Justiça: «Talvez nada de tão individual como a objeção de consciência consiga ter uma dimensão tão abrangente», diz cónego Mário Martins

Diocese de Aveiro acolheu Encontro Anual dos Tribunais Eclesiásticos da Província Eclesiástica de Braga

Encontro Anual dos Tribunais Eclesiásticos da Província Eclesiástica de Braga
Foto: Arquidiocese de Braga

Aveiro, 05 jun 2025 (Ecclesia) – O vigário judicial do Tribunal Eclesiástico Metropolitano de Braga afirmou esta quarta-feira, no Seminário de Santa Joana (Aveiro), que “talvez nada de tão individual como a objeção de consciência consiga ter uma dimensão tão abrangente”.

“O argumento é sensível, particularmente pelo facto de uma deliberação de ordem pessoal e subjetiva acabar por atingir a ordem pública e social, comunitária e institucional”, referiu o cónego Mário Martins, no Encontro Anual dos Tribunais da Província de Braga.

Moderadores, vigários judiciais, juízes, auditores, notários, defensores do vínculo, promotores de justiça e patronos estáveis reuniram-se em torno da objeção de consciência no encontro anual dos Tribunais da Província Eclesiástica de Braga, constituída pelas Dioceses de Braga, Viana do Castelo, Vila Real, Bragança, Lamego, Porto, Aveiro, Viseu e Coimbra.

O cónego Mário Martins salientou que se, por um lado, a objeção de consciência “significa a recusa, por parte de um indivíduo ou de um grupo, de um dever de direito público, por outro, representa também o testemunho de um valor considerado superior”.

“E neste ponto, surge a questão se se deve obedecer antes à lei positiva ou à lei moral”, referiu.

O vigário judicial realçou que “no âmbito eclesial e jurídico-canónico sempre foi consagrada a liberdade de espírito crítico perante uma lei positiva em relação ao Evangelho”.

No encontro, Rita Lobo Xavier, da Universidade Católica Portuguesa do Porto, foi uma das intervenientes e teve o intuito de reforçar “que cada um reconheça este direito à objeção de consciência e à liberdade de consciência”.

“A objeção de consciência é um direito pessoal, mais do que institucional, que muitas vezes se confronta com conflitos de liberdades pessoais”, salientou.

A este respeito, segundo Rita Lobo Xavier, impõe-se a “presunção da lei justa, o cuidado das maiorias parlamentares e da dualidade ou mesmo multiplicidade ética/moral dos representantes do povo”, apontando algumas questões atuais, como a objeção ao serviço militar, à realização do aborto, ao auxílio ao suicídio, às vacinas, à dissecação animal, a prestar juramento, a trabalhar em determinados dias da semana, entre outros.

A professora da UCP do Porto concluiu que a objeção de consciência mais do que um exercício de um direito é um exercício de um dever, pelas seguintes razões: a objeção de consciência parte da liberdade de consciências; a consciência não ‘cria normas’, não ‘é’ norma de comportamento; expressa o juízo (prático) da consciência.

O bispo de Aveiro, D. António Moiteiro, marcou presença no encontro, ressaltando “o importante papel que os Tribunais desempenham na Igreja e na administração da justiça, ajudando cada um a encontrar-se consigo e a com a sua consciência”.

O responsável católico reforçou “a necessidade destes Encontros de formação e partilha comuns entre os Tribunais da mesma Província Eclesiástica, como sinal de uma Igreja” que se quer “mais sinodal e empenhada com a justiça”.

O encontro finalizou com a visita ao Museu da Fábrica da Vista Alegre.

LJ/OC

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