«Laudato si»: Especialista da Santa Sé diz que o Papa resgata noção de «ambiente» através da relação natureza-sociedade

Padre Michael Czerny falou em conferência dedicada à nova encíclica de Francisco

Lisboa, 11 set 2015 (Ecclesia) – O jesuíta Michael Czerny, que integra o gabinete do presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, disse hoje em Lisboa que o Papa dá uma nova dimensão ao debate sobre o “ambiente”, ao recordar a relação natureza-sociedade.

O colaborador do organismo da Santa Sé que auxiliou Francisco na elaboração da encíclica ‘Laudato Si’ falava na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, durante a conferência ‘Cuidar da Casa Comum: que ecologia?’.

A intervenção partiu das interpretações da palavra “ecologia”, que está ligada ao termo “verde”, às “criaturas” da natureza, ao clima, para passar à definição de “ambiente” dada pelo Papa, que não é algo “verde, lá fora”, mas que começa em cada um e se estende para lá do que se “imagina”.

Nesse sentido, precisou que Francisco dá um maior destaque à “relação entre a natureza e a sociedade que vive nela, com os seus indivíduos”.

O orador citou o número 139 da mais recente encíclica papal, na qual se refere que rejeita uma interpretação da natureza como “algo separado”, um “palco” ou os “bastidores” de uma peça, lembrando que ela está “ligada” às escolhas do ser humano.

O padre Michael Czerny afirmou que, neste momento, “há muitas realidades periféricas onde estão a acontecer coisas boas”, convidando todos a acompanhar o Papa através da leitura da ‘Laudato si’, “uma viagem de vida, uma viagem de esperança”.

Para o especialista, a encíclica recorre à Ciência para “tomar dolorosamente consciência”, para “sofrer” e, em consequência, para “agir”, face ao “sofrimento da realidade, ao sofrimento da natureza e ao sofrimento dos pobres”.

O Papa consegue ligar as preocupações ambientais e sociais, sublinhando que estão ligadas à mesma “crise”.

Por isso, a ecologia de Francisco é “integral”, abrangendo questões ambientais, sociais, económicas, culturais e do quotidiano.

A sua proposta de solidariedade estende-se às gerações presentes e futuras, “aos que ainda não nasceram”, convidando todos ao “diálogo” necessário para encontrar soluções.

A conferência vai contar ainda com intervenções de Elena Lasida, professora do Instituto Católico de Paris, e Filipe Duarte Santos, físico da Universidade de Lisboa, que coordenou os primeiros estudos multidisciplinares sobre o impacto das alterações climáticas em Portugal.

Mais de 140 pessoas lotaram o auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian, numa conferência que acontece no âmbito dos preparativos para a Cimeira de Paris, sendo promovida pela Associação Casa Velha – Ecologia e Espiritualidade, em parceria com a Fundação Fé e Cooperação (FEC), a Fundação Gonçalo da Silveira (FGS), a Agência ECCLESIA, a Rede Inaciana de Ecologia e a Rede CIDSE.

A 21.ª Conferência das Partes (COP21) sobre Alterações Climáticas, que vai decorrer no início de dezembro, pretende alcançar na capital francesa um acordo mundial sobre metas vinculativas de redução de emissões de gases com efeito de estufa para substituir o Protocolo de Quioto.

OC

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Agência ECCLESIA

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