Nova exortação convoca «mudança generalizada de estilo de vida irresponsável»
Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Cidade do Vaticano, 04 out 2023 (Ecclesia) – O Papa denuncia na sua nova exortação, divulgada hoje, o que denomina como “paradigma tecnocrático”, que coloca na base da “degradação ambiental”.
“Os recursos naturais necessários para a tecnologia, como o lítio, o silício e tantos outros não são certamente ilimitados, mas o problema maior é a ideologia que está na base duma obsessão: aumentar para além de toda a imaginação o poder do homem, para o qual a realidade não humana é um mero recurso ao seu serviço”, aponta Francisco, na ‘Laudate Deum’ (Louvai a Deus), sobre o tema da ecologia integral, que visa dar continuidade à reflexão da encíclica ‘Laudato Si’ (2015).
O documento alerta para avanços tecnológicos e da inteligência artificial se baseiam na “ideia dum ser humano sem limites”, observando que “nem todo o aumento de poder é um progresso para a humanidade”.
“É preciso lucidez e honestidade para reconhecer a tempo que o nosso poder e o progresso que geramos estão a virar-se contra nós mesmos”, adverte.
Não é de estranhar que um poder tamanho em tais mãos seja capaz de destruir a vida, já que a matriz de pensamento própria do paradigma tecnocrático nos cega, não nos permitindo ver este gravíssimo problema da humanidade atual”.
O Papa propõe como alternativa ao paradigma tecnocrático a ideia de que o mundo “não é um objeto de exploração, utilização desenfreada, ambição sem limites”, convidando a aprender com as culturas indígenas.
“O paradigma tecnocrático destruiu esta relação saudável e harmoniosa”, advertiu.
A nova exortação aponta o dedo ao “marketing” e à “informação falsa” que rodeiam algumas intervenções com impacto negativo no ambiente.
“Foi precisamente a soma de muitos danos considerados toleráveis que acabou por nos levar à situação em que nos encontramos agora”, assinala.
A lógica do máximo lucro ao menor custo, disfarçada de racionalidade, progresso e promessas ilusórias, torna impossível qualquer preocupação sincera com a casa comum e qualquer cuidado pela promoção dos descartados da sociedade”.
A ‘Laudate Deum’ contesta “ideias erradas” sobre a chamada “meritocracia”, que o Papa coloca ao serviço do “domínio daqueles que nasceram com melhores condições de progresso”.
Francisco convida a criar uma “nova cultura”, com “uma mudança generalizada do estilo de vida irresponsável, ligado ao modelo ocidental”.
“O simples facto de mudar os hábitos pessoais, familiares e comunitários alimenta a preocupação pelas responsabilidades não cumpridas pelos setores políticos e a indignação contra o desinteresse dos poderosos”, acrescenta.
O texto é publicado a 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, santo que inspira o nome da exortação, e aponta à COP28, no Dubai.
OC
«Laudate Deum»: Francisco alerta para «ponto de rutura» na crise ambiental