Margarida Alvim aborda nova encíclica do Papa Francisco
Lisboa, 18 jun 2015 (Ecclesia) – A Fundação Fé e Cooperação (FEC) encara a nova encíclica do Papa como um “documento de retaguarda essencial” ao trabalho que as organizações de cooperação para o desenvolvimento realizam, no setor do meio ambiente.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, Margarida Alvim, que integra o organismo católico, realça que o texto de Francisco “legitima” o esforço que tem sido feito e “abre uma janela de esperança” para que a mensagem do respeito pela natureza e os seus recursos possa chegar, “de uma vez por todas”, aos decisores políticos e à sociedade em geral.
Mesmo dentro da Igreja Católica, será um documento que “irá acordar, desinstalar as pessoas”, já que se trata de um tema onde ainda subsistem “muitos preconceitos”.
“Ou é olhado com indiferença ou com ironia, falta uma consciência clara da sua importância”, aponta aquela responsável.
Integrada no Departamento de Educação para o Desenvolvimento e Advocacia Social da FEC, Margarida Alvim lida de forma próxima com a temática do ambiente, sobretudo na influência que ela tem sobre a subsistência das populações e comunidades mais carenciadas.
Nesse sentido, destaca o facto da encíclica do Papa “aliar o tema ambiental à questão da justiça social e da luta contra as causas estruturais da pobreza” e de apontar para a necessidade de combater o problema “já”, no imediato.
“Não é só uma questão das futuras gerações. Às vezes quando se fala das futuras gerações, não nos toca tão perto e não nos sentimos tão mobilizados, deve-se pensar já no impacto que tem nos mais frágeis e nos mais vulneráveis hoje”, frisa Margarida Alvim.
Como “organização de identidade cristã”, a FEC tem “assentado a sua ação nos princípios da Doutrina Social da Igreja e nos valores do Evangelho”, privilegiando a criação de “espaços de diálogo e de tomada de consciência”, sempre numa perspetiva “positiva e de construção”.
Segundo Margarida Alvim, “muitas vezes o problema é que as organizações da sociedade civil estão de um lado da barricada e as empresas do outro e é preciso desconstruir estes preconceitos”.
A responsável da FEC refere que este assunto “não pode ser visto como uma guerra mas sobretudo como uma conversão que é preciso fazer”, uma vez que está em causa “um processo com raízes instaladas, que não mudam de um momento para o outro, modelos muito organizados pelo lado económico, pela maximização do lucro, pela eficácia e apresentação de resultados”.
“E toda a realidade vista a essa luz, e valorizada por esse prisma, torna-se alienável e descartável, como o Papa Francisco tem vindo a referir”, lembra Margarida Alvim.
Já “na sua primeira homilia como Papa”, em 2013, o Francisco “falava da necessidade de cada pessoa se afirmar como guardiã da Criação”.
“Não é apenas cuidar do ambiente, porque às vezes metemos estes temas de uma forma muito superficial, resumimo-nos à questão da reciclagem, da poupança de água, mas é muito mais fundo do que isso”, conclui a responsável da FEC.
JCP