Karol Wojtyla – o homem que veio de longe

João Paulo II faz hoje 84 anos Karol Wojtyla nasceu no dia 18 de Maio de 1920 em Wadowice, no sul da Polónia, filho de Karol Wojtyla, um militar do exército austro-húngaro, e Emília Kaczorowsky, uma jovem de origem lituana. Aos 9 anos de idade recebeu um duro golpe, o falecimento de sua mãe ao dar à luz a uma menina que morreu antes de nascer. Três anos mais tarde faleceu o seu irmão Edmund, com 26 anos, e em 1941 morre o seu pai. Em 1938 foi admitido na Universidade Jagieloniana, onde estudou poesia e drama. Durante a II Guerra Mundial (1939- 1945) esteve numa mina em Zakrzowek, trabalho na fábrica Solvay e manteve uma intensa actividade ligada ao teatro, antes de começar clandestinamente o curso de seminarista. Durante estes anos teve que viver oculto, junto com outros seminaristas, que foram acolhidos pelo Cardeal de Cracóvia. Segundo relata o actual Pontífice, estas experiências ajudaram-no a conhecer de perto o cansaço físico, assim como a simplicidade, a sensatez e o fervor religioso dos trabalhadores e pobres. As marcas no seu corpo começam a aparecer quando em Fevereiro de 1944 é atropelado por um camião alemão e é hospitalizado. Ordenado sacerdote em 1946, vai completar o curso universitário no Instituto Angelicum de Roma e doutora- se em teologia na Universidade Católica de Lublin, onde foi professor de ética. A forma filosófica, que integrava os métodos e perspectivas de fenomenologia na filosofia Tomistica, de gerir as questões que se lhe apresentavam no dia a dia, estão relacionadas com a sua “devoção” ao pensador Alemão Mas Scheler. No dia 23 de Setembro de 1958 foi consagrado Bispo Auxiliar do administrador apostólico de Cracóvia, D. Baziak, convertendo-se no membro mais jovem do episcopado polaco. Participou no Concílio Vaticano II, onde colaborou activamente, de maneira especial, nas comissões responsáveis na elaboração da Constituição Dogmática Lumen Gentium e a Constituição conciliar Gaudium et Spes. Durante estes anos o então Bispo Wojtyla combinava a produção teológica com um intenso labor apostólico, especialmente com os jovens, com os quais compartilhava tantos momentos de reflexão e oração como espaços de distracção e aventura ao ar livre. No dia 13 de Janeiro de 1964 faleceu D. Baziak e Wojtyla sucedeu-lhe na sede de Cracóvia como titular. Dois anos depois, o Papa Paulo VI converte Cracóvia em Arquidiocese. Durante este período como Arcebispo, o futuro Papa caracterizou-se pela integração dos leigos nas tarefas pastorais, pela promoção do apostolado juvenil e vocacional, pela construção de templos apesar da forte oposição do regime comunista, pela promoção humana e formação religiosa dos operários e também pelo estímulo ao pensamento e publicações católicas. Representou igualmente a Polónia em cinco sínodos internacionais de bispos entre 1967 e 1977. Em Maio de 1967, aos 47 anos, o arcebispo Wojtyla foi criado Cardeal pelo Papa Paulo VI. Em 1978 morre o Papa Paulo VI, e é eleito como novo Papa o Cardeal Albino Luciani de 65 anos que tomou o nome de João Paulo I. O “Papa do Sorriso”, entretanto, falece 33 dias após a sua nomeação e no dia 15 de Outubro de 1978, o Cardeal Karol Wojtyla é eleito como novo Papa, o primeiro papa não-italiano desde 1522, ano da eleição do holandês Adriano VI. Assinalando o aniversário natalício do Papa, é hoje publicado um livro de memórias do seu tempo de padre e bispo na Polónia. O livro tem o título “Levantai-vos, vamos”, uma referência ao episódio bíblico em que Jesus é denunciado para ser preso e chama os discípulos que se tinham deixado dormir. No texto, de acordo com resumos adiantados pelas agências, o Papa diz que o celibato dos padres é “uma tradição muito exigente” e “muito fecunda”. Rejeitando o argumento da solidão que se impõe aos padres e bispos por causa do celibato, o Papa diz que, pessoalmente, nunca se sentiu só. O Papa evoca ainda a sua paixão pelo canto e pelo esqui. E explica o seu sucesso com as multidões, pela decisão de nunca ter considerado “excessivo” o número dos seus encontros com as pessoas. Em cada uma das audiências públicas, por exemplo, João Paulo II aceitava (agora, a saúde débil já não o permite tanto) que dezenas, ou mesmo centenas de pessoas o saudassem pessoalmente. Hoje mesmo, é também posto à venda em Portugal o anterior livro escrito por João Paulo II, o “Tríptico Romano”, um conjunto de meditações em forma de poema. Recordes e curiosidades do Pontificado de João Paulo II Os 25 anos de Pontificado de João Paulo II estão marcados por números surpreendentes e muitas “primeiras vezes” históricas: – Na sua infância os seus amigos tratavam-no por “Lolek” e alguns familiares e amigos íntimos ainda usam esse diminutivo. – Foi um jovem que demonstrou grande interesse pelo teatro e literatura polaca. – Trabalhou duramente numa pedreira. – Além de ter sido o primeiro Papa polaco, foi o primeiro oriundo de uma país comunista – numa altura em que ainda existia a “cortina de ferro” na Europa. – Quando gozou de boa saúde foi praticante de esqui, montanhismo e remo. – É o primeiro Papa a repetir nomes dos seus dois imediatos predecessores. – É o único Papa a ter sido atingido a tiro na rua. – É o único pontífice católico que deu entrada num hospital público até hoje. – Segundo uma sondagem nos EUA, o que mais cativa na sua figura é o sorriso, a devoção mariana, o domínio de várias línguas e o seu amor às crianças e aos pobres. – João Paulo II ocupou o primeiro lugar numa sondagem que pedia a alunos do secundário de Portugal, Espanha e América Latina para indicarem “a pessoa que mais admiram”. – No Natal costuma oferecer aos amigos, cardeais e todos os trabalhadores no Vaticano uma garrafa de vinho e um pão doce de limão com passas. – Vai confessar em todas as Sextas-feiras Santas na Basílica de São Pedro. Baptiza na sua capela privada os filhos dos seus amigos ou dos seus mais modestos colaboradores. Já casou um serralheiro com uma mecanógrafa. – Em Março de 2003 o Vaticano apresentou o sexto livro de poemas místicos escritos pelo Papa, o “Tríptico Romano”. – Realizou três exorcismos durante o Pontificado, sendo o mais conhecido o realizado a uma jovem, em 1982, que se mostrou muito agitada durante a audiência geral. – No dia 13 de Abril de 1986 realizou um gesto histórico ao visitar a sinagoga de Roma. – Pediu perdão pelas faltas humanas cometidas pela Igreja Católica numa intervenção a 12 de Março de 2000, ano do Jubileu. – É o primeiro Papa a ter rezado numa Mesquita, na Síria, um gesto que muitos sectores mais conservadores não receberam de bom grado. – Em Maio de 2002 reuniu-se na Praça de São Pedro com centenas de antigas prostitutas, durante a audiência geral. – Nesse mesmo mês, depois do encontro ecuménico de oração em Assis, enviou uma mensagem aos chefes de Estado convidando-os a adoptar 10 compromissos pela paz mundial. – Recebeu no Vaticano uma delegação oficial da Igreja Ortodoxa Grega, a primeira desde o cisma de 1054. – Em Agosto de 2002 celebrou uma Missa em Cracóvia que reuniu 2 milhões de fiéis, a maior de toda a história. – No dia 14 de Novembro de 2002 visitou o parlamento italiano, algo que o Papa não fazia há 150 anos. O seu discurso foi tão eloquente que o mafioso Benedetto Marciante, capo de la Cosa Nostra, se entregou à polícia romana. – Os pensamentos do Papa já estão disponíveis por SMS em três países. – Em Junho de 2003 completou as 100 viagens apostólicas, na Croácia. – Uma montanha do Polo Sul tem o nome do Papa João Paulo II, como homenagem aos seus 25 anos de Pontificado. – João Paulo II tem o 3º maior Pontificado da historia – Percorreu mais de um milhão e 300 mil quilómetros, o que representa quase 29 vezes a volta à Terra e quase três vezes a distância entre a Terra e a Lua. – Celebrou mais de mil audiências gerais semanais, e recebeu cerca de 17 milhões de fiéis de todo o mundo.

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