José Luís Nunes Martins
A nossa sociedade parece movida em torno do consumismo. Acredita-se na lógica do consumo: começa-se com a aquisição para depois apenas explorar até à exaustão o que temos. Esta exaustão pode não ser a do objeto; por vezes somos nós que ficamos saturados, demasiado rápido.
Compra-se, usa-se e abandona-se. Afinal não temos mãos para tudo e há sempre tantas coisas que ainda não temos…
O corpo é visto como um acessório de que se pode dispor em vista do que se julga ser a liberdade. Pode usar-se sem restrições, afinal é coisa nossa… uns veneram-no como se fosse o que não é, outros desrespeitam-no como se não fosse muito valioso.
Chamados a completar a criação de nós mesmos, somos responsáveis pelo que escolhemos pensar e sonhar, sentir e consentir, dizer e calar, o que fazer e como o fazer.
O dom da vida é esta enorme responsabilidade de o valorizarmos.
São hoje muitos os que se julgam heróis dignos de lhes prestarmos culto. Egoístas e arrogantes, tornam-se cegos à realidade tal como ela é. A humildade podia curá-los, mas não querem, preferem ser escravos dos seus impulsos irracionais.
Prudência, bom senso e comedimento não são virtudes que reconheçam. Julgam-se senhores de si, do mundo e dos outros.
O pior de tudo isto é que o mal nunca é declarado nem evidente. A maldade é fina e astuta ao ponto de começar por iludir quem pretende fazer seu escravo.
Todos temos momentos de egoísmo e arrogância, todos nos devíamos empenhar em nos livrarmos deles a fim de não nos consumirem.
É um erro grave querer ir para lá da medida própria de cada coisa. Cada homem deve empenhar-se em saber quem é, conhecer os seus limites e as suas possibilidades. Aceitar a sua vida de forma autêntica, sem se deixar dominar pelas tentações da insolência, das faltas de moderação e dos instintos.
De cada vez que alguém concreto decide pôr fim à vida de outro alguém concreto, isso é passar o limite. É uma violência imbecil de um poderoso sobre alguém que está fraco, julgando-se chamado a ser igual ou até superior ao divino.
Quem faz o mal apresenta sempre boas razões para o fazer.
A arrogância louca é sinal de inevitável tragédia.