D. António Couto realça um território completamente abandonado que precisa de medidas a sério
Lisboa, 04 jul 2019 (Ecclesia) – O bispo de Lamego analisou a realidade da Diocese de Lamego e do interior português e realçou a falta de medidas visíveis, por parte do Governo, para o desenvolvimento deste território e das suas populações.
Em entrevista à Renascença, D. António Couto remete a busca de soluções para a “política nacional”, que “tem de olhar a sério para este interior”, onde faltam muitas coisas básicas, como boas acessibilidades.
Para ilustrar esta problemática, o responsável destaca o trabalho pastoral com os mais idosos e doentes que, em vários pontos desta região, enfrenta diversos obstáculos.
“Nós andamos por quelhos com água até aos joelhos, e silvas e outras coisas, para depois podermos chegar aos velhinhos que temos aí. Ninguém sabe disto, sei eu, sabem alguns párocos e depois as pessoas que fazem isto, e para lá chegar é um tormento”, aponta D. António Couto.
Quando está em causa atender a 223 paróquias, num território que vai desde Cinfães a Vila Nova de Foz Côa, e contando com cerca de 90 sacerdotes, só concretizar este trabalho de atendimento humano implica quase um milagre, “não é para qualquer um”, frisa o bispo.
“Há velhinhos acamados aqui que, se precisarem de ser assistidos não estou a ver como é que poderão ser, porque nenhuma ambulância lá vai”, lamenta.
Em 2016 o Governo anunciou uma Unidade de Missão para a Valorização do Interior, que elaborou um relatório do Programa Nacional de Coesão Territorial com 155 medidas.
No entanto, de acordo com o bispo de Lamego, em três anos pouco ou nada passou do papel para o terreno.
“Não vejo absolutamente nada, de momento se formos ver assim se alguma coisa foi feita, se alguma estrutura foi criada, em qualquer nível, temos que dizer não, claramente não”, realça D. António Couto, que chama à responsabilidade o Governo, a “grande política”, que “não está a olhar devidamente para o interior”.
Algo que depois se repercute também na “política local, que depois também não pode fazer grande coisa, estão de mãos atadas”, acrescenta o mesmo responsável.
No último ano, a Diocese de Lamego deu início a um plano pastoral de três anos voltado para a área vocacional, de revitalização da comunidade católica na região, mas também para a vertente missionária, que contemple uma maior “proximidade” à realidade e às problemáticas das pessoas.
“São três anos em que peço a todos os diocesanos o máximo empenho e dedicação. Muito brio é necessário. Muito amor também”, dizia D. António Couto na carta pastoral ‘Anunciar o Evangelho é a vocação própria da Igreja’.
Na entrevista à Renascença, o bispo de Lamego recordou o desafio da desertificação que atinge o interior português, e também o território que abraçou há sete anos.
“A população diminui drasticamente. Se, em 2015, tínhamos 130 mil habitantes, penso que desde então já perdemos uns 10 mil”, alerta D. António Couto.
JCP