«Laudato si»: Contributo do cristianismo para a «forma religiosa de defender» a ecologia

Teóloga Isabel Varanda considera o tempo presente de «urgência ecológica»

Braga, 17 jun 2015 (Ecclesia) – A teóloga Isabel Varanda, docente da Universidade Católica Portuguesa (UCP), sustenta que a nova encíclica do Papa surge num contexto de “despertar em sobressalto de uma consciência ecológica planetária”, elogiando a “originalidade do contributo do cristianismo”.

“O cristianismo pode e deve dizer à modernidade que ‘há uma forma religiosa de defender a causa ecológica’, oferecendo um contributo original e singular. Pode e deve ajudar a trazer à luz instâncias que façam autoridade e contribuir para o estabelecimento de um referencial que, no processo de validação, sobreviva ao imperativo da legibilidade antropológica”, escreve.

Num texto enviado à Agência ECCLESIA, Isabel Varanda considera ainda que o cristianismo pode encontrar uma “figura ecológica” de presença no mundo que vai permitir desempenhar outro papel “na aliança dos saberes, no concerto democrático, e na construção de um mundo de paz e justiça para toda a criação”.

“Não se trata, em rigor, de uma ecologia cristã mas, de um modo cristão, um ‘estilo’ cristão de habitar o mundo, uma ‘arte cristã’ de bem viver com a natureza”, esclarece.

Para a especialista, “o tempo presente é de urgência ecológica” e considera que o processo de desenvolvimento de uma “cultura ecológica ambiental e de uma cultura ecológica humana” pode encontrar no léxico religioso cristão e na teologia católica “semânticas inspiradoras” com destaque para os conceitos de “aliança, conversão e vida nova”.

Nesse sentido, adianta que é precisa uma cultura adjetivada pelo “novo”, por novas cosmovisões e por novos estilos de vida e o conceito cristão de “vida nova é fecundo a este nível”.

“Vida nova é mais e é diferente de salvaguarda. A salvaguarda tem de reencontrar a dimensão reparadora, terapêutica, restabelecedora da saúde, e tal já não é possível sem vida nova e não há vida nova sem conversão”, desenvolve a docente do núcleo de Braga da Faculdade de Teologia da UCP.

“A vida nova nasce da decisão de criar e de recriar; da atitude de criação que se revela um conceito democrático”, adverte, adiantando que a noção teológica de conversão “assume sentido na relação com todas as criaturas”.

No artigo de opinião, incentiva ao “cultivo bondoso, cuidadoso e responsável” e frisa que “importa recuperar” a noção sadia de aliança que vai além “do pacto e do protocolo”; a noção de “vida e morte” para além da sua dimensão biológica e física e a “dimensão de criaturalidade”.

Segundo Isabel Varanda, o anúncio da publicação da encíclica há já algum tempo que “vem criando bulício e forte expectativa” com inúmeras perguntas, que surgiam em variados contextos.

Mais do que o assunto o que “mobiliza” a atenção do mundo é a palavra escrita do Papa Francisco: “Fresca, livre, profética, luminosa, próxima, acolhedora e que fala sempre a alguém.”

Laudato si, sobre o cuidado da casa comum’ é o título da encíclica que vai ser lançada esta quinta-feira às 12h00 (11h00 em Lisboa) no Vaticano.

A encíclica é o grau máximo das cartas que um Papa escreve; entre os principais documentos do atual pontificado estão a encíclica ‘Lumen Fidei’ (A luz da Fé), que recolhe reflexões de Bento XVI, e a exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’ (A alegria do Evangelho).

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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