Papa questiona quem promove defesa da natureza sem preservar vida humana
Cidade do Vaticano, 18 jun 2015 (Ecclesia) – O Papa afirma na sua nova encíclica ‘Laudato si’, publicada hoje pelo Vaticano, que a preocupação pelo meio ambiente tem de estar “unida ao amor sincero pelos seres humanos” e a um compromisso social.
“Quando, na própria realidade, não se reconhece a importância dum pobre, dum embrião humano, duma pessoa com deficiência – só para dar alguns exemplos –, dificilmente se saberá escutar os gritos da própria natureza. Tudo está interligado”, explica.
Segundo Francisco, “uma vez que tudo está relacionado”, também não é compatível a defesa da natureza com a apologia do aborto ou de “experiências com embriões humanos vivos”.
“Não parece viável um percurso educativo para acolher os seres frágeis que nos rodeiam e que, às vezes, são incómodos e inoportunos, quando não se dá proteção a um embrião humano ainda que a sua chegada seja causa de incómodos e dificuldades”, escreve, num documento que liga a ecologia ambiental à ecologia humana.
“A própria vida humana é um dom que deve ser protegido de várias formas de degradação”, pode ler-se.
O Papa insurge-se contra o que classifica como “esquizofrenia permanente” e “exaltação tecnocrática”, que não reconhece aos outros seres um valor próprio, chegando a “negar qualquer valor peculiar ao ser humano”.
“Pensando no bem comum, hoje precisamos imperiosamente que a política e a economia, em diálogo, se coloquem decididamente ao serviço da vida, especialmente da vida humana”, apela.
Francisco entende que “um sentimento de união íntima com os outros seres da natureza” só pode ser verdadeiro “se ao mesmo tempo não houver no coração ternura, compaixão e preocupação pelos seres humanos”.
O Papa critica a “a compra de órgãos dos pobres com a finalidade de os vender ou utilizar para experimentação” bem como “o descarte de crianças porque não correspondem aos desejos dos seus pais”.
A encíclica coloca a Igreja do lado contrário de quem acredita que o planeta está sobrepovoado ou defende um controlo populacional, criticando “pressões internacionais sobre os países em vias de desenvolvimento, que condicionam as ajudas económicas a determinadas políticas de ‘saúde reprodutiva’”.
“Em vez de resolver os problemas dos pobres e pensar num mundo diferente, alguns limitam-se a propor uma redução da natalidade”, lamenta o Papa.
Francisco considera preocupante constatar que alguns movimentos ecologistas defendem a integridade do meio ambiente, mas não aplicam estes mesmos princípios à vida humana.
“Esquece-se que o valor inalienável do ser humano é independente do seu grau de desenvolvimento a ligação íntima que há entre Deus e todos os seres vivos”, afirma.
O Papa convida ao compromisso comum dos que estão empenhados “na defesa da dignidade das pessoas” para enfrentar a manifestação do pecado “nas guerras, nas várias formas de violência e abuso, no abandono dos mais frágeis, nos ataques contra a natureza”.
A encíclica é o grau máximo das cartas que um Papa escreve e a expressão 'Laudato si’' (louvado sejas) remete para o 'Cântico das Criaturas' (1225), de São Francisco de Assis, o religioso que inspirou o pontífice argentino na escolha do seu nome.
OC