Juventude sem medo

D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga O Dia Diocese da Juventude não pode resumir-se a eventos ocasionais. Tudo convida à interiorização de determinados compromissos a viver no seio da Igreja para a edificação duma sociedade justa e com futuro, colocando como pano de fundo a mensagem do Santo Padre para o Dia Mundial da Juventude. 1 – A Pastoral Juvenil orienta-se, em primeiro lugar e acima de tudo, para um encontro com Cristo que garante que a vida será construída a partir da Sua Palavra. Este é o programa para todos os grupos e as estratégias ou actividades devem partir ou chegar a esta coragem de tornar a vida Palavra. Temos insistido e recordado muitas vezes no itinerário seguido pelas comunidades cristãs, como “método” de compreensão global da existência cristã, a Lectio Divina. Não tenhais medo de o assumir. Deixai outros programas. As reuniões e as actividades devem comunicar coragem para vos tornados apóstolos, não de discursos bem elaborados e segundo as melhores tecnologias, mas homens e mulheres “enraizados” na mesma palavra que irá responder aos desafios da humanidade para que o Evangelho se difunda. 2 – Este amor a Cristo, concretizado na Evangelização da vida, terá de vos conduzir a um amor apaixonado pela Igreja. Vós tendes necessidade dela e ela precisa de vós. Este amor tem uma exigência inequívoca: Amar é seguir a Igreja. Nem sempre há coragem de conjugar estes dois amores. Muitos confundem a Igreja com uma estrutura de poder material e histórico. Sede intérpretes duma imagem de Igreja como Sacramento de Salvação, ou seja, sinal que se vê pelas obras de libertação que vai realizando através dum amor gratuito à humanidade. Quando concebermos uma Igreja-serva e o vivenciarmos, o mundo acreditará e quererá seguir a sua doutrina como caminho de felicidade. Tantas vezes somos reféns das ideologias e das modas. O cristão distingue-se pelo serviço. 3 – O amor a Cristo espera uma resposta na Igreja. Daí que se torna fundamental fazer com que os grupos de jovens sejam verdadeiras escolas vocacionais. Penetrar no dinamismo do amor a Cristo e à Igreja é sinónimo deste deixar-se interpelar para discernir a vocação como projecto de alegria. Duas realidades podem acontecer. 1- “Se Jesus vos chama não tenhais medo de responder-Lhe com generosidade, especialmente quando vos propõe segui-Lo na vida consagrada ou na vida sacerdotal. Não tenhais medo; fiai-vos n’Ele e não ficareis desiludidos.” Neste contexto, quero dar graças a Deus por jovens, já amadurecidos na idade, com cursos concluídos e profissões a augurar um futuro de sucesso, a manifestarem a vontade de aderir a uma vocação de especial consagração. Mas, quando me lembro dos nossos grupos de jovens e dos movimentos fico sempre insatisfeito. Volto a repetir: a Igreja tem necessidade de jovens para contribuir para um mundo diferente. 2 – A vocação pode, também, encaminhar-se para o matrimónio. Sabeis que estamos a trabalhar a família e o grande objectivo do nosso Plano é que a Arquidiocese de Braga suscite esta consciência de que o casamento deve ser caminho de santidade e, para isso, o casal deve assumir o seu viver e conviver como uma vocação. Há um projecto divino. Sei que muitos me podem considerar antiquado. Caríssimos jovens, teremos de recuperar e dar dignidade ao matrimónio e, para isso, o período de namoro não pode ser encarado como passatempo ou diversão. As causas nobres exigem concentração no essencial. Se antes dizia e pedia que não tivésseis medo de seguir a vocação sacerdotal ou religiosa, agora ouso proclamar que não podemos tolerar a vergonha com que jovens cristãos se deixam imbuir, tendo receio de mostrar um namoro diferente. Urge manifestar uma preparação para o casamento com outros objectivos e finalidades. Encarai com seriedade e verdade este momento. A superficialidade nunca gerará casais felizes e com um projecto de vida cristã. 3 – Para caracterizar esta pastoral juvenil com a marca da vocação, recordo uma frase de João Paulo II que o actual Santo Padre colocou na sua mensagem. Urge “libertar a liberdade” veritatis splendor (n. 86). Nunca se falou tanto de liberdade interpretando-a em diversos contornos. Creio que nunca, como hoje, se viveu tão pouco a liberdade. Seria conveniente ouvir a voz da consciência na resposta que nos daria se somos verdadeiramente livres quanto às coisas, às pessoas, às modas, às ideologias, ao ambiente. Tenho a certeza absoluta da existência duma verdadeira escravatura em tantos domínios. Seria mais importante falar menos da liberdade e viver sem prisões subtis que enganam e defraudam as expectativas. Só Cristo nos torna livres para acolher o mundo numa atitude de amor e diálogo. Rezemos para que em todas as paróquias tenhamos grupos de jovens apaixonados por Cristo, pela Igreja e pelo anúncio da palavra libertadora que é o Evangelho e a doutrina da Igreja. + D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz

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