«Laudato Si»: Documento de Francisco confirmou associações, deu origens a movimentos, e está presente na educação

Em Portugal são exemplo as associações «Casa Velha» e «Nascentes de Luz», e o internacional Movimento Laudato Si

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Ourém, 26 out 2025 (Ecclesia) – A encíclica do Papa Francisco ‘sobre o cuidado da Casa Comum’ confirmou o trabalho de associações, deu origem a movimentos, e projetos educativos, que partilharam as suas realidades no encontro ‘10 anos da Laudato Si’ – celebrar o caminho, animar à ação’.

“Foi uma grande emoção receber uma encíclica do Papa Francisco que confirmava o que nós estávamos aqui a experimentar. A ‘Casa Velha’ é uma quinta agrícola, agroflorestal, numa zona de declínio rural que se tem vindo também a reconverter, a encontrar outro sentido. Muito nesta questão da crise rural e da crise também das pessoas”, disse Margarida Alvim, cofundadora da ‘Casa Velha’, em declarações à Agência ECCLESIA.

Segundo e entrevistada, na ‘Casa Velha’ são “muito pequeninos”, mas estão “em ligação com um desafio global”, por isso, a “conversão de cuidar da Casa Comum, cuidar uns dos outros”, que tinham começado a fazer em 2008 “sem pensar grande”, “foi um reconhecimento público e oficial” e começaram a ser procurados, “cada vez mais, como lugar onde podiam também experimentar o que é isso da Laudato Si’”.

“A ‘Casa Velha’ foi ficando casa nova, continua velha, mas sobretudo é um lugar de encontro, de conversão ecológica, dizemos hoje em dia. Marca todos os desafios que o Papa Francisco apresenta na encíclica, a nível de estilos de vida, a nível das políticas, tantos temas que toca e que aqui experimentamos”, desenvovleu.

‘A caminho para o cuidado da casa comum – Cinco anos depois da Laudato Si’, é o título de um documento apresentado no Vaticano, com mais de 200 conselhos para um mundo mais amigo do ambiente e do ser humano onde a Santa Sé cita o episcopado português e destaca a ‘Casa Velha’, de 18 de junho de 2020.

A Associação ‘Casa Velha – Ecologia e Espiritualidade’, constituída em 2012, promoveu, com outras organizações, e recebeu o encontro ‘10 anos da Laudato Si’ – celebrar o caminho, animar à ação’, dedicado à encíclica ‘sobre o cuidado da Casa Comum’ do Papa Francisco, publicada em 2015, este sábado, dia 25 de outubro, em Vale Travesso (Ourém).

O Movimento internacional Laudato Si, que também está presente em Portugal, nasceu como Movimento Católico Global pelo Clima, logo em 2015, a Encíclica ‘Laudato Si’ “é fundamental, é a pedra angular”.

“É dali que nós sonhamos. É dali que sonhamos e lançamos todos os desafios no local onde trabalhamos, na nossa vida quotidiana, com aqueles perto de nós, longe de nós e que nos fazem sonhar e caminhar na vida”, explicou Célia Antunes, animadora Laudato Si, de Cascais, no Patriarcado de Lisboa.

Segundo esta entrevistada, cada animador Laudato Si tem como objetivo, no local onde vive, na comunidade, desenvolver “algum projeto, alguma parceria e lançar a semente daquilo que a Laudato Si propõe, desinstala e promove a pensar”, que depois partilham nas reuniões que são local de novas ideias para os outros.

“Já temos muita coisa em parceria, com muitas paróquias de norte a sul. Ultimamente tivemos uma parceria com a CVX – a Comunidade de Vida Cristã, em que a Missa inicial foi uma ‘Missa da Criação’, que foi lindíssima e foi um grande sonho que nós tivemos. Agora vamos lançar um curso de leitores baseado na Laudato Si, portanto, é um grupo muito dinâmico, com muitas estratégias, muitas parcerias, e que está sempre em movimento, como o próprio nome indica”, desenvolveu Célia Antunes.

A animadora Laudato Si lembrou que o movimento em Portugal, no “Tempo da criação’ (1 set a 4 out) promoveram a visualização do filme ‘A Carta’, realizaram atividades na catequese, com os jovens, os pais dos catequisandos tiveram “sessões sobre a Laudato Si e a mudaram hábitos em casa”.

A Laudato Si e a educação também falada, neste encontro dos ‘10 anos da Laudato Si’, e estava presente a Fundação Gonçalo da Silveira, organização não-governamental para o desenvolvimento (ONGD) ligada à Companhia de Jesus (Jesuítas), que no âmbito mais institucional, “tem um eixo de trabalho dedicado à ecologia integral”, que é trabalhada muito a partir dos processos educativos em que se envolvem, “seja com escolas, organizações de sociedade civil e também instituições de ensino superior”.

“E, claramente, cada vez mais, é mais do que um eixo, é uma forma de estar. Olhar para o mundo a partir de uma lente integral, ou seja, desta lente integral que não separa a economia do social, do cultural, do político, acaba por fazer cada vez mais sentido no mundo que temos atualmente, e acaba também por puxar-nos cada vez mais para a construção de pontes, é uma imagem que vamos trazendo muito nos últimos anos, da necessidade de construção de pontes a partir das problemáticas reais, e nomeadamente, as que estão ligadas à construção de uma ecologia integral, de um mundo mais justo, sustentável e equitativo”, disse Sara Borges, à Agência ECCLESIA.

A entrevistada, que na FGS está na área da Educação para o Desenvolvimento e Cidadania Global, explica que, atualmente, no contacto com as escolas podem “não utilizar o nome de Ecologia Integral”, mas falam “muito de desenvolvimento sustentável, e um desenvolvimento integrado”.

“No trabalho com as escolas, para além de projetos em sala de aula, reforçar projetos importantes que nos trazem aqui à ‘Casa Velha’. Por exemplo, utilizamos muito no trabalho que temos feito com as escolas a vinda até à Casa Velha como um espaço de transformação de relações e de construção de relações diferentes, não só entre jovens, entre crianças e jovens, mas também entre jovens e professores, entre os próprios professores, com a própria terra”, exemplificou Sara Borges.

O encontro ‘10 anos da Laudato Si’ – celebrar o caminho, animar à ação’ contou com as intervenções da teóloga e economista Elena Lasida (professora e diretora do mestrado em ‘Economia solidária e lógica de mercado’ no Instituto Católico de Paris) e do jornalista Austen Ivereigh (conhecido como o biógrafo do Papa Francisco), os participantes estiveram em ‘Rodas de escuta: partilha de ecos’, conheceram a ‘Laudato Si’ em ação’, e terminaram com a ‘Oração com a Criação’.

Esta iniciativa na Associação ‘Casa Velha – Ecologia e Espiritualidade’ foi realizada em parceria com a Universidade Católica Portuguesa (UCP), a Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), a Rede Cuidar da Casa Comum, a Companhia de Jesus (Jesuítas) e as Escravas do Sagrado Coração de Jesus.

CB/PR

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Margarida Monteiro, conhecida como irmã Margarida das ‘Nascentes de Luz’, na Maceira de Leiria, a 25 quilómetros de Fátima, esteve na Congregação das Irmãs de São José de Cluny, durante 40 anos, até que sentiu que “o projeto de Deus era fora do convento, que trouxesse cá para fora o bem e o bom que tinha encontrado lá dentro”.

A ‘Nascentes de Luz’ é uma Associação de Apoio à Família, sem fins lucrativos, que existe desde 2010, nasceu no “quintal do avô” de Margarida Monteiro onde praticam “a permacultura, a agricultura biológica, a agricultura regenerativa”, num “cuidar da natureza, cuidar das pessoas e partilhar saberes e recursos”.

“As pessoas ao irem lá, quer nos trabalhos que realizam, quer no estarem somente, estarem ali connosco, em tudo o que fizerem possam ir tomando consciência de que dentro delas há algo de muito bom e muito belo. Em concreto, eu diria que nós queremos ajudar, porque descobrimos também, que cada pessoa encontre ou vá tomando consciência de quatro grandes questões existenciais – Quem sou? De onde vim? Para que vim? Para onde vou? – sentimos que isto é importante na vida das pessoas porque para mim foi muito”, explicou a entrevistada.

Segundo Margarida Monteiro, quando a encíclica Laudato Si foi publicada, cinco anos após o nascimento das ‘Nascentes de Luz’, teve “uma importância grande” porque sentiram “uma concordância” entre “aquilo que as habita por dentro, entre aquilo que trouxe do convento e aquilo que o Papa Francisco pede”, neste caso, “está relacionado com o cuidar da terra”.

“Quando veio a Laudato Si, comprei, li e fiquei espantada, e muito, e vibrei, saltei de alegria por dentro; peguei na Laudato Si e no projeto e fui ver, e sublinhei o que já tínhamos lá. Isso a mim dá-me um gosto muito grande porque é isso que eu me sinto chamada, é a minha missão, é a minha vocação, é ajudar as pessoas a descobrirem primeiro quem são, esta riqueza que nós somos, é ajudar a descobrir as nascentes, riquezas profundas que cada pessoa é e que guarda dentro de si para que elas brotem”, desenvolveu.

Ao “quintal do avô” de Margarida Monteiro as pessoas podem ir por diversas razões e fazer muitas coisas, como “um workshop, uma sessão, uns dias a aprender a trabalhar na terra”, estarem simplesmente para descansar, neste espaço que “é ainda pequenino” podem receber pessoas individuais, famílias, neste semana, receberam “um grupo de jovens africanos refugiados, a religião deles é muçulmana”, mas fizeram “algumas vezes oração” em conjunto, uns com o Corão, outros com a Bíblia, e “são experiências muito lindas”, num “espaço aberto a todos”.

A irmã Margarida das ‘Nascentes de Luz’ está neste local com a irmã Eduarda, que também era religiosa de São José de Cluny, “e sentiu-se identificada com este projeto”, com muitos voluntários

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