D. Manuel Pelino, bispo emérito de Santarém
Ocorre em 2025 um ano jubilar. De 25 em 25 anos, a Igreja celebra o jubileu do nascimento de Jesus e da boa nova que Ele nos trouxe e que a Igreja continua. No mesmo período de anos, celebram as instituições eclesiais e humanas os seus percursos históricos como reencontro com as suas raízes, ação de graças pelos frutos e esperança de futuro. É o caso da nossa diocese de Santarém que celebra 50 anos da sua criação. Já no Antigo Testamento, se celebrava o Jubileu de 50 em 50 anos, como um ano de libertação: libertação dos escravos, das dívidas pelo perdão, dos pecados, da exploração dos terrenos que nesse ano não se cultivavam. No início do Novo Testamento, Jesus apresentou-se na sinagoga da sua aldeia de Nazaré, como ungido pelo Espírito Santo para inaugurar o “Ano da Graça”, ou “Ano Jubilar”, como um tempo novo de libertação profunda das alienações e da promoção da igual dignidade de todos os seres humanos: uma boa nova para os pobres e incapacitados social e espiritualmente (cegos, cativos, oprimidos) (Lc 4, 18-20). Deste modo, tanto no Antigo Testamento como no Novo, Jubileu é um ano de renovação e de alegria que fortalece a identidade e proporciona nova riqueza e vigor à missão da igreja.
É esta a perspetiva com que devemos viver o Jubileu da Igreja Universal e da nossa diocese de Santarém. Para isso, precisamos de celebrações, peregrinações e, igualmente, de um percurso de formação e de enriquecimento espiritual. Não devemos limitar-nos a celebrações pontuais, multitudinárias e exteriores, mas cuidar igualmente da renovação espiritual e humana que alicerce um futuro revitalizado. Com esta preocupação, a comissão diocesana do Jubileu presidida por Dom José, pediu-me para elaborar algumas catequeses para a formação de adultos. Aceitei de bom grado por estar convencido que são fundamentais num percurso de solidificação da fé e também porque sempre me tenho dedicado a esta área da missão da Igreja.
Como fontes de inspiração adotei em primeiro lugar a bula do Papa Francisco para o Jubileu com o título “A esperança não engana”. Apresenta a esperança como um caminho a fazer, associado à experiência da peregrinação a um lugar santo. Fortemente interligada à fé e à caridade, a esperança é uma das três virtudes que identifica o cristão. O discípulo de Cristo é orientado pela fé, animado pela esperança, dedicado à caridade. Ora no momento atual a esperança apresenta-se debilitada pela incerteza do futuro escurecido pelas guerras, pela mentira, pelo individualismo, tribalismo e partidarismo. Parece notar-se um recuo do diálogo e da solidariedade entre as pessoas e entre os povos. O domínio da economia tem levado a uma crise de humanismo.
Como cultivar e fortalecer a esperança cristã que não engana? Fortalecendo a fé na ressurreição de Jesus Cristo e o acolhimento do Espírito Santo. Ora todos os domingos celebramos a ressurreição do Senhor e, ao longo do ano litúrgico, vamos descobrindo a riqueza, a solidez e a sabedoria dos mistérios de Jesus que culminam na ressurreição e na vinda do Espírito Santo. Por isso, orientei as catequeses para a vivência dos tempos fortes do ano litúrgico (Advento, Natal, Páscoa, Epifania, Quaresma, Páscoa, Pentecostes, Ano Comum e veneração da Mãe de Deus). Conhecimento, oração, partilha estão presentes em cada encontro. Levantemo-nos então e caminhemos.