igreja Católica nas férias de verão são uma oportunidade para a mudança de vida e tomada de decisões importantes, que frequentemente ocorrem entre lágrimas e desassossegos.
“Houve gente que casou depois de se ter conhecido no acampamento e há pessoas que entraram na vida religiosa e nos seminários, fruto de uma caminhada maior”, contou à Agência ECCLESIA o frei João Costa, um dos organizadores da quinta edição do ‘Akampaki’.
As férias requerem habituação do corpo e dos processos mentais: “Nos primeiros dias as pessoas vão-se despindo de hábitos, costumes, ritmos e rituais”, explica o religioso carmelita, acrescentando que é preciso “saber perder tempo e entrar em horas mais lentas”.
“As pessoas andam a 200 à hora mas aqui envolvemo-nos num ritmo muito vagaroso, permitindo que o Espírito nos acompanhe e que nós acompanhemos o Espírito”, refere frei João Costa sobre a iniciativa que atravessa esta semana de domingo a domingo, num espaço localizado 15 km a oeste de Viana do Castelo e 400 km a norte de Lisboa.
A passagem para um estilo de vida mais distendido é uma oportunidade para balanços pessoais, mas nem sempre é fácil: “Há adultos que enchem a sua vida com muitas coisas para não entrarem em comunhão consigo mesmos, evitando assim escutar as suas feridas e dores”.
“Há choques, choros e ansiedade porque de repente ficamos sem os confortos e as rotinas de lá de fora. Por isso as pessoas entram mais dentro de si, o que por vezes se torna um processo muito difícil. Têm havido aqui experiências muito duras”, diz o frei João Costa, responsável pelo acampamento dirigido a participantes dos 15 aos 35 anos.
A natureza favorece a revisão de vida: “Temos o rio Lima aos nossos pés, uma veiga muito fértil de milho, vinha, oliveiras, castanheiros e pinheiros. É um lugar de sossego e de paz, juntamente com os animais que nos visitam”, afirma o carmelita, que elege o “santuário de Nossa Senhora do Akampki” como o seu local favorito.
“A porta obriga-nos a alguma ginástica, fazendo perceber que entramos numa zona diferente das outras, dedicada à oração; logo depois estamos numa pequena clareira, diante das árvores que nos acolhem e abraçam, tendo por teto as estrelas e o céu”, descreve o frei João Costa.
Os momentos de recolhimento e relação com Deus decorrem com os 30 participantes “sentados nas mantas, sobre o chão, vivenciando momentos muito intensos de oração entre a natureza, os silêncios, os ruídos, o Evangelho e as palavras de Santa Teresa de Jesus” (1515-1582), espanhola cofundadora dos Carmelitas.
“O acampamento não está tanto voltado para o beato mas para o crescimento humano e espiritual, em grupo e na família”, indica o religioso, para quem “o grande segredo” da iniciativa está no ambiente “de serenidade, entreajuda e união” que se estabelece entre os participantes, ajudados pelas reflexões propostas pelos oradores convidados.
“Já estou cheio de fazer retiros em casas. Este caminhar no pó, este contacto com as árvores, os bichos e a natureza pacifica-nos, tornando-se uma grande mediação que nos renova para a nova batalha que chega no fim de agosto”, conclui o frei João Costa, apontando para o reinício das aulas e do trabalho.
RM