D. Manuel Pelino, bispo emérito de Santarém
Vamos comemorar em 2025 um Jubileu da Igreja Universal. Coincide no nosso país com os 50 da criação das dioceses de Santarém e de Setúbal (1975). As novas dioceses, estas duas e a de Viana do Castelo (1977) germinam no espírito do Concílio Vaticano II (1965), considerado um Pentecostes para o nosso tempo. Temos assim a comemoração de vários acontecimentos eclesiais que nos desafiam a uma renovação pastoral na linha do Concílio Vaticano II. Tendo presente as recomendações atuais do Magistério, destaco três linhas prioritárias de renovação: a orientação missionária da ação da Igreja; a comunhão e participação de todos os fiéis, progredindo no estilo sinodal; e, como preocupação fundamental que inspira as outras, o testemunho da esperança num tempo receoso do futuro.
Há sessenta anos, no discurso de inauguração do Concílio Vaticano II, o Papa São João XXIII declarou que o objetivo daquela assembleia da igreja era adquirir novas forças, de forma a olhar o futuro sem medo. Nos vários documentos que promulgou, designadamente na Constituição “Gaudium et Spes”, (“Alegria e Esperança”) (GS), esclarece que a igreja está ao serviço do reino de Deus, não da sua própria grandeza, e o reino terá a sua plenitude nos novos céus e na nova terra. Ora o reino de Deus cresce no mundo com a força do Espírito Santo, mas igualmente com a nossa colaboração de membros da igreja. Assim, alicerçados na esperança do reino futuro, somos chamados a construir a justiça, a paz e a fraternidade como fermento de um mundo transformado. Por isso, a igreja, fiel às suas raízes, deve apresentar-se claramente orientada para o futuro e colaborar com o Espírito Santo na sua construção. Com a nossa colaboração, o Espírito de Deus renova o coração de cada um e a face da terra, transforma o mundo, ajuda a criar um futuro de esperança, em resposta a uma cultura diferente que hoje vivemos
O Papa Francisco, na Bula de proclamação do Jubileu, apresenta este evento como ocasião de reanimar a esperança. Afirma que a esperança mora no coração de todas as pessoas e desperta a expetativa de um futuro melhor. Todos experimentamos esse sonho, mesmo que ignoremos a forma de lá chegar. A Palavra de Deus, esclarece o Papa, ajuda-nos a descobrir as razões e o caminho para cultivar a esperança. A principal razão é o amor que Deus nos consagra, como afirma a carta aos romanos: “a esperança não engana porque o amor de Deus foi derramado em nosso coração pelo Espírito Santo”. Esta convicção dá o tom e o título à referida Bula Pontifícia: “A esperança não engana”. Portanto, crescemos na esperança, quando crescemos no amor de Cristo. Este crescimento é animado pelo Espírito Santo. Sendo assim, o Papa Francisco indica, como preocupação capital do Jubileu, o encontro pessoal com Cristo vivo e a abertura à ação do Espírito Santo.
Sem esperança, a vida não tem horizontes nem gosto. Juntamente com a fé e a caridade, a esperança é um dos pilares da vida cristã. Dizia o poeta Péguy que a esperança vai no meio da fé e da caridade, suas irmãs inseparáveis, como se fosse uma menina que precisasse de dar a mão e apoiar-se nas duas irmãs mais velhas. No entanto, é a esperança que faz andar as outras duas e puxa por elas. E que nos faz caminhar a todos. Procuremos, pois, as razões para viver e testemunhar a esperança.